Bolívia: Zúñiga tentou se apoiar na oposição pró-ianque para tentar derrubar o governo reformista do MAS

Juan José Zúñiga, general que comandou a tentativa de golpe de Estado fracassado na Bolívia, contava com o apoio de militares e da oposição pró-ianque, que não veio.
Juan José Zúñiga preso pela Polícia da Bolívia após tentativa de golpe militar de Estado. Foto: Claudia Morales/Reuters/Folhapress

Bolívia: Zúñiga tentou se apoiar na oposição pró-ianque para tentar derrubar o governo reformista do MAS

Juan José Zúñiga, general que comandou a tentativa de golpe de Estado fracassado na Bolívia, contava com o apoio de militares e da oposição pró-ianque, que não veio.

Os militares liderados pelo ex-comandante das Forças Armadas reacionárias da Bolívia, Juan José Zúñiga, que invadiram o Palácio Quemado, na Praça Murillo, na capital La Paz, agiram conforme um plano previamente estabelecido. Os militares descontentes com o governo de Luis Arce da cidade de Viacha do Exército e da Aeronáutica, porém, não compareceram ao horário combinado para o golpe – que seria às 11 horas de 26 de junho.

Após se ver sem o apoio militar, Zúñiga saiu do tanque onde estava estabelecido e prometeu libertar Luis Fernando Camacho e Jeanine Áñez, líderes políticos da oposição pró-ianque presos em 2022.

Essas informações foram dadas pela ministra da presidência María Nela Prada, que leu a transcrição das declarações de Zúñiga após ser preso. Até o fim do dia, 12 bolivianos ficaram feridos por tiros de arma de fogo. No total, 10 miltares foram presos e podem pegar até 30 anos de prisão. Além de do ex-comandante das Forças Armadas, o vice-almirante Juan Arnez Salvador (comandante da Marinha) também foi preso.

Como foi a tentativa de golpe de Estado?

Após chegar à Praça Murillo, os militares comandados por Zúñiga montaram barricadas para impedir a entrada de pessoas na praça, reprimindo com bombas de gás lacrimogêneo e tiros um grupo que condenava o golpe militar. 

Os militares adentraram a sede do governo e instalaram-se ali. Zúñiga logo informou que seu objetivo era “restabelecer a democracia” e avisou que anunciaria um novo gabinete. Ele também denunciou o rumo da Bolívia e exigiu a soltura de líderes de oposição presos (entre eles a ex-presidente Jeanine Añez, que assumiu após o golpe de 2019). O general que comandou a tentativa de golpe chegou a afirmar que, no momento em que tomou o Palácio do governo, continuava obedecendo a Arce.

Zúñiga afirma que agiu a pedido do presidente Arce

Antes de ser preso, o general deu depoimento à imprensa que estava no Palácio Quemado, afirmando que no domingo se reuniu com o presidente Arce que informou-lhe que a situação do governo estava muito difícil e que seria “necessário armar algo para melhorar minha popularidade”. Neste encontro, segundo Zúñiga, a movimentação com tanques militares e soldados ficou acordada. O presidente Arce afirmou que as informações não são verídicas.

Assim que tomou conhecimento da movimentação do general Zúñiga, Arce denunciou pelas redes sociais “movimentações irregulares de algumas unidades do Exército Boliviano”. O vice-presidente David Choquehuanca seguiu mesmo tom na denúncia.

Quando Luis Arce chegou ao Palácio Quemada, a imprensa boliviana registrou a conversa em que o presidente afirmou ao general: “Eu sou seu comandante e ordeno que retire seus soldados. Não permitirei essa insubordinação”.

Foi após estas declarações que o general foi preso pela polícia. A Procuradoria-Geral abriu uma investigação criminal contra Zúñiga e os demais militares envolvidos.

Momento em que Luis Arce se encontrou com Juan José Zúñiga. Foto: Reprodução

General esperava apoio da oposição

O Ministério Público informou, ainda no dia 26 de junho, que a razão da tentativa de golpe de Estado foi o início das investigações penais contra o general Juan José Zúñiga e outros militares. Zúñiga foi destituído após declarações públicas sobre a situação política do país.

Em 24 de junho, quando ainda era comandante das Forças Armadas, Zúñiga deu entrevista para um jornal boliviano e prometeu prender Evo Morales, um dos candidatos à presidência nas eleições de 2025. A decisão do governo foi de retirar-lhe das funções, o que deu forças aos militares insatisfeitos para tramar um golpe militar de Estado.

Ainda ronda a Bolívia as consequências do golpe de Estado 2019 chancelado pela USA via OEA. Embora derrotado após a realização de eleições no ano seguinte (fruto de um acordo) e mesmo com muitos de seus líderes presos, Áñez e Camacho dentre eles, a oposição ao governo de Arce segue mantendo o golpismo no ambiente político boliviano.

Contexto favorável a desestabilizações

Da parte do governo, as suspeitas de que Zúñiga estaria cumprindo ordens do presidente do país em busca de maior legitimidade são graves. Está nas mãos de Arce desmentir.

Porém, ainda que seja falsa a alegação, a tentativa de golpe, por si só, é um indício de que a tendência para futuras desestabilizações é real. Afinal, o ambiente político do país que suscitou o golpe fracassado de 2024 é o mesmo que, em 2019, gerou o golpe de Estado chancelado pela OEA e, por isso, vitorioso. Naquela ocasião, Jeanine Áñez foi autoproclamada presidente interina em uma sessão legislativa que não seguia as próprias regras que regulamentam tal decisão. Durante o período em que esteve à frente, Áñez isentou todos os militares que participarem nas operações de restabelecimento da ordem pública de qualquer responsabilização criminal. A carta-branca para matar em defesa da ordem funcionou e o saldo de mortos chegou a 33, com centenas de feridos.

No dia 17 de novembro de 2019, a bancada do MAS assinou um acordo de “pacificação” de paralisação dos protestos populares e organização de novas eleições. Foi a chancela da legitimidade do governo por parte dos líderes reformistas. O “governo” de Áñez teve ainda tempo para derrotar um projeto de lei que visava imunidade aos políticos da falsa esquerda envolvidos nos protestos.

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