A Antiporcos é uma banda formada em 2014 por integrantes de várias outras bandas da cena soteropolitana. As ideias políticas e o gosto pelo punk rock foi o que uniu Dudu, Pellegrini, Paulo e TP77, amigos de longa data, num projeto pelo que sentiam estar em falta: uma banda de punk/hardcore que falasse sobre futebol, amizade, política e luta de classes.
Proletários Todo dia a mesma rotina/Trabalho x Casa e muita exploração./Tudo isso pra fortalecer, o porco do patrão/Por quem suamos? Pra quem nos sacrificamos/ Por quem suamos? Pra quem nos sacrificamos/Todo patrão é um inimigo, e cada trabalhador um irmão/Na luta de classes em que lado da trincheira você vai estar?/ Na luta de classes em que lado da trincheira você vai estar?/ Proletários vítimas da injustiça social/Proletários uni-vos/ôôô…./Proletários vítimas da injustiça social/ Proletários uni-vos/ôôôoo… Na luta de classes em que lado da trincheira você vai estar?/ Proletários vítimas da injustiça social/Proletários uni-vos/ôôô…./Proletários vítimas |
AND: Como vocês relataram, a banda foi formada durante aquele período de grande politização e enfrentamos contra a farra da Fifa na Copa de 2014, e percebemos que algumas letras abordam esta questão da luta de classes e da revolta popular contra o velho Estado. Como aquele momento influenciou a banda?
Pellegrini: Com certeza, inclusive estávamos juntos enfrentando os porcos nas manifestações.
Dudu: Sim, nas revoltas de 2013, eu e Tripa, por exemplo, guerreamos juntos, pois somos integrantes da mesma Torcida Organizada. Acabou que tudo influenciou na formação da banda, tinha esse sentimento de revolta popular mesmo. Inclusive, até o nome do álbum (Enquanto estivermos vivos estaremos no front) vem muito dessa realidade, desse momento que passamos na época.
Paulo: Rapaz, eu acho que os protestos de 2013 influenciaram sim. Estávamos lá, lado a lado, e com certeza isso marcou a gente e exerceu uma carga de influência que nos motivou a compor e fazer um som mais nessa linha de protesto, culminando na formação da banda.
AND: Uma das temáticas abordadas pela banda é a crítica ao “futebol moderno”; podem falar mais sobre isso?
Dudu: Então, muita gente acaba confundindo isso, como se estivéssemos pregando salários baixos para jogadores, ou ainda um arquibancada arcaica e retrógrada. Não é isso, essas bizarrices de outrora pode ficar lá trás. O ponto que lutamos, que representa o ódio ao futebol moderno, é contra essa higienização social das arenas, dos altos preços de ingressos, do jogador mercenário, do impedimento da festa nas arquibancadas, onde proíbem sinalizadores, instrumentos e bandeiras. E aí, não tem como não odiar essas ações e quem as propaga.
Pellegrini: Como diz uma letra nossa: “sem bandeiras não é estádio, é teatro”.
TP77: Muito importante te falar que todo trampo da Antiporcos parte de uma vivência de todos os integrantes, tá ligado? Tipo assim, o que a gente fala é fruto da nossa vivência, se a gente tá falando sobre fazer uma crítica ao futebol moderno, a todo esse capitalismo selvagem que está no futebol aí, é porque a gente vive isso, porque nós somos prejudicados por isso, então assim o papo é verdadeiro, é de vivência, sacou? Nós fazemos parte de torcida organizada e a vivência de quem é de torcida organizada; é como eu disse antes, nós não estamos aqui pra dizer que somos os melhores, ou que a gente vive o certo ou que somos errados, enfim, o que a gente acredita é que a gente vive o futebol de verdade, a gente vive o futebol com amor, a gente vive o futebol como algo que está no nosso cotidiano, o futebol pra gente, a torcida pra gente, fazer festa em estádio, cânticos de torcida, todas essas coisas.
Paulo: Tentaram transformar o estádio na balada do playboy. Transformaram os estádios em “arenas” com “camarotes”, aumentaram o preço dos ingressos, e afastaram o povão dos jogos. Os clubes, agora, tentam reverter isso com campanhas de associação popular e reduzindo os preços dos ingressos em jogos menos importantes, mas nunca mais vai ser a mesma coisa do que era nos anos 1990 e 2000.
AND: O nome da banda é um ataque frontal à polícia e, além disso, a banda lançou um Ep Contra o genocídio do povo negro que aborda bastante críticas às corporações repressivas. Como foi a escolha do nome?
Paulo: A ideia do nome Antiporcos é uma crítica às políticas de segurança pública que a gente vê por aqui do “atira primeiro, pergunta depois”. Todos nós já fomos vítimas de violência policial nos mais diversos graus, e o ridicularizar a instituição chamando de “porcos” também é uma forma de questionar a sua atuação, demonstrando que estamos insatisfeitos com a forma que nós e nossos irmãos e irmãs somos tratados pelo braço armado do Estado.
