O Brasil é o segundo país do mundo em que ativistas do meio natural mais são assassinados, de acordo com um levantamento feito pela ong Global Witness. Em 2023, ao menos 25 ativistas foram mortos no país. O Brasil só fica atrás da Colômbia, que lidera o ranking com 79 mortes. Os dados utilizados pela ong foram extraídos do relatório Conflitos no Campo de 2023, da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O número do ano passado representou uma queda em relação a 2022, que registrou 34 mortos, mas isso não significa que a violência no campo caiu. Enquanto o número de mortes de ativistas recuou, o número geral de conflitos pela terra cresceu, com um número recorde desde 1995.
De acordo com o relatório da CPT, houve no Brasil em 2023 um total de 2.203 conflitos no campo, sendo que, deste total, 1.588 correspondem a conflitos por terra, 251 por conta de trabalho escravo rural e 225 relacionados à luta pela água. Apenas três conflitos foram por motivos diversos. Para a CPT, a concentração de terras nas mãos do latifúndio e a falta de uma política de entrega de terras para indígenas e camponeses são o principal motor das mortes.
Como se observa no gráfico, ainda que com ligeiras variações, a tendência principal nos últimos dez anos tem sido o aumento das ocorrências de conflito no campo, o que corresponde a uma maior agudização da luta pela terra no País.
Ainda segundo o relatório, 45% das vítimas de assassinato são indígenas, 29% são camponeses sem terra, 12,9% são posseiros, 9,6% são quilombolas e 3,2% (um indivíduo) correspondeu ao assassinato de um funcionário da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) no Maranhão.
A situação se repete em outros países da América Latina, todos dominados pelo latifúndio, pela grande mineração e por megaprojetos do imperialismo. No México, que está logo abaixo do Brasil na lista, 70% das vítimas de assassinato são indígenas, e a maior razão das mortes são conflitos ligados à mineração.
O México vive um cenário de intensa violência contra os povos camponeses e indígenas, tanto por meio de tropas paramilitares quanto pela militarização imposta pelo Estado. Nos últimos anos, a luta de camponeses, indígenas e ativistas da preservação do meio natural contra o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec (uma grande ferrovia impulsionada pelo Estados Unidos) ganhou repercussão internacional. Ativistas revolucionários e de organizações locais foram assassinados no curso da luta contra o megaprojeto.
Na Colômbia, o principal motor da violência são os conflitos territoriais – nos quais o latifúndio tem elevada participação – e a atuação do narcotráfico, financiado e mantido pelo imperialismo norte-americano.
A Global Witness, que levanta desde 2012 dados comparativos dos países, aponta que a América Latina é responsável por 85% dos casos documentados de assassinatos de ativistas apenas em 2023.
Os dados reforçam o cenário de guerra civil rural que se impõe em países da América Latina, como o próprio Brasil. Paralelamente, a base comum entre a repressão de ativistas do meio natural e da luta pela terra indica como a destruição do latifúndio é de interesse tanto dos camponeses pobres e indígenas quanto de preservacionistas honestos.