Militar ianque revista mulher afegã no aeroporto de Cabul. Foto: Victor Mancilla / Reuters
No dia 29 de agosto, dois dias antes da retirada das tropas ianques (Estados Unidos, USA) do Afeganistão ser concluída, o USA realizou um ataque com drones em Cabul que deixou dez civis mortos, incluindo seis crianças. Duas delas tinham apenas dois anos. A ação ocorreu horas depois de o presidente Joe Biden prometer novos ataques contra o autodenominado Estado Islâmico-Khorasan, que assumiu a autoria pelo atentado suicida no aeroporto de Cabul de 26/08, em que morreram pelo menos 170 afegãos e 13 soldados ianques.
Dois dias antes, em 27/08, o USA já havia lançado outro ataque aéreo contra um membro do Estado Islâmico, na província de Nangarhar.
O ataque inconsequente e decidido unilateralmente pelo USA atingiu com um míssil Hellfire um veículo que continha explosivos, gerando explosões secundárias que destruíram casas e carros na proximidade, incluindo o veículo da família Ahmadi, localizada no bairro proletário de Khwaja Burgha, na capital afegã.
Segundo o The Washington Post, imagens compartilhadas na internet mostram dois carros queimados próximos a uma casa branca com várias janelas quebradas. Um morador do bairro disse em entrevista por telefone que uma criança havia ficado gravemente ferida e depois morrido, e o corpo de outra, encontrado debaixo de um carro.
“Esta era uma casa de família, onde meus irmãos viviam com suas famílias”, disse um parente da família Ahmadi ao monopólio de imprensa CNN. Ele confirmou também que entre os mortos no ataque de drone estavam seu irmão Zamaray, de 40 anos; Naseer, de 30; Zameer, 20; Faisal, 10; Farzad, 9; Armin, 4; Benyamin, 3; e Ayat e Sumaya, meninas de apenas 2 anos de idade. Além disso, de acordo com parentes, um dos mortos era um ex-oficial militar afegão que chegou a trabalhar para as forças do USA durante a ocupação do país.
Um vizinho, identificado como Ahad, relatou à CNN os momentos de terror vividos após o ataque ianque: “Todos os vizinhos tentaram ajudar e trouxeram água para apagar o fogo, e vi que havia cinco ou seis mortos. O pai da família e outro menino e havia duas crianças. Eles estavam mortos. Eles estavam em pedaços. Havia [também] dois feridos”.
Outra testemunha também falou ao monopólio, revoltada com a narrativa elaborada pelo imperialismo ianque após o ataque: “Os americanos disseram que o ataque aéreo matou membros do Daesh”, disse, referindo-se ao Estado Islâmico. “Onde está o Daesh aqui? Essas crianças eram do Daesh?”.
Além de assassinar uma família inteira, o bombardeio ainda danificou a estrutura de edifícios próximos, aumentando a possibilidade de mais pessoas se ferirem ou morrerem.
TESTEMUNHAS DENUNCIAM EXECUÇÕES DE CIVIS POR SOLDADOS IANQUES
Ademais das denúncias sobre o ataque a drones realizado em retaliação pelos soldados ianques mortos no aeroporto internacional de Cabul, o monopólio de imprensa Russia Today (RT) e jornalistas da BBC noticiaram que uma série de testemunhas do ataque do Estado Islâmico acusam soldados ianques de abrirem fogo arbitrariamente contra a multidão de civis no aeroporto, deixando um número indefinido de mortos.
Segundo o jornalista Secunder Kermani, correspondente da BBC no Afeganistão, os soldados teriam assassinado inocentes que esperavam no aeroporto para tentar como forma de “vingança” pelos militares ianques mortos no dia 26/08. “Muitos com quem falamos, incluindo testemunhas oculares, disseram que um número significativo de mortos foram mortos a tiros pelas forças do USA no pânico após a explosão”, disse Kermani.
Em um vídeo publicado pelo jornalista, um homem conta que seu amigo foi morto no ataque: “O cara serviu ao exército do USA por anos e [esta é] a razão pela qual ele perdeu sua vida”, disse um amigo mostrando a carteira de identidade de Hamid. “Ele não foi morto pelo Talibã, ele não foi morto pelo ISIS. O exército do USA começou a bombardear”. Quando questionado por que tinha tanta certeza de que seu amigo havia sido morto pelos ianques, e não pelo bombardeio, o homem diz: “A bala entrou em sua cabeça, perto de sua orelha”.
Esta não seria a primeira vez na história da ocupação ianque no Afeganistão que as forças do USA cometem um massacre de civis. Em março de 2012, por exemplo, o sargento ianque Robert Bales assassinou dezesseis civis e feriu outros seis no distrito de Panjwayi, no episódio que ficou conhecido como o massacre de Kandahar. Nove dos mortos eram crianças, e onze pertenciam à mesma família. Alguns dos cadáveres foram parcialmente queimados, a fim de se ocultar o crime.
No entanto, durante os quase 21 anos da guerra de agressão imperialista encabeçada pelo USA no Afeganistão, muitos outros massacres semelhantes ao do dia 29/08 jamais foram registrados, extinguindo famílias, hospitais, lavouras. E agora, apesar da retirada das tropas ter sido finalizada, o ataque feito por meio de aeronaves não tripuladas (drones) em Cabul evidencia como a intervenção ianque no país pode apenas vir a assumir novas formas.