BA: Carnaval em Salvador é marcado por protestos de trabalhadores informais

Fonte: Reprodução/TV Bahia

BA: Carnaval em Salvador é marcado por protestos de trabalhadores informais

Trabalhadores informais de Salvador desencadearam uma verdadeira jornada de lutas contra a exploração e as condições degradantes de trabalho. Motociclistas, ambulantes e cordeiros protestaram às vésperas e após o Carnaval, desmascarando a demagogia do governo do estado do “maior carnaval de todos os tempos”.

Ambulantes se revoltam contra humilhações do velho Estado

Fonte: Reprodução/Redes Sociais

No dia 8 de fevereiro, vendedores ambulantes de Salvador realizaram um combativo protesto em frente à sede da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) exigindo o credenciamento presencial para o carnaval. O protesto foi sucedido por um acampamento na mesma região e ocorreu após o credenciamento presencial ter sido suspenso sem que os ambulantes tenham realizado o cadastro e o cadastramento virtual ter se mostrado repleto de falhas.

Na manhã do dia 08/02, os trabalhadores revoltados bloquearam o trânsito nas proximidades da Semop com barricadas em chamas feitas a partir de pedaços de papelão, sacos de lixo e colchões. Os manifestantes também confeccionaram cartazes com os dizeres Queremos trabalhar e Queremos licenciamento presencial.

Durante o protesto, os trabalhadores denunciaram que era impossível realizar o cadastramento virtual devido às falhas no sistema do site

Os trabalhadores realizaram um novo protesto em frente à Semop no dia seguinte. Durante a manifestação, os ambulantes denunciaram que, em decorrência ao licenciamento online, licenças estariam sendo vendidas no Facebook e na OLX por valores que variavam de 300 a 500 reais. Os ambulantes também relataram que haviam pessoas que conseguiram tirar a licença online, no entanto, elas estavam em branco.

“Eu fiz meu cadastramento e não posso fazer de novo porque está em branco e também não posso pagar. Tem que resolver isso que ninguém aqui é cachorro. Uma licença é 140 reais, não é de graça não!’,  denunciou uma ambulante.

Em entrevista ao monopólio de imprensa BA Meio Dia, Milena afirmou: “Se a gente não tivesse aqui, a gente ia fechar a rua. Porque a gente vai ficar aqui até vencer. A gente vai vencer. Eles pensam que a gente é fraco, a gente não é fraco. A gente quer e a gente vai tirar a licença aí dentro. Porque pela internet não funciona.”

A partir do dia 12/01, os vendedores ambulantes intensificaram o protesto e levantaram um acampamento nas redondezas da Semop. Inicialmente erguido embaixo de um viaduto, o acampamento foi levado depois para a frente da secretaria. Durante todo esse período, os trabalhadores estavam sujeitos a toda sorte de insegurança, seja causada pela fome ou pelo perigo de assaltos.

Diante da rebelião das massas, a Guarda Civil Municipal reprimiu covardemente a manifestação com bombas, gás de pimenta e tiros, atacando mulheres, crianças, idosos e pessoas com deficiência. Mesmo diante de tamanha truculência, os trabalhadores não se amedrontaram e continuaram acampados próximo a SEMOP. 

Motociclistas bloqueiam Avenida ACM

Fonte: Reprodução/TV BAHIA

Nos dias 08/02 e 09/02, entregadores de aplicativo voltaram a protestar realizando bloqueios na Avenida ACM, reivindicando a regulamentação para trabalhar por aplicativo durante o período do carnaval. Os trabalhadores também denunciaram as apreensões realizadas pela Transalvador (órgão da prefeitura de Salvador), que acarreta em inúmeros prejuízos: multas de R$2,5 mil, R$187,00 para serviços de pátio e guincho e retenção dos veículos.

Os motociclistas que prestam serviço para o Uber e 99 realizam protestos constantes desde janeiro na capital baiana, exigindo a regulamentação do transporte. No dia 27 de janeiro, a categoria bloqueou a Avenida ACM e, no dia 30/01, os trabalhadores bloquearam quatro pistas da região depois da ligação iguatemi-paralela e, em seguida, protestaram em frente à prefeitura e à câmara municipal. 

Na ocasião, em entrevista ao Bahia.ba, o representante dos motociclistas denunciou: “A Transalvador, PM, Semop, PRF estão fazendo blitz em todos os cantos de Salvador e tirando o meio de levarmos o pão para nossas casas. Temos nossas habilitações remuneradas, motos em dia e, mesmo assim, eles alegam que o Uber e o 99 está irregular. Estamos sendo multados pelo fato de estarmos rodando no aplicativo”.

Cordeiros denunciam falta de pagamento

Fonte: Reprodução/TV Bahia

No dia 25/02, cordeiros realizaram um protesto exigindo o pagamento da diária dos dias trabalhados. Os trabalhadores protestaram na Rua Afonso Celso, no bairro Barra e entoaram palavras de ordem como “Cordeiros, unidos, jamais serão vencidos!” e denunciavam que o valor recebido não condiz com a irrisória taxa de R$60,00.

“Sou cordeiro há 8 anos, deveria receber R$360,00 e recebi R$300,00. Sou pai de família e isso é uma injustiça.” disse Humberto em entrevista à TV Bahia. 

Enquanto os blocos faturaram milhões durante o período do Carnaval, os trabalhadores já protestavam contra as condições degradantes de trabalho sob a qual estavam expostos. Em resposta a essas condições, constantes desmaios e falta de pagamento, muitos cordeiros soltaram as cordas. Um levantamento realizado pela Cerest (Centro de referência em saúde do trabalhador) comprovou a diminuição na entrega de águas e na qualidade dos alimentos dados aos cordeiros.

Ambulantes voltam a protestar na Boca do Rio

No dia 24/02, na avenida Antônio Mangabeira, vendedores ambulantes do bairro Boca do Rio voltaram a protestar, denunciando os prejuízos que tiveram durante o carnaval, devido a problemas que ocasionaram no cancelamento de shows. 

Em suas redes sociais, alguns ambulantes denunciaram as condições degradantes de trabalho durante o período da festa, com jornadas de trabalho praticamente intermináveis, sono e alimentação irregular e vendas muito abaixo do esperado. 

As constantes mobilizações dos trabalhadores informais ocorrem em meio ao aumento exponencial do mercado informal, produto do desemprego crônico que assola o estado e empurra milhões de trabalhadores para se submeterem a condições de trabalho cada vez mais precárias. 

Frente a isso, cresce também a rebelião destes trabalhadores com as condições precárias de trabalho e abuso das forças de repressão do velho Estado, que constantemente expulsam esses trabalhadores de suas áreas de trabalho e roubam suas mercadorias. Em agosto de 2022, uma manifestação na Bahia condenou o roubo de mercadorias dos ambulantes por parte da polícia. 

Essa situação se reflete, também, a nível nacional: na Grande Recife, feirantes bloquearam uma área comercial de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes, no dia 28/02. Em janeiro de 2023, ambulantes do Rio de Janeiro realizaram uma massiva manifestação em Copacabana contra os abusos da Guarda Municipal. Em dezembro de 2022, centenas de camelôs em São Paulo se mobilizaram contra o roubo de suas mercadorias por parte da “fiscalização”. 

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