BA: Famílias camponesas rechaçam repressão e retomam terras 2 dias após reintegração de posse no Acampamento Mãe Bernadete

Reproduzimos, abaixo, um importante Comunicado à Imprensa dos camponeses do Acampamento Mãe Bernadete. O acampamento trata-se de uma importantíssima luta camponesa travada na Bahia, na qual centenas de famílias, com apoio da Liga dos Camponeses Pobres, lutam pelas suas terras em disputa com a mineradora Calsete.
Camponeses seguem resistindo nas terras no Acampamento Mãe Bernadete. Foto: Banco de Dados AND

BA: Famílias camponesas rechaçam repressão e retomam terras 2 dias após reintegração de posse no Acampamento Mãe Bernadete

Reproduzimos, abaixo, um importante Comunicado à Imprensa dos camponeses do Acampamento Mãe Bernadete. O acampamento trata-se de uma importantíssima luta camponesa travada na Bahia, na qual centenas de famílias, com apoio da Liga dos Camponeses Pobres, lutam pelas suas terras em disputa com a mineradora Calsete.

Reproduzimos, abaixo, um importante Comunicado à Imprensa dos camponeses do Acampamento Mãe Bernadete. O acampamento trata-se de uma importantíssima luta camponesa travada na Bahia, na qual centenas de famílias, com apoio da Liga dos Camponeses Pobres, lutam pelas suas terras em disputa com a mineradora Calsete.

Mais informações sobre o acampamento podem ser lidas aqui.


Comunicado à imprensa

Acampamento Mãe Bernadete – Bahia

Camponeses retornam para suas terras imediatamente após covarde despejo

No dia 27 de outubro, pela manhã, foi realizada uma grande e milionária operação policial (proporcionalmente à região) para despejar as famílias camponesas do Acampamento Mãe Bernadete, em Carinhanha, no sudoeste da Bahia. 

Foram 13 viaturas da PM de Guanambi e Carinhanha, ilegal e vergonhosamente acompanhadas por pistoleiros pagos pela Empresa mineradora Calsete.

Serenas, convictas e organizadas, as famílias camponesas ergueram combativa resistência. Tropas, oficiais de justiça, toda a parafernália do “Estado Democrático de Direito” (inclusive a pistolagem) do lado de fora do Acampamento, as famílias do lado de dentro. Unidas, as famílias com suas foices e ferramentas de trabalho às mãos, entoaram músicas da luta (O Hino da LCP “Conquistar a Terra”, “O risco que corre o pau corre o machado”, e outras músicas e palavras de ordem). Frente a frente, dois poderes. Não tenhamos nenhuma dúvida: os camponeses frustraram e derrotaram o objetivo dos latifundiários, proclamados quase diuturnamente na imprensa, a serviço dos poderosos da região: escorraçar os camponeses sob agressões, covardias e humilhações.

Foram em torno de 4 horas de embates. As massas, altivas. E os policiais e pistoleiros, conhecidos por morarem na mesma cidade dos camponeses, quando identificados, estes sim, desmascarados, escrachados e cobrados por estarem a serviço do latifúndio, do velho Estado, por ganharem dinheiro às custas da injustiça e da miséria alheia. Ali já estava claro quem tinha razão, quem eram os “mocinhos” e quem eram os “bandidos”.

Cumprida esta etapa da resistência, as famílias se retiraram organizadas. E a canalha passou o trator sobre o acampamento.

As famílias já haviam feito a primeira retomada de uma outra parte da Fazenda Lagoa dos Portácios em 25 de janeiro do ano corrente, sofrendo um despejo em 31 de março. Numa  grande demonstração de persistência, essas terras foram retomadas no dia 19 de agosto com apoio da LCP – Liga dos Camponeses Pobres. (ver AND 30 de agosto “Famílias camponesas retomam as terras com apoio da LCP”), e desde então, os camponeses têm elevado sua organização, com realização regular de Assembleias Populares e produção coletiva, fortalecendo a unidade em torno de resistir aos ataques do latifúndio e de conquistar a terra para nela viver e trabalhar.

