Bolsonaristas perseguem professor de história da Udesc e estudantes enquanto governo ataca educação pública

Bolsonaristas perseguem professor de história da Udesc e estudantes enquanto governo ataca educação pública

No início de abril, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) enviou um requerimento interno à reitoria da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) solicitando que a instituição tomasse providências contra o professor de História Reinaldo Lohn. O documento estava assinado pelo deputado bolsonarista Alex Brasil (PL) e alegava que o professor feriu as “diretrizes internas” da universidade e seu caráter “apartidário” ao exigir a prisão dos galinhas verdes envolvidos no 8 de janeiro de 2023. Alex quis usar a situação para ampliar a censura e exigiu que a universidade impedisse “manifestações de cunho político-ideológico” nos espaços de cerimônias acadêmicas. 

Ao mesmo tempo, bolsonaristas têm se aproveitado do nome com referências sexuais dadas pela gestão de falsa esquerda do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Udesc à “calourada” de começo do período para atacar os estudantes com um discurso moralista. Os ataques dos bolsonaristas aos estudantes e professores ocorrem simultaneamente ao programa de privatização da Educação estadual pelo governador do Estado, Jorginho Mello (PL). 

A cruzada bolsonarista contra o professor começou depois que o historiador destacou o papel dos profissionais de Ciências Humanas na compreensão crítica da realidade e das tensões e lutas sociais da atualidade durante um evento de formatura do Centro de Ciências Humanas e da Educação (Faed). O professor denunciou os cortes às universidades públicas e condenou as agitações golpistas dos últimos anos. 

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O Departamento de História da Faed/Udesc e o Programa de Pós-Graduação de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se solidarizaram com o professor, em uma campanha aderida por vários movimentos sociais. Até o momento, contudo, a Reitoria não se pronunciou sobre o ocorrido, expressando uma posição recuada em relação à defesa de seu quadro docente e da autonomia da instituição pública.

Ataques não são de hoje 

A UDESC e sua comunidade acadêmica, assim como a maioria das Instituições Públicas de Ensino Superior, sempre foram alvo de ataques de políticos bolsonaristas. Em 2016, Ana Campagnolo, que atualmente é deputada estadual pelo PL, realizou uma verdadeira perseguição coletiva junto de sua legião de fascistas, contra sua ex-orientadora de mestrado, a professora e historiadora especialista no estudo de relações de gênero, Marlene de Fáveri. Isso ocorreu após seu projeto de mestrado ter sido reprovado por suas conhecidas ideias reacionárias e negacionistas.

Neste ano, Alex Brasil e Jessé Lopes (PL) cismaram com a calourada unificada organizada pelo DCE da Udesc, que faz uma piada sexual e traz elementos do mesmo tipo no material de divulgação, e tentaram usar a festa como justificativa para tentar reviver um projeto de lei (235/2019) que propõe a obrigatoriedade de exame toxicológico para entrada de alunos na Udesc.  

A verdade é que a crítica ao DCE de falsa esquerda não é exclusividade dos bolsonaristas. Estudantes combativos e independentes também criticaram o DCE pela escolha do conteúdo e por se concentrarem mais em eventos festivos do que na organização do movimento estudantil. 

Além da polêmica com a festa, Jessé Lopes também atacou o evento de boas-vindas aos estudantes organizado pela própria Reitoria, que contratou a artista trans Susaninha para uma palestra. O evento ocorreu em um momento de debate sobre a expansão das cotas para pessoas trans, indígenas, quilombolas e com deficiência. 

Em resposta, a reitoria lamentou o nome escolhido pelo DCE, mas defendeu a escolha de Susasinha. 

Privatização

Os bolsonaristas também querem usar essa situação para justificar o corte de verbas da universidade. Em março, o governador Jorginho Mello disse que iria cortar da universidade por conta da “situação moral” da instituição e foi apoiado por Jessé Souza. “Manda governador, manda aqui para a Alesc um corte de verbas para a Udesc, que nós vamos aprovar”, disse ele, nas redes sociais. 

Fica claro que o ataque de Jorginho à universidade pública disfarçado de “defesa da moral” é uma desculpa para avançar com o projeto de privatização há anos em curso. Em 2023, Jorginho Mello lançou o Programa Universidade Gratuita com o objetido de pagar bolsas de estudo para pessoas de baixa renda em universidades “comunitárias”. É a chamada “privtiazação velada”, em que o governo investe milhões na Educação privada em vez de abrir mais vagas e unidades de universidades públicas. 

De acordo com estudo realizado pela Associação de Professores da UDESC (APRUDESC), somente em 2024 o Estado investiu R$ 471,4 milhões nas universidades comunitárias através do programa, o que equivale a 90% do orçamento da Udesc. Já em 2025,  o orçamento anual das comunitárias subiu para R$897 milhões, o que equivale a 98% do orçamento de R$ 908,9, de acordo com o Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. A Secretaria Estadual de Educação estima destinar mais de R$1,2 bilhão para o programa até 2026.

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No dia 24 de agosto, dezenas de estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) ocuparam o restaurante universitário (RU) de seu campus contra os preços abusivos cobrados pelas refeições oferecidas.
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É nítido que, desde 2023, as universidades comunitárias estão disputando cada vez mais o investimento governamental com a única universidade pública estadual. Jorginho Mello e sua camarilha escolhem investir em universidades privadas que já possuem orçamento próprio, proveniente de mensalidades e doações de empresas privadas, ao invés de destinar esse orçamento à UDESC. Com esse orçamento, a universidade poderia duplicar suas capacidades, valorizando o trabalho de seus técnicos e docentes, e ampliando as políticas de permanência de forma a expandir verdadeiramente o acesso à educação pública no estado.

As universidades comunitárias, desde sua fundação, têm por objetivo atender às demandas do empresariado catarinense. A título de exemplo, a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) possui um programa de Parceria Empresarial que  oferece bolsas de estudos para funcionários de empresas parceiras, sendo algumas delas a empresa do setor alimentício Seara, do grupo JBS, e a Cervejaria AMBEV pertencente à estrangeira Anheuser-Busch InBev. Outro beneficiado do programa de Jorginho Mello é o Centro Universitário SATC, de Criciúma, mantido pela Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina, cujo nome é autoexplicativo. A UniSATC atua na educação básica, no ensino médio técnico, no ensino superior e na educação corporativa para jovens e adultos.É nesse cenário que se inserem os ataques que a UDESC tem sofrido ultimamente de forma sistemática. Suas provocações se revestem de uma forma moralista, utilizando-se dos elementos mais reacionários do senso comum, mas seu fundamento é principalmente econômico. Alex Brasil, Jessé Lopes e companhia buscam desmoralizar a UDESC para criar uma opinião pública favorável à sua agenda privatizadora.

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