Em Salvador, pequenos comerciantes revoltados levantaram barricada durante protesto pelos seus direitos. Foto: Reprodução
No dia 03 de março, pequenos comerciantes revoltados tomaram as ruas de Salvador, em um protesto exigindo seus direitos. Os manifestantes levantavam faixas e cartazes em que pediam trabalho digno e também se posicionaram contrários ao fechamento de seus pequenos comércios. As medidas de punição e obrigação de que permaneçam fechadas os estabelecimentos desses lojistas contrasta com a liberdade que encontram os grandes monopólios, que operam em meio às restrições da pandemia da Covid-19 livremente. Um protesto semelhante já havia ocorrido no Rio de Janeiro em 15/05 do ano passado (nessa ocasião, os pequenos comerciantes chegaram a atacar a Lojas Americanas).
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Nesse protesto na capital baiana, o clima de revolta era visível. Com uma barricadas feita com pneus e outros objetos, os manifestantes fecharam parte da Avenida Oscar Pontes, na região do bairro da Calçada. Também era possível ver cartazes e faixas que diziam A fome mata! e Queremos trabalhar!. Outros manifestantes carregavam panelas como forma de sinalizar a falta de alimentos.
Os manifestantes exigiam a suspensão de contas durante o período em que seus comércios ficassem fechados. Foto: Reprodução
Os manifestantes pediam, ainda, a suspensão de impostos como IPVA, IPTU, e também a paralisação da cobrança dos serviços de água, luz e outros. Um cartaz estampava a frase Na eleição não teve Covid, em uma referência ao fato de que durante a farsa eleitoral, muitos dos governadores, prefeitos e políticos que se posicionam como “humanistas de ocasião” não titubearam em se aglomerar, descumprir todas as medidas de prevenção à proliferação da Covid-19 e desrespeitar os protocolos estabelecidos para conter o avanço da doença.
a quebradeira dos pequenos comércios
Em meio ao pior momento da pandemia, em que faltam leitos em todo o país, somados à falta de vacinas em número suficiente e a existência de muitas variantes do novo coronavírus em território nacional, um outro colapso surge: o colapso econômico das pequenas empresas. Ao qual nenhum governo busca dar soluções, haja visto que o auxílio emergencial interrompido no fim de 2020 sequer foi implementado no atual ano, seja em esfero federal ou em esfera estadual.
O setor dos pequenos comerciantes, ao mesmo tempo em que é o setor que mais emprega no país, é o setor mais prejudicado. No ano de 2020, 81% dos pequenos comerciantes declararam que seu faturamento mensal caiu. Em média, os pequenos negócios operam com um faturamento 50% menor do que o período pré-pandemia. Os dados são da Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
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O cenário da quebradeira, porém, antecede à pandemia. Em 2018, 96,5% das falências decretadas foram de pequenas empresas, resultado do alto juro bancário e da concorrência desleal imposta pelos monopólios varejistas. Esses últimos, mesmo em meio à pandemia, por seu caráter multinacional e de grande empresa (monopolista) conseguem manter seus negócios. Ainda quando atuam “no vermelho”, elas se sustentam mais em relação às pequenas lojas. O que possibilita que, logo na primeira oportunidade, essas empresas monopolistas resgatem tudo o que perderam (seja com isenção fiscal ou mesmo adquirindo novos empréstimos).
Recorrendo à ajuda nos bancos, muitos dos donos de pequenos estabelecimentos buscaram empréstimos. Porém somente 11% dos comerciantes conseguiram. No Rio de Janeiro, por exemplo, mais de 60% dos pedidos de empréstimos feitos por micro e pequenas empresas foram negados, 12% ainda estão no aguardo de um parecer sobre o pedido de empréstimo e somente 27% (menos de um terço) obtiveram um parecer favorável até janeiro de 2021.
Por outro lado, o lucro dos bancos nesse período não caiu. No terceiro trimestre, os lucros dos 4 principais bancos do país – Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander – somaram R$ 17,4 bilhões. No ano todo, o lucro total desses grandes bancos somaram R$ 61,6 bilhões. Optando por manter seus gordos lucros, os bancos diminuíram as concessões de créditos no mês de janeiro. As concessões registradas logo no primeiro mês de 2021 diminuíram 27,7% em relação ao mês anterior (dezembro de 2020). Isso indica que o mercado financeiro segue lucrando com o sofrimento do povo em geral, o que inclui os pequenos comerciantes que, desalentados, protestam a favor que seus pequenos negócios sigam abertos, seguindo os protocolos de segurança, os quias 82% deles afirmaram já ter implementados ou que estão em processo de implementá-los.
Uma justa reivindicação
Cansados de recorrer à diferentes tentativas de manter seus pequenos negócios, os comerciantes de Salvador impulsionaram o protesto popular. A reivindicação pelo cancelamento das contas é algo que exclama. Mesmo durante a pandemia as contas de água, luz continuaram tendo aumentos. A expectativa é de que durante o ano de 2021, os aumentos cheguem a 15%. Frente à perda do poder de compra, muitas famílias estão escolhendo qual alimento priorizar e qual cortar da lista de compras.
Insensíveis a essa realidade que assola a imensa maioria do povo, os governos em diferentes níveis se mantém calados.
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