Nesta terça-feira (21), 20 pessoas foram presas durante uma operação da Polícia Federal (PF), nos estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco. Entre os presos da Bahia e Pernambuco, foram investigados e presos membros das polícias militares estaduais de ambos os estados. Junto com CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), estes realizavam tráfico de armas ilegais para facções criminosas do estado.
A “Operação Fogo Amigo”, realizada pela Polícia Federal da Bahia, expôs o esquema de tráfico de armas que ocorria através de PMs e empresários, com um esquema criminoso que acabou em prisões na Bahia (Salvador, Santo Antônio de Jesus e Porto Seguro), Alagoas (Arapiraca) e Pernambuco (Petrolina). 20 mandados de prisão e 33 de busca e apreensão foram realizados pela PF, com um dos suspeitos sendo detido em flagrante.
Os empresários de lojas de comercialização de armas de fogo, junto com CACs e os policiais, foram investigados também pela Polícia Civil, Exército Brasileiro e pelo Ministério Público da Bahia. Os envolvidos tiveram seus bens, avaliados em até R$10 milhões, bloqueados pela justiça enquanto as investigações ocorrem. As lojas comercializam material de nível militar de forma irregular.
O esquema ocorria através de laranjas para armas novas e com apreensão de armas em abordagens para armas velhas, que não eram apresentadas nas delegacias. Os policiais usavam o “laranja” e financiaram todo o processo burocrático para que ele conseguisse uma licença para adquirir uma arma, que então era registrada como furtada, retida pelos policiais e tinha sua numeração raspada para ser vendida nas lojas que cooperavam com o esquema de tráfico.
Em Pernambuco, um sargento da PM traficava 20 armas de fogo por mês, enviando uma caixa com 36 mil munições para um dos “compradores”. Na Bahia, um capitão da PM e subcomandante da 41ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), que foi exonerado em abril deste ano, foi preso na capital baiana por sua participação nesse esquema. O capitão era uma das figuras mais importantes no esquema de tráfico de munições, vendendo 10 mil unidades por mês.
Diversas lojas movimentavam centenas de milhares de reais por mês, vendendo centenas de armas e milhares de munições de forma ilegal, com apoio de empresários e policiais que ajudavam-os no processo de driblar a fiscalização do exército e conseguir contato com os “compradores” de diversas organizações criminosas. Um policial militar na Bahia sozinho movimentou R$ 2,1 milhões, o que demonstra que o esquema de tráfico era extremamente lucrativo para suas partes.
Além do fato que essas armas, que iriam para as mãos de facções criminosas, acabariam sendo usadas contra a população civil e os próprios policiais, o esquema deflagrado demonstra a conivência do Velho Estado, representado pelas suas forças de segurança pública, com as organizações criminosas. Junto ao enorme sensacionalismo midiático sobre os crimes no país, o pânico moral substitui qualquer investigação profunda acerca da raiz destes problemas sistêmicos.