Aty Guasu reafirma o caminho da luta e exige que MPI e Funai abandonem negociações do ‘marco temporal’

Reunião extraordinária da Aty guasu foi realizada no MS. Indígenas também exigiram punição aos latifundiários criminosos.

Aty Guasu reafirma o caminho da luta e exige que MPI e Funai abandonem negociações do ‘marco temporal’

Reunião extraordinária da Aty guasu foi realizada no MS. Indígenas também exigiram punição aos latifundiários criminosos.

Entre os dias 16 e 22 de março, ocorreu a Reunião Extraordinária da Aty Gasu, organização do povo Guarani-Kaiowá. Foi realizada na retomada Itay Ka’aguy Rusu, na cidade de Douradina, em Mato Grosso do Sul (MS). 

Além de lideranças, nhandesys, jovens guerreiros e crianças, indígenas de variadas etnias do país vieram para estreitar os laços de solidariedade da luta indígena do MS. A escolha pela cidade de Douradina como sede da Reunião Extraordinária da Aty Guasu não foi ao acaso, já que é resultado da tomada de posição dos Guarani-Kaiowás e articulação com apoiadores locais e nacionais na Terra Indígena Panambi Lagoa Rica, que foi alvo de ataques no ano passado em três diferentes retomadas.

EXCLUSIVO: Advogado da Aty Guasu narra ao AND situação na TI Nhanderu/MS – A Nova Democracia
Com exclusividade ao AND, um dos advogados que compõe o Núcleo Jurídico da Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani Kaiowá, cuja identidade será resguardada por razões de segurança, contou em detalhes o que ocorreu no dia do assassinato de Neri Mendes. O indígena foi assassinado a tiros por tropas da polícia militar em uma operação na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, no dia 19 de setembro. 
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Além disso, os indígenas que compareceram à Aty Guasu assinaram uma Carta de Compromisso do Encontro Nacional dos Povos Indígenas no Mato Grosso do Sul, em que estavam presentes as lideranças de “24 povos de todas as regiões do Brasil, sendo: Kaiowá, Nhandeva, Avá Guarani, Munduruku, Arapiun, Gavião, Kaingang, Pataxó, Guarasugne, Karitiana, Oro Nao, Kreniê, Xerente, Xukuru-Kariri, Kariú-Kariri, Kariri, Apãnjekra-Canela, Karaxuwanassu, Chiquitano, Nukini, Maraguá, Mura, Pankararé e Apinajé”.

Todos estes povos indígenas reconhecem os Guarani-Kaiowá como “povos valentes, herdeiros de uma luta inacreditável, detentores de uma determinação comovente e de uma espiritualidade poderosa e contagiante. Junto a eles e com eles, pactuamos o clamor pela justiça e a busca incondicional por nossos direitos. Incansavelmente encontraremos a dignidade para nossos povos através da demarcação de nossos territórios”. 

Relembram que nesta mesma terra onde se realizou o Aty Guasu, “no ano passado, por mais de 40 dias, um acampamento miliciano imprimiu terror contra parentes desarmados. Diante da completa omissão e até mesmo da conivência do Estado e do Governo, famílias foram massacradas e alvejadas em cenas de guerra e barbárie. Sentimos e partilhamos a dor do povo Kaiowá e Guarani, que espera pela demarcação desta Terra desde 2011”.

Aty Guasu exigiu fim da mesa de negociação do STF
Aty Guasu exigiu saída do MPI e Funai da mesa de negociação do STF. Foto: AND

Ainda, colocam que “o Ministério dos Povos Indígenas e a Funai precisam se retirar da mesa de negociação que ameaça nossa existência. Na contramão da garantia de nosso direito constitucional, o Estado segue assediando nossos povos através da mesa de conciliação/negociação do Marco Temporal e de propostas de compra de terra inclusive contrariando as direções apontadas pelos Ministros do STF, quando do julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.365”. 

Sobre a vergonhosa compra de terras e indenização aos assassinados de indígenas, a carta assinada na Aty Guasu afirma que “para este Território Tradicional no qual estamos pisando – Panambi Lagoa Rica – sabemos que o Governo pretende apresentar propostas de compra de terra tais quais praticou contra o território Guarani e Kaiowá, onde aproveitando de uma situação sensível do povo Kaiowá, procedeu de maneira imoral e ilegal, indenizando indiscriminadamente assassinos dos povos Kaiowá e Guarani sem nenhuma margem constitucional para isso”. A avaliação dos indígenas é de que “direitos negociados não são mais direitos. São concessões junto aos ladrões de nossas terras e aos nossos agressores, bem como a supressão de garantias fundamentais para nós, povos indígenas”.

Ao final da carta, os indígenas declaram que “enquanto nosso direito for negado pela institucionalidade, iremos encontrá-lo na prática, na marcha e na luta. Retomaremos nossos territórios, um a um, povo a povo, porque eles são fundamentais para nossa existência e já não aguentamos mais viver apartados deles. […] Não esperaremos mais, agora ou vai ou racha”.

O encontro dos indígenas na Aty Guasu também exigiu que “os fazendeiros sejam punidos pelos crimes cometidos e imediatamente retirados dos territórios indígenas”.

Já no dia 20 de março, como resultado da aliança entre diversos povos indígenas com os Guarani-Kaiowás do MS, um grande ato foi realizado, e teve por “objetivo pressionar as autoridades para que respeitassem os direitos indígenas, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento de suas terras tradicionais, essenciais para a preservação de sua cultura e modo de vida”.

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