Na noite do dia 10 de julho, ocorreu em Belo Horizonte na Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves – EPOMG, a mostra do documentário “Terra e sangue – Bastidores do Massacre de Pau D’arco”, feito pelos companheiros do Jornal A Nova Democracia Patrick Granja e Ellan Lustosa, que estiveram no Pará conversando com sobreviventes da chacina ocorrida no dia 24 de maio, na fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco – Sul do Pará, onde vitimou dez pessoas. As vítimas foram covardemente assassinadas, por membros da Delegacia de Conflito Agrários – DECA.
Após a mostra do documentário, foi formada a mesa com representes da LCP do Pará e Tocantins, LCP Nacional, Comitê AND-BH, EPOMG e a viúva Stéfia, o Advogado do Povo presidente da ABRAPO Drº Nicolau, foi quem coordenou o debate. A fala de todos foi unânime em condenar o velho Estado burguês/latifundiário, que através de sua política de criminalização da luta do povo pobre, protege os grileiros de terras e condena o camponeses pobres, os indígenas e quilombolas e com isso facilita a formação de milícias fortemente armadas, que promovem o verdadeiro terror no campo, com execuções e ameaças, muitas delas, feitas pela própria polícia a soldo do latifundiário.
Stéfia mãe de dois filhos, um com 11 e outro com apenas dois meses de vida, relatou que só não está entre os mortos, por que o seu filho que na época estava com um mês e pouco, ficou doente, e então a mesma teve que levar seu filho ao hospital e acompanhar o seu tratamento lá mesmo. Já o seu marido não teve a mesma sorte, juntamente com mais 6 parentes dela. Porém com firmeza, ergue a cabeça e diz: “Se pensam que vão nos amedrontar, estão muito enganados. O que fizeram foi só aumentar ainda mais o nosso ódio. As terras da Santa Lúcia têm de ser nossa, por que foi lá que os nossos companheiros derramaram seu sangue”.
Abaixo aparece Stéfia prestando depoimento no vídeo, mãe dos filhos de um dos camponeses assassinados em Pau D’Arco.
O representante da LCP do Pará e Tocantins fez um rápido comentário, resgatando a história de luta dos camponeses, principalmente na região do Sul do Pará, que foi sempre marcada por sangue. Denunciou que principalmente após a implantação da “Operação Paz no Campo” criada pela gerente estadual Ana Júlia Carepa (PT) os latifundiários se aproveitaram disso tudo, para aumentar a pressão contra o povo pobre do campo. Relatou sobre o Massacre de Eldorado e a forma que foi feita a reintegração na fazenda Furquilha, onde a polícia juntamente com pistoleiros, assassinaram 9 camponeses, torturaram e humilharam os que sobreviveram. Enquanto eles criminalizaram os camponeses, o latifundiário armou seus funcionários, criando milícias, que passaram a perseguir e matar importantes dirigentes camponeses, como foi o caso do dirigente político da LCP do Pará o companheiro Luiz Lopes.
Em seguida o companheiro da LCP do Pará e Tocantins, fez um juramento: “Eu tenho filho, tenho família e não vou voltar atrás, nem que eu pague com a minha vida”. Este foi aplaudido pelo público presente. Prosseguindo sua intervenção, convocou os companheiros da cidade para apoiar de forma mais decidida a luta camponesa, afirmando que: “só vamos acabar com essas injustiças, quando a gente destruir todo o latifúndio. Não vamos conseguir nada com eleição, nós camponeses, sofremos na pele com todos esses políticos que governaram o país: Sarney, Fernando Henrique, Lula, Dilma e agora esse Temer. Todos seguem matando, camponeses, indígenas e quilombolas, por isso nós temos de fazer uma revolução no país e os camponeses, já estão dando o seu sangue nessa luta. Nós vamos vencer!”
O representante da Liga Operária interviu, saudando as famílias e os companheiros da LCP conclamando ao público presente não medir esforços, para apoiar a luta camponesa, o mesmo disse: “Nossos irmãos camponeses, já estão pagando com o sangue, que está sendo derramado na revolução agrária. Por isso os operários, estudantes e professores, não podem deixar os camponeses levarem essa luta sozinhos, temos de apoiar decididamente essa luta e até mesmo irmos ao campo ajudar os camponeses nessa luta. Pois esse é um Estado dos latifundiários, dos grandes burgueses, um estado das grandes empreiteiras e dos banqueiros, por isso temos de destruí-lo e construir uma nova e verdadeira democracia!”
O monopólio de imprensa não conseguiu acobertar a fraudulenta afirmação de que houve “troca de tiros” em Pau D’arco, devido a pressão de organizações de apoio a luta e aos direitos humanos, mas sobretudo pela firmeza e determinação das famílias das vítimas e dos sobreviventes, que retomaram novamente a Fazenda Santa Lúcia e seguem lutando por justiça. Na noite dessa terça feira (10), o próprio jornal nacional da Rede Globo, foi obrigado a mostrar outra versão do ocorrido naquele triste 24 de maio, onde a polícia, torturou e matou a sangue frio 9 camponeses e uma camponesa, com todo o resquício de crueldade, própria de integrantes da antiga UDR, que aliás continua atuando e tem um exército de homens fortemente armados.
O companheiro Rosenildo (mais conhecido como “Negão”), foi covardemente assassinado no dia 07 (sexta) e isso nos mostra que a sanha dos latifundiários segue e que agora, com certeza, farão de tudo para mapearem as principais pessoas e seletivamente irem liquidando, como fizeram com o companheiro “Negão”.
Segundo um dos dirigentes da LCP o massacre se deu após alguns dias da divulgação de um comunicado da FETRAF (Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar), que declara não representar mais aquelas famílias. Essa organização estava negociando, com o governo, mas impunha uma condição às famílias em abrirem mão de 60 lotes de 5 alqueires de terra. “O que nós queremos deixar claro, é que isso não foi uma ação de uma polícia maldosa num Estado “bonzinho”, essa é uma ação do Estado da burguesia, do latifúndio, para poder controlar esse país aqui, essa semicolônia chamada Brasil… Você pega o mapa hoje, todo mundo fala: massacre de Coniza, massacre do Pará. Agora em Rondônia ocorreu mais assassinatos, que ocorreram em Coniza e Pará juntos esse ano, por que é uma luta, uma guerra continuada.”
Relatando sobre a política de selecionamento e aniquilamento seletivo, o coordenador da LCP aponta a forma como isso tem ocorrido pelo país, denunciando os crimes contra as causas indígenas, quilombolas e camponesa. Relata o covarde assassinato de um coordenador da LCP em Rondônia: O companheiro ADEMIR DE SOUZA PEREIRA, assassinado à tiros na tarde do dia 6 de julho de 2017, em Porto Velho, Rondônia e de Rosenildo, que era conhecido por todos em Pau D’Arco como “Negão”. Era um dos mais antigos lutadores pelas terras griladas da Fazenda Santa Lúcia, o que prova que a política desse velho Estado é o extermínio do povo pobre em luta.
Sobre o ocorrido em Pau D’Arco ele disse: “A polícia só agiu daquela forma, porque aquelas famílias não eram representadas por nenhum movimento e acharam que iriam chegar lá e tirar as famílias, mas as famílias resistiram, por isso, eles agiram daquela forma.” Afirma o dirigente. “ No relato dos sobreviventes, podemos ver isso claramente e também podemos ver que isso não vai parar a luta pela terra. Temos de tomar as terras do latifúndio e cortá-las, para distribuir aos camponeses sem terra, ou com pouca terra e forjar a aliança operária-camponesa e isso só com uma revolução de nova democracia.”