Em menos de 24 horas, ao menos três pistoleiros presos no dia 11 de julho foram liberados de uma prisão preventiva decretada por “crime de porte e posse ilegal de armas de fogo, munições e por associação criminosa” em Correntina, na Bahia. Os pistoleiros são denunciados por camponeses de atuarem a mando do latifúndio e terem realizado ações de destruição do patrimônio da Associação Comunitária dos Pequenos Criadores do Fecho de Pasto de Cupim, Sumidor e Cabresto (ACPAC) e de tentativa de assassinato contra seus membros. Os três paramilitares haviam sido presos junto com outros quatro, dos quais não se tem informação da atual situação por conta de “segredo de justiça”. Os camponeses acreditam que eles também foram soltos.
Os pistoleiros são acusados há pelo menos dez meses de promover diversos atentados contra os camponeses e a ACPAC. Em abril, ações do bando pistoleiro deixaram ao menos três camponeses baleados durante uma tentativa de assassinato. Eles são acusados também de terem destruído a sede da APAC e uma ponte de acesso ao fecho de pasto, onde os camponeses soltam animais durante o período de seca. Esse recrudescimento da violência ocorreu após os camponeses recusarem ofertas de compra das terras por parte de latifundiários da região.
As prisões ocorreram no dia 11/07 após meses de denúncias por parte dos camponeses. Ao menos sete pistoleiros foram presos nas fazendas de Santa Teresa e Bandeirantes (cujos donos são denunciados de promover os crimes contra os camponeses) com um verdadeiro arsenal de guerra destinado a aterrorizar e assassinar os camponeses. Somente na Fazenda Santa Teresa, foram apreendidas ao menos 16 armas, sendo 13 longas e três curtas, além de um simulador de pistola, quase 400 cápsulas de diversos calibres (357, 9mm, 38 SPL, 22, 36 e 1), facas, rádio comunicadores, coldres, roupas camufladas e um colete a prova de balas. Os itens encontrados e a identidade dos pistoleiros da fazenda Bandeirantes foram colocados sob segredo de justiça.
Dos três pistoleiros que tiveram identidade revelada, um afirmou ser originário de Luziânia (GO) e outro de Ribeirão Preto (SP). A prática de contratar pistoleiros de outros estados é recorrente no ramo, uma vez que facilita a dissolução e fuga do grupo em casos de muitas denúncias ou de prisão com liberação posterior, como é o caso atual.
Apesar do flagrante, os três pistoleiros foram liberados da prisão preventiva em menos de 24 horas por decisão do juiz Matheus Angenor Alves Santos. Os camponeses suspeitam que os outros quatro também tenham sido liberados, apesar do “segredo de justiça” impedir o conhecimento sobre o estado dos mercenários. As solturas e a falta de transparência sobre a situação dos paramilitares oferecem ainda mais insegurança aos camponeses, que seguem a correr grave risco de vida em suas próprias terras.
Enquanto pistoleiros atuam à luz do dia e nenhuma instância do velho Estado detém sua atuação, camponeses são constantemente perseguidos e presos pela posse de simples armas de caça, vistas como ameaças ao latifúndio e seus bandos paramilitares. O mesmo ocorre com as organizações camponesas, incriminadas e tachadas de terrorismo por organizar e dirigir os camponeses nas tomadas de terra no país.