Durante estes mais de 2 meses, as famílias realizaram diversas manifestações e denúncias contra a Calsete e seu gerente Lineu Fernandes, que montou um acampamento de pistoleiros na fazenda, onde sequer havia sede, cerca ou qualquer tipo de construção: abandonada há mais de 20 anos.

“Perdeu”, Calsete e Lineu!

O gerente da fazenda havia tentado intimidar e ameaçar as famílias e apoiadores em entrevista para a rádio Pontal, no mês de agosto. Disse que os “sem-terra” seriam retirados das terras a qualquer custo.  Na verdade, este discurso valentão demonstrava o seu medo da organização e combatividade dos camponeses pobres organizados sob a bandeira da gloriosa LCP.

De fato o latifúndio tem tido um custo alto nessas operações de despejo. Os custos da operação e envio de tropas passa de um milhão. Mas pagarão muito mais caro por roubar as terras dos camponeses, destruir todo o meio natural e impor a morte e adoecimento às dezenas de trabalhadores nas carvoeiras da Calsete além de levar ao empobrecimento de centenas de famílias que vivem nas comunidades cercadas pela fazenda sem poderem produzir nas terras, suas por direito.

No dia 09 de setembro, as famílias camponesas rechaçaram uma viatura da PM de Carinhanha, que invadiu o acampamento com um pistoleiro (conhecido como Marquinho da Barrinha) escondido na cabine da caminhonete. Quem estava na direção e que aparece nos vídeos foi o policial militar, reconhecido pelas famílias como primo do advogado da Calsete, Dr. Wallisson Viana Silva, que, sem nenhum escrúpulo foi em programa de rádio ameaçar que todas as famílias acampadas teriam seu benefício social cortado, assim como o seguro-pesca (entre os rios São Francisco e Carinhanha, quase 10% da população é pescadora).

O despejo foi resultado do cumprimento da ordem de reintegração de posse fajuta dada pelo juiz local Arthur Antunes Amaro Neves, mesmo após seguidas alegações e comprovações de que essas terras foram griladas pelo latifúndio e que a posse pertence aos camponeses de 5 comunidades que vivem e trabalham ali há mais de décadas, comprovadamente.

Após o covarde e injusto despejo das famílias camponesas no dia 27, um bando de pistoleiros armados com armas de grosso calibre, passou a ocupar o local onde estava o acampamento. As famílias despejadas atravessaram os limites da propriedade e se organizaram para voltar. 

Essa terra é nossa!

Comprovou-se, uma vez mais, que a luta pela terra nunca vai parar enquanto existir latifúndio, e que a posse, sim, era dos camponeses. Desmoralizados pelos acontecimentos, policiais e pistoleiros se foram, e os camponeses, já no último domingo, dia 29 de outubro, retomaram suas terras!

Uma vez mais, honraram o nome de Mãe Bernadete, a quem homenagearam na segunda etapa da luta, não deixando o nome da líder quilombola cair no esquecimento.

Uma vez mais honraram as bandeiras da Palestina, que estão no Acampamento, cuja heroica resistência, na luta pelo seu sagrado direito às terras que são suas historicamente, avança, assombrando imperialistas e sionistas, USA e Israel, que cometem crimes contra a humanidade e mentem segundo após segundo para esconderem seu fracasso!

Os camponeses estão na terra. Viva!

Em breve traremos novas informações. 

TERRA PARA QUEM NELA VIVE E TRABALHA!

FORA DE NOSSAS TERRAS CALSETE PARASITA!

CONQUISTAR A TERRA! DESTRUIR O LATIFÚNDIO!

VIVA A REVOLUÇÃO AGRÁRIA!

VIVA O ACAMPAMENTO MÃE BERNADETE!

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
Agora, mais do que nunca, AND precisa do seu apoio. Assine o nosso Catarse, de acordo com sua possibilidade, e receba em troca recompensas e vantagens exclusivas.

Quero apoiar mensalmente!

Temas relacionados:

Matérias recentes: