A briga comercial entre a China e o Estados Unidos (EUA) mira seus canhões contra uma nova vítima: os minerais de terras raras do Brasil. Atualmente já exploradas pelos imperialistas, as reservas desses minerais no País tendem a ser crescentemente saqueadas nos próximos anos, segundo informações publicadas em jornais monopolistas essa semana.
“Estudei entre 600 e 700 projetos no mundo todo e, na minha opinião, o Brasil tem o melhor [acesso a terras raras pesadas]. O Brasil poderia mudar as regras do jogo”, disse a cofundadora da empresa canadense Neo Performance Minerals, Constantine Karayannopoulos, a uma reportagem sobre os terras raras brasileiros publicada ontem (17/04) no jornal monopolista ianque New York Times (NYT) pelo jornalista norte-americano morador do Rio de Janeiro, Jack Nicas.
Os terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos usados em vários setores industriais. Os mais importantes deles são os chamados terras raras “pesados”, responsáveis por garantir a manutenção do magnetismo de ímãs feitos a partir de ligas de elementos de terras raras. Eles são chamados assim por serem os elementos químicos com o maior número de prótons na tabela periódica.
Terras raras na batalha comercial
Esses elementos viraram uma peça-chave da batalha comercial depois que a China, no dia 04/04, suspendeu a exportação de seis metais terras raras pesados – que são completamente refinados na China – e de ímãs terras raras, 90% dos quais são produzidos na China, segundo informações do jornalista Keith Bradsher, também do NYT.
O bloqueio tem potencial de afetar bastante o EUA, porque, embora a superpotência norte-americana tenha cerca de 1,9 milhão de toneladas métricas de terras raras, a sua economia ainda depende de elementos saqueados de países semicoloniais e coloniais e refinados na China. “Drones e robótica são amplamente considerados o futuro da guerra, e com base em tudo o que estamos vendo, os insumos críticos para nossa futura cadeia de suprimentos estão paralisados”, disse o presidente executivo e CEO da empresa ianque MP Minerals, à reportagem de Bradsher.
Atualmente, os terras raras são essenciais em vários setores da economia ianque: carros elétricos, motores elétricos para carros com gasolina, lâmpadas fluorescentes, fibras ópticas para telecomunicações, lasers, reatores nucleares de submarinos, drones, robôs, turbinas eólicas e mísseis teleguiados são todos produzidos com esses elementos. Em outras palavras, a indústria automobilística, de energia e de defesa do EUA é parcialmente dependente desses minerais.
Brasil entra na mira
Nisso se insere o Brasil. O artigo publicado por Nicas é um chamado ao saqueio: “a enorme mina perto de uma pequena cidade rural no Brasil tem tudo para ser uma solução para o problema repentino do Ocidente de encontrar metais de terras raras essenciais”, diz o agente ianque.
Ele se refere à mina de Serra Verde, em Minaçu, Goiás. O local começou a ser explorado no ano passado a partir de um projeto das empresas norte-americanas Denham Capital e Minerals Group em parceria com a canadense Vision Blue Resources. Os bilionários imperialistas já investiram 150 milhões de dólares (R$ 878 milhões) na empreitada, que promete entregar centenas de toneladas de terras raras pesadas até 2027.
Apesar do foco de Nicas na cidade de Minaçu, há vários territórios brasileiros ricos em terras raras. O Brasil é o segundo país do mundo com maior concentração desses elementos, segundo a edição de 2025 do U.S. Mineral Commodity Summaries, só ficando atrás da China.
Há inclusive outras minas em atividade, mas dominadas por empresas imperialistas: a canadense MBAC coordena o Projeto Araxá (MG), de nióbio e terras raras; as australianas Virids Mining e Meteoric Resources, por sua vez, monopolizam a extração de terras raras em Poços de Caldas (MG); já o social-imperialismo chinês aproveita os elementos em Catalão (GO) por meio da subsidiária brasileira da China Molybdenum (CMOC) e de Pitinga (AM) por meio da Mineração Taboca, que foi comprada pela estatal chinesa CNMC.
O único problema para os imperialistas da América do Norte e da Europa é que, atualmente, a China monopoliza a capacidade de extração e refino das terras raras e a produção de ímãs com esses elementos. Mas isso está começando a mudar: a MP Minerals, que é financiada parcialmente pelo Pentágono, já consegue extrair e separar terras raras leves. O complexo industrial-militar está criando uma outra planta para extrair a versão pesada desses elementos, segundo Nicas. O mesmo jornalista diz que a França e a Estônia também estão investindo em projetos para conseguir extrair os valiosos elementos.
Voracidade e outros tempos
Com essas perspectivas, a voracidade dos imperialistas sobre os elementos terras raras brasileiros tende a crescer, com altos custos à Nação. Se o Brasil fosse um país independente, sustentado em um regime político e econômico que atendesse aos interesses do povo e da Nação, com uma economia autocentrada, o País poderia se beneficiar muito da exploração soberana desses elementos. Dados apontam que o país conseguiria arrecadar R$ 243 bilhões por ano ao PIB nos próximos 25 anos, com a extração, processamento e refino dos recursos.
E o processamento dos elementos não é algo tão distante: atualmente, o Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras, da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), atualmente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, começou a fabricar ímãs de terras raras. O projeto está nas mãos da grande burguesia, então não significa um grande progresso, mas mostra que o País, em um regime popular, nacional e democrático, pode atingir grandes saltos em pouco tempo.