Manifestantes protestam na Praça da Independência em Minsk, em 18 de agosto de 2020. Foto: Sergei Gapon-AFP/Getty Images
Após recente eleição ocorrida no país concedendo mais um mandato para o presidente Alexander Lukashenko (no cargo desde 1994), o povo, oprimido e atiçado pelas cisões internas no seio das classes dominantes e pelas instabilidades geradas pela intromissão imperialista, realizou manifestações e greves em todo o país contra os reacionários no poder.
No dia 16, uma semana após a reeleição, enquanto o presidente reacionário Lukashenko insultava o povo em protesto chamando-os de “ratos”, milhares de pessoas se reuniram em Minsk, capital da Bielorrússia, no que seria considerado o maior protesto da história recente do país, exigindo fim à violência do velho Estado, que agredia e matava manifestantes naqueles protestos, além denunciarem o presidente reacionário.
Um dia antes, 15/07, manifestantes se reuniram em frente ao prédio do noticiário do monopólio estatal Belteleradio, que havia escolhido não cobrir os protestos, exigindo que as manifestações fossem noticiadas de maneira justa. No dia 17, trabalhadores dos monopólio estatal de notícias Belteleradio se juntaram ao chamado de greve dos trabalhadores da indústria e não foram ao trabalho, com os trabalhadores da indústria do país ainda planejando uma greve geral, e os trabalhadores das estatais do monopólio de notícias ONT e STV afirmando que vão também se juntar a greve.
No dia 13, centenas de mulheres marcharam com fotos de parceiros e familiares presos durantes os protestos no país, em Minsk, em consonância com os familiares dos presos que, desde suas prisões nos protestos, se reúnem nas prisões. “Como você pode tratar seu próprio povo assim?”, exclamou Galina Vitushko, de 63 anos, para o monopólio de imprensa em frente a uma prisão, em busca de seu filho que tem diabetes, em necessidade de medicamentos.
Na terceira noite de protestos, no dia 11, ao menos duas pessoas foram mortas por munições letais das forças repressivas do velho Estado, na cidade de Brest. O povo, sofrendo a violência do velho Estado em sua fúria reacionária, carregava barras de ferro para se proteger, o que foi utilizado como desculpa pelo velho Estado para atirar contra os manifestantes. Já na cidade de Homel, um homem de 25 anos, que estava indo visitar sua namorada, foi sequestrado por forças da repressão, que “acreditava” que o homem participava dos protestos. Com uma doença que afeta seu coração, ele não suportou ficar preso dentro de uma van por diversas horas, resultando em sua morte, segundo informou sua mãe em uma entrevista de rádio.
Os protestos em si começaram no dia 9 de agosto, um domingo, após os resultados da farsa eleitoral anunciar, com mais 80% dos “votos”, a vitória de Lukashenko. Em Minsk, milhares se reuniram durante a noite em protesto. Temendo o povo, a polícia reacionária, a mando de Lukashenko, reprimiu as massas em luta com desproporcional violência, utilizando-se de gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água, além de atropelar um manifestante, com o povo se defendendo com pedras e garrafas. Tal manifestação obrigou o velho Estado a “desligar” a internet, pois era utilizada pelo o povo para denunciar os crimes do Estado.
Desde o início dos protestos, até a segunda semana de agosto, mais de 6,7 mil manifestantes foram presos, com ao menos dois mortos, além de milhares de feridos.
Imperialistas tentam manipular a justa rebelião das massas para servir aos seus interesses
Mesmo após o fim da União Soviética (que após 1956 inicia um processo de restauração capitalista para converter-se em uma superpotência imperialista), a Bielorrúsia nunca se tornou um país plenamente independente. Hoje, o país se encontra subjugado pela burguesia imperialista russa chefiada pelo reacionário Putin, embora haja constantes disputas de outras potências imperialistas em arrebatar a influência russa. A relação de subjugação chegou a tal ponto que, no início do século, a Bielorrússia por pouco não se tornou oficialmente parte da Rússia.
