Trabalhadores de call center protestam em Salvador. Foto: Raphael Marques / TV Bahia
Trabalhadores e trabalhadoras de uma empresa de call center do bairro Cabula, em Salvador, fizeram uma manifestação na manhã do dia 19 de março para exigir melhores condições de trabalho durante a pandemia de coronavírus. Eles, envolvidos em funções de telemarketing, denunciam que as pessoas além de trabalharem muito próximas ainda são expostas com a falta de álcool em gel e sabão para a higienização. A manifestação ocorreu na rua Silveira Martins, a principal do bairro, no pátio da empresa.
Alto fluxo de pessoas, guichês muito próximos, compartilhamento dos materiais de trabalho como microfones, teclados e mouse, além de transportes públicos lotados para chegar no trabalho são algumas das condições a que são submetidos os trabalhadores durante a pandemia. Essa é a realidade esquecida de milhares de trabalhadores do telemarketing.
Um trabalhador da área, que preferiu não se identificar, denunciou “Comecei a trabalhar há poucas semanas no telemarketing, quando a contaminação pela coronavírus estava ainda muito inicial no Brasil, já alarmava o mundo. Em primeiro lugar, a seleção é feita em salas de 10 a 15 m ², com mais de 50 pessoas. A seleção durou das 09:00 até as 14:00 e teve gente que ficou em pé, durante boa parte do tempo. Não tinha cadeiras para todo mundo e o lugar era muito apertado. Como a rotatividade é alta pelas condições de trabalho, as seleções ocorrem todos os dias em dois horários. Milhares de jovens tentam a todo custo um emprego precário, mas nem todos conseguem entrar. A empresa expõe todos ao risco do coronavírus. No treinamento a situação não foi diferente, éramos 35 pessoas em uma sala um pouco maior, mas ainda assim muito perto um do outro, inclusive é motivo de brincadeira estarmos ali o dia inteiro, passando o vírus um para o outro. Não nos pagam alimentação e transporte na primeira semana, o salário é muito baixo por isso ninguém quer faltar ou reclamar da situação, a maioria que está ali são jovens que acabaram de sair do ensino médio e tentam o primeiro emprego. Existem mães, pais, pessoas com mais de 50 anos que foram recentemente demitidos em meio à crise econômica que precisam de algo a todo custo. Ninguém quer faltar, pois se desconta ainda mais no pequeno salário. O que gera mais raiva é que a empresa liberou toda a chefia para fazer home office, trabalhar em casa, como prevenção contra a contaminação do coronavírus. Mas nada é falado aos operadores, as ligações e reclamações continuam a mil, expondo milhares de jovens a contaminações, que assim podem contaminar mais pessoas nos trens e metrôs lotados, familiares e etc. Além de ganharmos mal e irmos trabalhar com medo de contrair o vírus não podemos faltar, já que se faltamos é descontado no já pequeno salário. Enquanto isso, a chefia está tranquila em casa”, relatou o jovem revoltado.
Durante a manifestação, além da melhoria, os profissionais também pediram a suspensão das atividades sem impacto para os trabalhadores.
O setor de telemarketing é conhecido pela alta exploração e más condições de trabalho, o que deve piorara ainda mais com a pandemia do coronavírus. Foto : Banco de Dados AND.