O mês de outubro em Salvador e Região Metropolitana foi marcado por uma escalada no já alto índice de violência policial. Foram quatro execuções que ocuparam os noticiários ao longo apenas da primeira quinzena do mês, sobretudo devido aos protestos combativos de moradores e familiares das vítimas que deram visibilidade e nome aos assassinados pelas polícias militar e civil. O estado da Bahia, com a polícia militar mais letal do Brasil, ao que tudo indica, seguirá no topo deste ranking.
Os quatro principais casos de execução policial foram nos dias 9, 14, 15 e 21.
Jovem Kauê
No dia 9, o jovem Kauê de apenas 17 anos foi executado a tiros durante uma abordagem de policiais militares, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. O jovem havia saído da casa da namorada e enquanto retornava para sua casa, por volta das 2h30, foi baleado pelos PMs. Em resposta, familiares realizaram protesto no mesmo dia e interditaram a rua com pneus em chamas.
“Os policiais pegaram meu filho e mataram ele. O menino com sonhos garantidos, com 17 anos, estudioso e trabalhador, aí eles pegam um inocente. Quando ligaram para minha irmã e ela chegou lá, ele já estava morto, com um tiro na cabeça. Ele era o orgulho da mãe e do pai”, afirmou o pai do jovem executado em entrevista ao monopólio de imprensa.
Caso Lucas Alves
Na tarde de segunda-feira (14), em novo protesto, barricadas com fogo foram levantadas por moradores do bairro de São Gonçalo do Retiro após a morte de Lucas Alves da Silva, de 19 anos. Segundo testemunhas, Lucas morreu durante uma operação da Polícia Civil, Lucas teria sido atingido durante uma troca de tiros. O jovem chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Na mesma data, um ônibus foi incendiado na principal via da cidade, a Avenida Paralela. O protesto teria ocorrido após a morte de Kleber Timóteo da Paixão Nascimento após suposto confronto com a Polícia Militar.
Caso Alex Silton
Na noite de terça-feira (15), Alex Silton, de apenas 18 anos, foi morto a tiros na localidade da Rocinha, no bairro do IAPI, em Salvador. A Polícia Militar informou que o caso ocorreu após confronto entre homens armados e equipes da corporação, a família e moradores, no entanto, negaram veementemente essa versão.
Segundo a família de Alex Silton de Oliveira, ele estava na rua onde morava, por volta das 18h, quando os policiais chegaram na localidade e dispararam contra o jovem, que foi atingido por três tiros na cabeça.
Em discurso ao vivo, o pai de Alex Silton descreveu com riqueza de detalhes a ação da polícia e protagonizou discurso que comoveu e revoltou toda Salvador:
“A moça falou para eles: ‘Não mate o menino’. Eles mandaram a moça entrar, xingaram a mãe de família e executaram o meu filho. Agora eu quero pedir: governador, venha cá, por que você não ouve o pai? A testemunha, que pediu para seus comandados, que são assassinos, para não matar meu filho, que é trabalhador?”
Ainda na noite de terça (15), os moradores protestaram na Avenida San Martin pelo cruel assassinato de Alex Silton. Um dia após o ocorrido, os moradores e familiares voltaram a tomar a Av. San Martin em protesto. Os policiais usaram de violência para reprimir os manifestantes jogando bombas e reforçando o policiamento na região.
Os moradores denunciam que os agentes da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) roubam estabelecimentos comerciais, invadem casas sem mandado judicial e ameaçam moradores.
“Com esses caras da 37 (delegacia) São todos usuários de drogas, são assassinos, quem tá falando é eu. Podem vim me buscar. Vocês mataram meu filho! Seus assassinos!”, afirmou o pai de Alex Silton, rapidamente cortado pela repórter do monopólio de imprensa.
Não para por aí… Caso Rodrigo Santos
Na última terça (22), moradores e familiares bloquearam a Avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM) em protesto à ação policial que resultou no assasinato do caminhoneiro Rodrigo Santos de Jesus. Com faixas e cartazes, os manifestantes exigiram justiça e denunciaram a ação policial desproporcional que resultou na execução do trabalhador.
Os constantes protestos e revoltas de populares acontecem somado ao aumento da brutal violência na capital baiana. O Instituto Fogo Cruzado constatou que 14 pessoas foram mortas por arma de fogo a cada 24 horas em Salvador e Região Metropolitana nos primeiros 16 dias de outubro.
A cada 14 mortes por dia, cinco morriam em ações policiais. O Instituto Fogo Cruzado também apontou uma alta de 31,57% em relação ao mesmo período no ano de 2023.