Montagem de foto com estudantes protestando contra o fechamento da escola à esquerda e governador Rui Costa/PT à direita. Foto: Redes Sociais
O governador da Bahia Rui Costa/PT mandou fechar as portas do Colégio Estadual Odorico Tavares, escola localizada no Corredor Vitória, um dos metros quadrados mais caro da capital Salvador. A área de 5 mil metros quadrados, segundo o governador, será leiloada. Segundo especulação imobiliária, cada metro quadrado no bairro vale R$ 15 mil.
O fechamento da escola deixará de imediato 308 alunos sem ter onde estudar. Número este que foi usado por Rui Costa de forma oportunista, para justificar a entrega da escola. Enquanto isso, os pais de alunos e os professores já vêm denunciando um boicote ativo do governo à escola buscando esvaziá-la.
O colégio, que funcionou no local por 25 anos, chegou a 2019 com apenas 308 matriculados, menos de 9% de sua capacidade que é de 3,6 mil alunos, segundo dados da Secretaria de Educação (SEC) do estado.
Professores e ex-alunos da instituição denunciam uma manobra do governo para sabotar o sistema de matrículas online para reduzir os números de estudantes ano a ano, cedendo à especulação imobiliária.
O governo do estado afirmou, em nota, que os alunos que estudavam no local serão remanejados para instituições nas proximidades de suas casas.
Porém, uma professora do colégio denunciou em anonimato que a medida de Rui Costa também tem caráter segregacionista. “Querem confinar meninos e meninas negras em seus bairros. O espaço daquele colégio é privilegiado porque está no centro cultural da cidade, perto de cinema, museu, teatro, universidades. Os professores promovem integração com esses espaços vizinhos ao colégio, por mais que os espaços sejam negados pela comunidade endinheirada que vive ali”, afirmou a docente.
Luta dos estudantes
Os alunos também estão se mobilizando. Os estudantes do colégio chegaram a ocupar a escola no dia 21 de janeiro e só foram retirados após repressão da Polícia Militar (PM) de Rui Costa.
Na ocasião, os militares cortaram o fornecimento de água e luz do prédio, e impediram a entrada no prédio de suprimento doados por apoiadores da ocupação, deixando os estudantes, em sua maioria adolescentes, sem ter o que comer ou beber e no escuro.
A ocupação durou cerca de 10h, apesar da sabotagem inconstitucional da PM, que impediu mais estudantes de se juntarem ao movimento e quebrou os cadeados do portão da escola para intimidar os 30 estudantes que estavam na unidade.
Ana Beatriz Oliveira, de 17 anos, estudante do último ano do Ensino Médio da escola, disse que vê com desconfiança a proposta do governo. “Acho que querem que os alunos da periferia não transitem pela cidade. Colegas meus e, inclusive, eu já recebi olhadas que nos constrangem, que é como se dissessem que ali não é nosso lugar, mas a gente se mantém firme. A galera que busca o Odorico vai para lá porque quer um ensino melhor”, disse a adolescente.
Mercado imobiliário aprova a medida de Rui Costa/PT
O conselheiro do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA) e vice-presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Carlos Henrique Passos, disse que “o Corredor da Vitória não é um largo que condiz com escolas públicas, nem é uma necessidade para as pessoas que moram lá”.
“Escolas como estas precisam ir para um local que as famílias necessitem de instituições de ensino público de alta qualidade. Cada empresa está pensando suas estratégias para fazer sua proposta e as ofertas, com certeza, vão acontecer”, afirmou o empresário em tom de expectativa.
Colégio Estadual Odorico Tavares, localizado no bairro Corredor Vitória, em Salvador. Foto: Banco de Dados AND