Depois de cinco anos de obras marcadas pelo superfaturamento, atrasos e destruição do meio natural, o BRT de Salvador terá seu trecho final finalizado no aniversário de 475 anos da cidade, segundo o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União). Segundo especialistas, o novo elefante branco da cidade servirá de pouca ajuda para melhoria do transporte coletivo ou atendimento das necessidades do povo pobre.
As obras do BRT foram marcadas com erros graves de planejamento logo do início, além de múltiplas irregularidades e suspeitas de superfaturamento de R$ 54 milhões no processo licitatório. Além disso, uma ação movida em conjunto pelo Ministério Público Federal (MPF-BA) e o Ministério Público Estadual (MPE-BA) elencou diversas irregularidades no projeto, como ausência de projetos de mobilidade, de consulta e participação da população e estudos que observariam a viabilidade e o impacto técnico, econômico e ambiental. Nem mesmo estudos suficientes sobre o problema que o BRT visava resolver, como os congestionamentos, foram realizados.
Análises de especialistas em arquitetura e urbanismo questionaram ainda mais a necessidade e eficiência do projeto. A conclusão do Ministério Público (MP) e do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) foi a mesma: grande parte do investimento da obra apenas melhoraram o transporte individual. Em uma cidade onde milhões dependem dos serviços de transporte público, a menor parte dos fundos nesse projeto multimilionário não foi destinada a melhora destes.
Para completar o quadro calamitoso, as obras foram realizadas longe das áreas periféricas e não alcançaram grande parte do povo soteropolitano. É notável que os beneficiados nessas grandes obras foram apenas aqueles que fecharam os acordos, como o próprio ex-prefeito ACM Neto (União), responsável pelo início das obras, que enriqueceu parentes e aliados com um faturamento de R$ 715,2 milhões para empresas destes enquanto estava na gestão.
O projeto ainda contou com graves impactos no meio natural. Mesmo com resistência de grande parte das massas populares, mais de 300 árvores foram retiradas e rios foram tamponados. A fauna e a flora local foram gravemente prejudicadas, somada a poluição visual e do ar com o projeto. No trecho do Parque da Cidade até o Rio Vermelho, diversas árvores valorizadas pelo povo da cidade local foram destruídas.