Tal situação, na prática semicolonial, é escamoteada com uma aparência nostálgica de ex-república soviética, mantida cautelosamente pelo regime. Referências a grandes dirigentes do proletariado, como Iosif Stalin, Vladimir Ilitch Lenin e outros heróis bolcheviques, não apagam as relações de exploração que ali existem e que beneficiam, no fim das contas, sobretudo o imperialismo russo. Alguns mecanismos do regime político, como “trabalho ideológico” dentro de fábricas, dão ainda forma a um regime corporativo de prevalência à propriedade capitalista estatal, só possível de ser mantida graças ao subsídio cedido por Putin na compra do gás e do petróleo russos por Lukashenko, petróleo que depois é re-exportado para o Europa. Todavia, tal subsídio está sendo gradualmente retirado, desde o estouro da crise do imperialismo em 2008, como medida russa para equilibrar-se financeiramente em detrimento da estabilidade do país vizinho.
A propósito, tal retirada do subsídio passou a obrigar Lukashenko a sacrificar a soberania de sua nação e manobrar a política de Estado sempre alinhado aos interesses do imperialismo russo. Uma retirada abrupta dos subsídios, ou o fim das importações russas dos tratores bielorrussos imporiam um golpe fatal à economia dominada.
A Rússia, hoje, representa atualmente cerca de 48% do comércio com a Bielorrússia, em grande parte sendo gás, com a Gazprom (empresa estatal) até 2004 vendendo gás ao preço local da Rússia, em detrimento da Bielorrússia. Além disso, a Bielorrússia serve aos interesses geopolítico imperialistas russos, sendo como uma “ponte” para o resto da Europa, incluindo para o maior oleoduto do mundo, em Druzhba. No entanto, a Bielorrúsia sempre teve relações econômicas significativas com a Ucrânia, relações que se abalaram após a subversão do regime ucraniano então pró-russo por um vinculado à União Europeia.
Agora, diversas potências imperialistas rivais da Rússia se utilizam dos justos protestos para antagonizar a relação entre as massas e este, jogando com a opinião pública para instaurar um governo mais “liberal”, ou seja, mais vinculado aos interesses econômico-políticos do imperialismo alemão, principalmente. No dia 14 de agosto, a União Européia (bloco imperialista encabeçado pela Alemanha) impôs sanções ao governo de Lukashenko como parte desse movimento. Mike Pompeo, secretário de Estado da superpotência hegemônica única, o Estados Unidos (USA), tentando também entrar na disputa, “advertiu” sobre possíveis consequências contra o país.
A líder da oposição, Svetlana Tijanovskaya, manobrada pelas demais potências imperialistas desde seu exílio na Lituânia, afirma que “está pronta para agir como líder nacional”, como se esta tarefa fosse a ela delegada por outrem. Ademais, afirma, revelando seu este o plano das outras potências imperialistas, que a saída para a crise é “eleições livres, reconhecidas pela comunidade internacional”, ou seja, controladas pelos demais imperialistas.
Além de tal briga política, entre Lukashenko e Tijanovskaya, ter interferência direta dos imperialismtas alemães e ianques (sobretudo), também há uma base social interna. Lukashenko é partidário da fração burocrática da grande burguesia local, cuja base social são os burocratas altos diretores e oligarcas que dominam as estatais, enquanto há um crescente setor financeiro-comprador, ligado à propriedade não estatal desde o fim do bloco social-imperialista, em 1990. O fim da era Lukashenko e da prevalência da propriedade capitalista estatal, que monopoliza os principais ramos da economia, é de interesse desse novo setor, que pode apostar em Tijanovskaya e nas potências “ocidentais”.
UM GOVERNO QUE NADA É SEM A RÚSSIA
Como resposta subserviente, Lukashenko solicitou ajuda a Vladimir Putin contra “possíveis ameaças externas”, segundo o jornal do monopólio de imprensa The Guardian, no dia 16/08, além de ordenar a polícia a acabar com as manifestações através da força, em reunião com o Conselho de Segurança no dia 19/08.
Putin, por sua vez, afirmou para Angela Merkel, chefe de Estado da Alemanha, que qualquer intervenção no país seria “inaceitável”, além de “estar disposto” a enviar tropas ao país para “manter a ordem”, o que, na prática, imporia uma hegemonia colonial sobre a Bielorrúsia. A isto o ultrarreacionário presidente do imperialismo ianque, Donald Trump, respondeu que está “assistindo com cuidado” o desenvolvimento na Bielorrússia.