Em Salvador, moradores do bairro Valéria, se levantaram em combativos protestos na última semana após o assassinato dos jovens Matheus dos Anjos Nascimento, de apenas 21 anos, e Wendell de Aragão Pinto Ferreira dos Santos, de apenas 18 anos.
Os familiares denunciam que o jovem Matheus foi executado friamente por agentes da PM por supostamente atravessar uma blitz sem habilitação. Os amigos da vítima foram quem socorreram o jovem, que foi abandonado em via pública e sequer recebeu socorro da PM. Os moradores prometeram realizar “uma semana inteira de manifestações” contra a violência policial.
Os protestos começaram no dia 16 de setembro, quando os moradores interditaram a Estrada do Derba com pneus em chamas e ergueram cartazes, protestando contra os massacres policiais nas comunidades.
Na manhã do dia 17/9, com transportes coletivos e aulas sendo suspensos devido ao clima de guerra da região, os protestos se intensificaram e prosseguem. Os moradores novamente levantaram protesto na estrada do Derba e gritaram Queremos justiça!.
A PM reprimiu brutalmente a manifestação, mas não conseguiu encerrar o ato. O protesto se intensificou e os moradores reagiram com pedradas e garrafadas contra as balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Um morador que tentou conversar com a PM recebeu um chute na cara dos policiais.
Durante as manifestações, os moradores desmentira a alegação da PM de que o jovem era bandido. “Pode olhar a quantidade de pessoas que tem aí. É um marginal? Para tá todo esse pessoal. E é um marginal? Olha a quantidade de pai e mãe de família. Não pode ser um marginal se não ninguém vinha, po! e agora como fica a família?”, disse um familiar da vítima.
Ao final da manifestação, os policiais invadiram várias residências para realizar apreensões, mas não prenderam ninguém.
Entenda o caso
No último domingo (15), o jovem Wendel de Aragão, foi assassinado na localidade da ‘Lagoa da Paixão’ a tiros, enquanto trafegava na sua motocicleta com seu amigo. Moradores que viram a cena relataram que eles foram baleados de costas, rendidos, desarmados e executados no escuro.
“Eles perseguiram os meninos e, depois de abordar os meninos rendidos, eles balearam os dois. Não havia arma, nem droga. Se tivesse arma, eu queria que provasse, mostrasse o laudo da perícia com a pólvora na mão dele, tudo certinho, porque assim, se existe lei, tem que ter prova, tem que provar”, afirmou um familiar sem se identificar, temendo represálias.
Para os moradores, na noite do assasinato, os policiais tentaram justificar a execução afirmando que os jovens tinham “corrido” e “porque correu? se não devem nada”. Em nota, afirmaram que os dois jovens estavam armados e que possivelmente estavam envolvidos com o tráfico de drogas. A população rebateu a “nota oficial”.
“Quem tem que falar com a gente são os três policiais que estavam aqui ontem (…). Covardes! Eles tem que ser homem de vir e falar que tinha arma e droga do jeito que falaram com a gente ontem (…) quer dizer que porque os meninos correram tem que perder a vida? A gente quer que apresentem a arma e a droga. Covardes, atiraram nos meninos de costas.”, disse um morador também sem se identificar.
No mesmo bairro, Matheus dos Anjos Nascimento, mais conhecido como “Balu”, também foi baleado em uma “blitz” da Polícia Militar no dia 14/9. O jovem teve o socorro negado pela PM e foi socorrido pelos amigos, mas não resistiu. A morte de dois moradores no mesmo bairro comoveu a população, unindo familiares, conhecidos e amigos dos dois falecidos.
A Polícia Militar da Bahia é a mais violenta do Brasil. Entre janeiro de 2023 e abril de 2024, 2,3 mil pessoas morreram no estado pela violência policial. O foco sempre se resume às pessoas pretas e pardas, que são 98% das vítimas dos assassinatos policiais no estado e 100% na cidade.