AND: O que a banda pensa sobre a Polícia Militar (PM) e, em específico, sobre a política de “segurança pública” dos governos petistas na Bahia?
Dudu: Tenho um pensamento bem alinhado com a linha ideológica de vocês: a polícia e, sendo bem sincero, a segurança pública em si serve para favorecer os mais abastados, não tem essa preocupação em servir e proteger o povo. É repressão ao povo, para proteção dos privilégios de alguns poucos.
Com relação à PM da Bahia, especificamente, todos da banda já sofreram algum tipo de violência policial, então nada mais justo que destilarmos todo nosso ódio à corporação.
O PT é um partido de centro, que vai oscilar seus governantes. Alguns com um viés mais humanitário, outros bem mais escrotos, tal como Rui Costa, um cara que abertamente apoia a violência policial, que é contra audiências de custódia, ou seja, um governante na linha do atual presidente do país, que visa uma repressão forte como meio de solucionar problemas sociais, essa tática é tão velha e ineficaz que nem rola de perder muito tempo falando; Rui é genocida e ponto.
Contra o genocídio do povo negro
Contra o genocídio do povo negro, o sangue do negro escorrendo pela cidade. / Todos os dias o povo negro é oprimido / Todos os dias o negro paga o preço pela sua cor, sendo escorraçado, humilhado e morto. / Não esqueceremos dos mortos do Cabula/Maior sujeira da sociedade. / O negro todos os dias paga o preço pela sua cor. |
TP77: Irmão, como o nome já denota, temos maior repúdio e maior ódio que você imaginar ao braço armado do Estado, porque todos os membros já sofreram nas mãos desses caras. Então, assim, todos nós aqui da banda já perdemos algum irmão que foi na mão da polícia, toda semana, todo mês perdemos amigos na mão da polícia; todos nós da banda já sofremos repressão policial. Então, assim, não há a mínima condição de alguém da banda apoiar nada que venha relativo à PM, nós somos completamente contra isso aí, achamos que é um fascismo desgraçado, é uma ditadura bizarra e a polícia é nosso maior inimigo; nós temos o maior ódio da polícia porque para nós eles são inimigos declarados.
AND: Para encerrar, nos falem sobre o novo Ep O bagulho é torcida que lançaram neste ano e as dificuldades em produzir som independente em Salvador.
Dudu: Nesse novo EP escolhemos abordar uma temática que nos é cara, que é justamente a questão da elitização do futebol, do movimento de Torcidas, da resistência das bancadas. Para além disso, conseguimos ter ao nosso lado, da produção até execução das músicas, diversos amigos nosso. Foi um processo legal, são quatro músicas, que facilitou também… enfim, quando veio o resultado final me agradou bastante.
TP77: Poucas pessoas sabem da dificuldade que existe para uma banda punk rock produzir algo nessa cidade. Tipo assim, a gente conta muito com a ajuda de nossos amigos para estar fazendo qualquer tipo de coisa, porque a gente sabe que é um tipo de música que não se paga; não é uma parada mercadológica, a gente tá fazendo porque a gente ama, porque a gente gosta, até hoje temos disposição para estar investindo nisso, porque temos de onde tirar para estar fazendo esse trampo, mas dignifica muito a gente quando esse tipo de coisa que está acontecendo agora, por exemplo: quando você pede pra fazer uma entrevista relativa a isso, ou quando a gente sai em alguma coletânea, como a gente saiu agora com a Brasil oi, ou quando algum ídolo da gente toca alguma música nossa em algum podcast, ou alguma rádio, é isso que paga a gente, o mais importante desse EP é o que vale porque nós acreditamos naquilo que a gente defende, isso é massa, independente de todas as dificuldades, de não ter casa de show pra tocar, de não ter um lugar propriamente punk na nossa casa, pra gente poder fazer o que a gente almeja etc. Independente de todas essas dificuldades, a gente consegue lançar um trampo que nos orgulha muito e é um trampo que fala muito sobre a gente, resume muito o que somos e o que nos faz estar acreditando no nosso sonho, que mantém a gente vivo, que mantém a gente feliz, ainda é algo que a gente faz e que a gente escuta e fala: “caralho, fiz uma parada massa, fiz uma parada boa, valeu a pena tudo isso”.
Os contatos da banda são: www.bandcamp.com/antiporcos, www.instagram.com/antiporcos e www.facebook.com/
Capa do Ep Contra o genocídio do povo negro
Dudu, Pellegrini, Paulo e TP77, integrantes da banda Antiporcos
Um dos encartes do novo CD do Antiporcos foi feito inteiramente com imagens do AND.