BA: Moradores protestam após PM executar três jovens em favela de Salvador

BA: Moradores protestam após PM executar três jovens em favela de Salvador

Moradores protestam após PM promover chacina na favela Solar do Unhão, na região da Gamboa, em Salvador, Bahia. Foto: Reprodução

Policiais militares executaram três jovens na favela Solar do Unhão, na região da Gamboa, em Salvador, Bahia. Os assassinatos ocorreram durante a madrugada do dia 1º de março, terça-feira de carnaval.

Revoltados com os brutais assassinatos, os moradores da comunidade fecharam em passeata a movimentada avenida Lafayete Coutinho, mais conhecida como avenida do Contorno. No ato, os manifestantes atearam fogo em objetos para montar uma barricada. Os trabalhadores denunciaram a constante violência policial no bairro.

Os manifestantes fecharam os dois sentidos da avenida, bloqueando dessa forma o acesso à subida para a localidade conhecida como Campo Grande e a descida para a localidade do Comércio. Durante o protesto, um adolescente de 15 anos foi ameaçado pelos policiais.

“Se não fosse esse protesto, nem o pessoal dos direitos humanos viria aqui para saber o que aconteceu. Ficaria como se fosse a morte de um cachorro. Mas não foi o que aconteceu. A polícia encurralou três meninos que nada deviam. Depois que mataram, eles [os militares] lavaram até a casa lá. Usaram lençóis que estavam em um varal e plantaram armas e drogas, como sempre fazem. Queremos que a justiça seja feita”, declarou uma moradora que não quis se identificar ao site do monopólio de imprensa, Uol.

Patrick Sapucaia, de 16 anos, Cleverson Guimarães, 22, e Alexandre dos Santos, 20, chegaram a ser levados para o Hospital Geral do Estado (HGE), porém não resistiram aos ferimentos e foram a óbito.

De acordo com moradores, policiais militares chegaram na favela atirando e disparando bombas de gás lacrimogêneo contra a população que estava na rua por conta do feriado de carnaval. Ainda segundo os trabalhadores, os militares pegaram os três meninos que estavam sentados com uma caixinha de som e os levaram para uma casa abandonada, local em que os executaram.

O jovem Alexandre dos Santos, de 20, foi um dos mortos durante operação da PM na favela Solar do Unhão. Foto: Reprodução

A polícia chegou dando um monte de tiro, ainda abriu a minha torneira para lavar o sangue dos meninos, que eu vi pequenos. Meu sobrinho, que eu peguei no colo e vi desde criança. Um bom menino, que não teve o direito de se defender”, afirmou uma parente de Alexandre.

Em entrevista ao monopólio de imprensa Rede Bahia, afiliada da Globo, uma moradora que não quis se identificar, afirmou o seguinte sobre a morte de Alexandre e os outros jovens: “é um jovem que foi brutalmente assassinado, e quem vai pagar por esse crime?”, denunciou.

“Até quando nossos corpos vão ser a carne mais barata do mercado? Até quando temos que permitir que o jovem não possa completar 18 anos? Que o jovem não possa ir e vir? Isso é injustiça, isso é genocídio. É o povo negro sendo assassinado”, desabafou, revoltada, a moradora do Solar do Unhão.

Durante a manifestação, Allana Bezerra, moradora do Solar do Unhão, afirmou em entrevista que estava na rua quando aconteceu os assassinatos e cobrou providências do comando da PM: “A gente pede encarecidamente que vocês tomem providência, porque foram três vidas tiradas aqui embaixo. Um policial ali acabou de ameaçar uma criança de 15 anos. Eu durmo na madrugada, porque aqui embaixo só cai água de madrugada, então eu ouvi tudo. Eles pegaram o corpo do menino e subiram enrolado no lençol. Botaram dentro do porta malas”.

A mulher também questionou um repórter do monopólio de imprensa Rede Bahia, afiliada da rede Globo, quando perguntada se os jovens tinham envolvimento com o tráfico de drogas, versão comumente utilizada por policiais para justificar execuções sumárias em favelas brasileiras.

“Ele tinha algum envolvimento [com tráfico]?”, perguntou o repórter, ao que a mulher respondeu:  “Oh, moço! Não importa isso agora no momento, sabe por quê? Porque se eles [policiais] pegaram [a criança] em algum erro, a obrigação dos policiais é levar preso, não a matar à queima-roupa. Eles atiraram à queima-roupa”, denunciou a mulher.

A mãe de Alexandre, Silvana dos Santos, afirmou ao site do monopólio de imprensa, Uol, que foi ameaçada por policiais: “Meu filho ainda estava vivo, pedia por socorro. Mas apontaram a arma para a minha cabeça, e não tive mais o que fazer. […] Esses policiais pegaram o meu filho e os outros dois rapazes pra matar. Se não fosse isso, eles não estariam encapuzados”, disse Silvana.

O pedreiro, Jocelino Gomes, pai de Alexandre, também denunciou o assassinato do filho: “executaram meu filho. Eu estava trabalhando, quando me ligaram falando que pegaram meu filho e os outros dois, levaram para uma casa abandonada e chegaram lá e executaram. Botaram armas e drogas como se fossem deles”, denunciou o trabalhador.

Jocelino desmentiu a versão da Polícia Militar (PM) e afirmou que o filho e os amigos não eram traficantes: “Meu filho trabalhava autônomo, ele vendia roupas pela internet, fazia várias coisas. Os três eram amigos, eles estavam bebendo na beira da praia, com aquelas caixinhas de som. Aí na hora que eles viram os meninos, abordaram e já foram levando para dentro da casa abandonada e executaram todos os três”, afirmou o pedreiro.

“Infelizmente, no país que a gente vive, sem lei nenhuma, a lei só serve em benefício dos governantes, eu não espero nada. Só espero a justiça de Deus”, lamentou o pai.

A Ordem dos Advogados do Brasil seção Bahia (OAB-BA) emitiu uma nota informando que vai cobrar a investigação da Corregedoria da PM e da Secretaria de Segurança Pública, além do afastamento dos policiais envolvidos no caso.

De acordo com o relatório denominado “A vida resiste: além dos dados da violência”, da Rede de Observatórios da Segurança, a PM da Bahia é a mais letal de todos os nove estados do Nordeste, sendo ainda líder em mortes por chacina. O estado da Bahia, que atualmente é governado por Rui Costa (PT), promove o genocídio contra o povo preto e pobre nas favelas brasileiras.

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