No dia 21 de janeiro, pleno domingo, uma gangue de latifundiários realizou um odioso ataque organizado contra a Terra Indígena (TI) Caramuru-Catarina Paraguassu, da etnia Pataxó Hã Hã Hãe, no Sul da Bahia. A liderança indígena, Nega Pataxó, de 52 anos, foi assassinada a tiros por pistoleiros neste sórdido ataque. Os indígenas denunciam que a Polícia Militar (PM) de Jerônimo Rodrigues (PT) fingiu uma intermediação, mas deu plena cobertura ao ataque. Nas últimas 24 horas, movimentos e organizações da luta pela terra realizaram ações de solidariedade aos Pataxó.
Além de Nega Pataxó, outros quatro indígenas ficaram feridos, incluindo seu irmão, o cacique Nailton Muniz, que também foi vítima de disparos. Uma das mulheres indígenas feridas chegou a ter seu braço quebrado em meio ao ataque.
O bando que cometeu o crime foi formado por cerca de 200 latifundiários e pistoleiros da região. A ação foi coordenada através de grupos de Whatsapp que fizeram uma “convocação geral” para a ação intitulada “invasão zero”, que chamava os fazendeiros para combaterem a suposta “invasão” através de uma ação de reintegração de posse sem qualquer tipo de mandato judicial.
A ação se iniciou na manhã do domingo e os criminosos se reuniram na ponte do Rio Pardo, na cidade de Potiraguá, e se dirigiram até a Terra Indígena dos Pataxó Hã Hã Hãe. Além dos indígenas assassinados, os criminosos também incendiaram veículos e vandalizaram as moradias dos Pataxó. Segundo o vídeo divulgado pelo portal Teia dos Povos, a Polícia Militar apareceu “fingindo uma mediação, mas abriu caminho para que os fazendeiros atacassem pessoas do povo Pataxó Hã Hã Hãe”.
Mesmo com imagens da ação e as severas denúncias dos indígenas, somente dois latifundiários, apontados como autores do assassinato de Nega Pataxó, foram detidos. E, pelo histórico da “justiça” brasileira em relação ao latifúndio, nada garante que a punição será levada em frente. Há casos recentes em que latifundiários envolvidos em massacres saíram impunes, como Virgilio Mettifogo, participante ativo no Massacre dos Caarapó, no Mato Grosso do Sul, posto em liberdade após três dias de prisão.
Camponeses protestam em solidariedade aos indígenas
Diante do covarde ataque contra o povo indígena Pataxó Hã Hã Hãe, 500 famílias camponesas organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) trancaram a BR-101 em um combativo protesto contra o covarde crime do latifúndio.
Os camponeses ergueram uma barricada em chamas utilizando galhos de árvores e entoaram palavras de ordem como: Nega Pataxó: Presente! e Pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro!
O sinistro conluio nacional da PM e latifundiários de extrema-direita
Não é o primeiro caso em que se observa esse tipo de ação, em que latifundiários, particularmente de extrema-direita, organizam-se com seus bandos pistoleiros e em conluio com a PM para atacar camponeses ou indígenas em luta pela terra. Em agosto do ano passado, cerca de 60 latifundiários e pistoleiros realizaram uma ação contra um recém-construído acampamento camponês na divisa entre os municípios de Cujubim e Rondônia.
Assim como no ataque aos indígenas Pataxó, os latifundiários incendiaram veículos e dispararam tiros com arma de fogo contra os camponeses, além de prenderem sete. Já depois da ofensiva iniciada, um grande aparato de PMs dos municípios de Ariquemes, Jaru, Cujubim e Machadinho D’Oeste chegaram ao local e se juntaram à ofensiva. Com a ação policial, o número de camponeses presos subiu para 25. O ataque foi denunciado pela Liga dos Camponeses Pobres, que denunciou os perpetradores do assalto como “parte dos refugos da extrema-direita que a candidatura de Bolsonaro arregimentou país afora”.
O já citado Massacre de Caarapó, realizado contra os Guarani-Kaiowá do MS que viviam na retomada Tey’i Kue, seguiu os mesmos moldes. Na ocasião, foram mais de 100 latifundiários com bandos pistoleiros, todos encapuzados, uniformizados e com armas de grosso calibre, que realizaram o ataque. A ofensiva assassinou o agente de saúde Guarani-Kaiowá Clodiodi e deixou outros 13 indígenas feridos.
Em ambos os ataques, tanto os camponeses quanto os indígenas prometeram seguir na luta em defesa das terras tomadas.
Governo fracassa com camponeses e indígenas
Por outro lado, o atual governo segue em silêncio sobre os ataques mais recentes. No ano passado, Luiz Inácio evitou se pronunciar sobre a maioria dos crimes bárbaros cometidos pelos latifundiários de extrema-direita pelo país. No recente ataque aos Pataxó, a mesma postura muda foi mantida.
Apesar de condenável, o silêncio do governo é coerente com a sua ineficácia no que tange aos povos do campo ao longo do período de mais de um ano de governo. Eleito, sob o palavrório demagógico de impulsionar a reforma agrária e garantir o direito dos povos indígenas, têm se mostrado incapaz de garantir o que prometeu.
No primeiro mês de governo, Luiz Inácio se apresentou como o maior defensor dos Yanomami, apareceu como coordenador de uma megaoperação de combate ao garimpo e entrega de cestas básicas. Passado um ano, os povos Yanomami seguem acometidos por fome, graves doenças e ameaçados pelo grande garimpo.
A política de reforma agrária, por sua vez, foi a que menos assentou no período de um ano em relação aos anos de governos petistas, bem como teve o menor orçamento público destinado à reforma agrária na história do País. Isso ocorreu no mesmo ano em que o governo concedeu ao latifúndio um valor recorde de verba pública: R$ 363 bilhões através do Plano Safra.
O governo estadual, aliado de Luiz Inácio, também segue o mesmo caminho: enquanto o governador Jerônimo Rodrigues acena para camponeses com discurso demagógico de realizar uma “reforma agrária pacífica”, na prática, sua polícia foi responsável pelo bárbaro crime contra os Pataxó Hã Hã Hãe. Até agora, Rodrigues não se pronunciou sobre o crime. O mesmo silêncio não é observado quando se trata de elogiar o latifúndio. No ano passado, quando participou do evento latifundista “Agri Show”, no oeste da Bahia, Rodrigues afirmou que “o agro da Bahia só nos orgulha”.
Leia também: Luta pela terra coloca contra a parede governadores ligados ao governo de Luiz Inácio