O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, como o explorador da fé Silas Malafaia, miraram de forma mais direta no ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, durante a agitação de extrema-direita montada na Avenida Paulista, São Paulo (SP), no dia 7 de setembro. Bolsonaro também voltou a atacar o atual mandatário, Luiz Inácio, e se referiu até mesmo ao assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018.
O discurso teve o tom elevado se comparado com o último evento de Bolsonaro, no dia 25 de fevereiro, em que ele evitou mencionar Moraes e desencorajou que os seus apoiadores galinhas verdes levassem cartazes contra o ministro.
O ato deste ano contou, no ápice, com 45,4 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP). É uma queda abrupta em relação ao evento anterior feito para cerca de 185 mil galinhas verdes.
Mesmo assim, o número do evento mostra que o ultrarreacionário Bolsonaro ainda conta com uma base de massas considerável, ainda mais se considerado que os presentes são apenas a base social mais ativa da extrema-direita bolsonarista.
“Eu espero que o Senado Federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva”, disse o chefete da extrema-direita. Bolsonaro também criticou o inquérito sigiloso que Moraes impôs contra ele.
Já Silas Malafaia defendeu abertamente um processo de impeachment e a prisão de Moraes.
A elevação do tom por Bolsonaro é claramente reflexo de uma situação em que, politicamente, o chefete da extrema-direita está melhor posicionado. Antes, era certa e inevitável a prisão de Bolsonaro, razão pela qual qualquer palavra mal colocada, constituindo crime, era vista como uma possível faísca que resultaria na prisão. Agora, Bolsonaro eleva o tom, afinal, está agraciado pelo desgaste de Alexandre de Moraes com Elon Musk e com Congresso Nacional, e dada a farsa eleitoral que obriga Bolsonaro a se posicionar de forma altiva para seguir sendo um cabo eleitoral eficaz. Claro que, também, o beneficia os desgastes do próprio governo, cuja baixa popularidade e descrédito no meio da esquerda favorece a mobilização da base social do bolsonarismo.
O ex-presidente pode ter calculado que, com esses desdobramentos, ganhou mais terreno para a ofensiva enquanto o ministro caiu para a defensiva.
Culpado pelo assassinato de Marielle Franco
Bolsonaro chegou a retomar o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. “Se não fosse aquela facada, Haddad teria ganhado as eleições e eu teria sido enterrado pelo responsável do assassinato de Marielle”.
Toda a família Bolsonaro ficou encorajada a retomar o assassinato desde a incriminação dos irmãos Brazão e a misteriosa falta de menção a Jair ou Flavio Bolsonaro no relatório final das investigações pela Polícia Federal (PF) em março.
A estratégia da família é usar o vácuo de relações no relatório fajuta para tentar eliminar as relações de Bolsonaro com o caso, que são várias. Bolsonaro e seu filho Flávio tiveram contato com quase todos os indivíduos ou organizações direta ou indiretamente envolvidas na execução: Élcio Queiroz, Ronnie Lessa, o “Escritório do Crime” de Adriano Nóbrega e os próprios irmãos Brazão.
No dia do assassinato, Queiroz chegou a ir no condomínio de Bolsonaro – onde também morava Lessa – e pediu ao porteiro para ir no apartamento do ex-presidente.
Bolsonaro também tinha interesses políticos claros no assassinato, uma vez que a extrema-direita bolsonarista já realizava, em 2018, atos explosivos para, por meio da desordem, precipitar uma intervenção das Forças Armadas no País. A agitação extremista de direita em meio à greve dos caminhoneiros também foi com este objetivo. E quando Marielle foi assassinada no Rio, o estado estava sob intervenção do Exército, especificamente de Walter Braga Neto, que nomeara, um dia antes da execução, o delegado Rivaldo, acusado de ter dado orientações diretas para os executores de Marielle de como cometer o crime, e depois, de atrapalhar as investigações.
O relatório não trata de nenhuma dessas relações e nem ao menos explica porque a família Bolsonaro foi descartada da lista de suspeitos e envolvidos.
Bolsonaristas e extrema-direita divididos
Outro aspecto que chamou atenção na agitação bolsonarista foi o clima de divisão nas fileiras da extrema-direita e do bolsonarismo. O clima veio à tona quando o candidato à prefeitura de SP, Pablo Marçal (PRTB), tentou subir no caminhão de som de Bolsonaro, mas foi barrado.
Marçal reclamou nas redes sociais. “Vocês acreditam que eu fui subir no caminhão e não deixaram? Então, obrigada pelo carinho, não sei quem mandou fechar o caminhão”, disse.
Em contraposição, o atual prefeito de SP, Ricardo Nunes, estava no trio.
Outro momento que escancarou o racha na base bolsonarista foi quando Malafaia disparou críticas contra Marçal. “Esse cara não é digno dos votos da direita, dos evangélicos, nem do povo de São Paulo porque mente, deturpa, engana para tirar proveito político”, declarou o fariseu.
Mas o ápice foi quando o próprio Bolsonaro desatou a gritar descontroladamente contra um outro carro de som, montado a 300 metros pela ex-aliada Carla Zambelli junto de reacionários como Deltan Dallagnol (Novo-PR) e o monarca Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PL-SP). “Vai fazer política em outro lugar!”, “Vagabundo!”, disparou Bolsonaro, incomodado com o volume. E concluiu, gritando para os galinhas verdes: “Sabotem, arranquem os fios daquele veículo”.