Bomba na Praça dos Três Poderes pode resvalar na anistia dos galinhas verdes e Bolsonaro

Ministros do STF dizem: "não vamos permitir que ousem debater anistia depois disso". Bolsonaro e oposição buscam se distanciar do atentado.
Corpo de Francisco Wanderley jaz ao lado de estátua em frente ao STF. 13 de novembro. Foto: EVARISTO SA / AFP

Bomba na Praça dos Três Poderes pode resvalar na anistia dos galinhas verdes e Bolsonaro

Ministros do STF dizem: "não vamos permitir que ousem debater anistia depois disso". Bolsonaro e oposição buscam se distanciar do atentado.

As bombas que explodiram na noite do dia 13 de novembro na Praça dos Três Poderes podem ter lançado estilhaços nas esperanças de anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que buscava usar a PEC de Anistia aos galinhas verdes do 8 de janeiro para minar o processo político da própria inelegibilidade. O clima de desesperança vem dos próprios bolsonaristas. “Agora vão enterrar a anistia. Pqp”, disse o deputado goiano Gustavo Gayer (PL), em mensagem no Whatsapp.

Os parlamentares calculam que a filiação de Francisco Wanderley Luiz, executor da explosão, no Partido Liberal (PL), de Bolsonaro, vai gerar um revés no processo. “Lá se foi qualquer possibilidade de aprovar a anistia”, comentou o deputado Capitão Alden (PL-BA), em resposta a Gayer. “Com certeza o inquérito das fake news será prorrogado ad eternum”. O deputado Eli Borges (PL-TO), seguiu o mesmo tom. “Se tentou ajudar, atrapalhou. Agora o Xandão vai dizer: ‘é a prova que o 8 de janeiro era necessário’”. 

Bolsonaro pede por “pacificação” tardia

Jair Bolsonaro parece entender os danos que o episódio pode causar ao processo, e apelou a um discurso de “pacificação”. “As instituições têm um papel fundamental na construção desse diálogo e desse ambiente de união. Por isso, apelo a todas as correntes políticas e aos líderes das instituições nacionais para que, neste momento de tragédia, deem os passos necessários para avançar na pacificação nacional. Quem vai ganhar com isso não será um ou outro partido, líder ou facção política. Vai ser o Brasil”, comentou o cabecilha da extrema-direita. 

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Bolsonaro também tentou se desvincular do episódio e de Wanderley. O ex-presidente afirmou que não conhecia o homem, o qual classificou de “maluco”. Já o relator do projeto da anistia dos atos de 08 de janeiro, Rodrigo Valadares (União Brasil), tentou imediatamente minimizar o peso do atentado, qualificando-o como um fato isolado.

Parece que, de fato, o atentado vai causar um revés nos planos de Bolsonaro, por mais que ainda não seja possível descartar completamente a anistia do capitão e seu retorno em 2026. De qualquer forma, é um abalo no otimismo do ex-presidente, que estava satisfeito com o avanço da PEC da Anistia no Congresso, com ajuda dos parlamentares do “centrão” angariados sob o bolsonarismo e com a eleição do ultrarreacionário Donald Trump no Estados Unidos. 

De olho em 2026

Com o novo episódio, o STF ganha fôlego para minar as intenções de Bolsonaro para 2026 – um objetivo central da Corte que, por mais que não tenha caráter democrático, vê em Bolsonaro uma ameaça a seus próprios interesses políticos, por conta dos ataques que o ex-presidente fez ao Supremo durante os últimos anos. “Não é possível falar em anistia para um golpe que ainda não morreu”, disse um ministro ao G1. Em telefonemas para os líderes da Câmara e do Senado o recado foi de que “não vamos permitir que ousem debater anistia depois disso”, segundo o mesmo jornal monopolista.

Não é à toa que o processo da anistia pode ser impactado pela explosão na Praça dos Três Poderes. Por mais que ainda seja cedo para traçar um paralelo direto de Francisco Luiz com a extrema-direita, as relações do ato do dia 13/11 com os galinhas verdes vão para além da filiação do sujeito ao PL. 

Extrema direita aposta na instabilidade política

Desde 2018, a extrema-direita bolsonarista tem feito ações em vários pontos do Brasil com o objetivo de causar distúrbios e provocar uma intervenção militar. Foi assim na cooptação da greve dos caminhoneiros, em 2018, e há vários elementos que indicam que o próprio assassinato de Marielle Franco, no Rio de Janeiro, em meio a intervenção militar, foi feito com o mesmo propósito. 

Anos depois, no dia 6 de setembro de 2021, bolsonaristas ameaçaram investir com caminhões contra o STF. A ação só foi impedida após a corte ameaçar decretar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Distrito Federal, pois a PMDF permaneceu passiva durante a ameaça. Em 12 de dezembro de 2022, durante a diplomação de Luís Inácio, o prédio da PF foi invadido e carros incendiados por toda a capital. Doze dias depois, um caminhão contendo explosivos foi plantado no aeroporto de Brasília. Tudo isso enquanto, em frente aos quarteis, amontoavam-se os galinhas verdes pedindo que o exército tomasse o poder. A sequência de atos foi concluída no 8 de janeiro.

Editorial – O criminoso bolsonarismo anistiado – A Nova Democracia
Em suma, conciliar com o bolsonarismo na luta de classes é a segunda forma de anistiá-lo, de fato, e neste crime tomam parte todos os oportunistas, inclusive o governo federal.
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Nos últimos dois anos, Bolsonaro seguiu a agitar sua base de massas, mediando o discurso de acordo com a correlação das forças políticas. Em atos organizados em 2023, o cabecilha da extrema-direita, em defensiva, evitou atacar diretamente o STF. O tom mudou no ato do dia 7 de setembro de 2024, na Avenida Paulista, quando Bolsonaro voltou a atacar a Corte e, particularmente, Alexandre de Moraes. 

A estratégia de Bolsonaro, pelo menos até então, era minar politicamente seu processo, classificando-o como “perseguição política” e usar da anistia aos condenados de 8 de janeiro para tentar reverter a decisão de sua inelegibilidade. Em entrevista à Folha de São Paulo disse: “Anistia para o 8 de janeiro. A minha [anistia] tem um prazo certo para tomar certas decisões. Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível. Ele que vai ter que dizer isso aí, mesmo que tivesse conversado com ele, não falaria. [Mas] tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse [a ser] candidato”.

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