Imigrantes amontoados em cela nos USA. Foto: General/DHS/Handout/Reuters
O trabalhador Natanael da Silva, de 25 anos, denunciou as torturas e humilhações praticadas por agentes ianques contra imigrantes que tentam entrar nos Estados Unidos (USA). Natanael é natural da cidade de Monte Negro, oeste de Rondônia, trabalhava como operador de máquinas agrícolas e é um dos 211 brasileiros deportados que chegaram ao Brasil, no dia 26 de janeiro, e desembarcaram no aeroporto Tancredo Neves, em Minas Gerias, em um avião fretado pelo USA. Esse foi o voo com o maior número de brasileiros deportados de uma só vez na história. Dentre eles, 90 eram crianças e adolescentes.
O trabalhador viajou acompanhado de sua filha, de seis anos de idade, no dia 21 de dezembro de 2021. Ele tinha a expectativa de conseguir no país um emprego para que pudesse sustentar-se e enviar uma ajuda financeira para familiares no Brasil.
O brasileiro Natanael Silva e sua filha de 6 anos. O trabalhador denunciou o tratamento desumano dado por agentes ianques a imigrantes estrangeiros que tentam entrar no país. Foto: Reprodução.
Em entrevista ao monopólio de imprensa, O Globo, o operador de máquinas agrícolas, relatou como foram as torturas e humilhações sofridas pelos imigrantes. Ele contou que ao atravessarem a fronteira do México com o USA, no dia 19 de janeiro, junto com outras famílias brasileiras, foram apanhados pela polícia migratória. Ele relata como é o tratamento aos deportados: “Os maridos são separados das esposas e os filhos permanecem com as mães. A quadra é dividida em várias pequenas ‘celas’, por plásticos transparentes, forrados com lona. No meu caso, fiquei com minha filha. É como se fosse um aeroporto. Tem uma pista de voo do lado da detenção”, contou o homem.
O local era uma base militar no Arizona e as famílias ficaram detidas dentro de uma quadra de concreto, ao lado de um aeroporto militar.
Dentro da quadra é onde as torturas começam. Os militares mantém as luzes constantemente acesas, a fim de impedir que os imigrantes diferenciem o dia da noite e para impedi-los de dormir.
Natanael também relata como os policiais do USA torturam os deportados: “Não apaga a luz para nada. Os guardas te maltratam. Fiquei seis dias preso, mas ainda consegui tomar dois banhos por causa da menina (a filha). Mas as pessoas passam dez dias sem tomar banho”, conta o trabalhador.
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Ele denuncia também que muitos brasileiros e outros imigrantes ainda estão presos na base militar: “Muitos estão testando positivo para Covid-19. Mas entre os brasileiros, ninguém acredita nesses testes. Acham que isso é para prorrogar o tempo de prisão”.
Mesmo dentro do avião, que trouxe as famílias de volta para o Brasil, agentes federais ianques ainda promoveram humilhações, não cessaram as torturas e agressões contra os brasileiros: “O voo foi somente de famílias. Não veio nenhuma pessoa que não estava acompanhada por crianças. Presenciei alguns pais sendo agredidos, mesmo algemados dos pés à cabeça. Para todas as crianças, é um trauma muito grande. Elas veem os pais sendo algemados e acham que vão ser separadas deles. Muitas gritam e choram. Vieram muitos bebês de colo. Os oficiais não têm empatia, não estão nem aí para as crianças. Tem que implorar para ir ao banheiro”, denuncia o brasileiro.
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Os imigrantes viajaram cerca de 10h em tais condições, com as algemas sendo retiradas apenas meia-hora antes do avião pousar. A Polícia Federal informou que, em 2020, cerca de 100 crianças de zero a cinco anos chegaram ao aeroporto Tancredo Neves deportadas do USA.
Situação de miséria, inflação e desemprego estimula migração
Com a situação de vida cada vez mais degradante no Brasil, com alto índice de desemprego, inflação em alta e demais problemas, muitos dos trabalhadores são seduzidos pela propaganda imperialista e acabam arriscando suas vidas e de suas famílias para chegarem a países como USA, Canadá e demais potências imperialistas, a fim de conseguirem uma melhor condição de vida.
Em 2021, a inflação chegou a 10%, impondo um aumento de 14% nos preços dos alimentos. Um em cada quatro brasileiros se encontra abaixo da pobreza, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sobre o desemprego, o IBGE estimou a taxa de desocupação em 12,6%, o equivalente a 13,5 milhões de pessoas. Porém, deve-se observar que dentro do grupo classificado como “ocupado” estão um número grande de massas que trabalham em subempregos e os trabalhadores “informais”. Dessa forma mascara-se o índice real de desemprego, pois estes trabalhadores atuam sem qualquer direito e de forma precarizada. Além dos desalentados, que são aqueles que desistiram de procurar trabalho de modo ativo e constituem a camada mais profunda do exército de reserva, representando cerca de 65,5 milhões de pessoas ou 30% da população do País.
Além dos mais, como explicitado no último Editorial Semanal – Economia esfarrapada, situação explosiva: “os juros bancários crescem e impõem uma indecente transferência de renda do país ao capital financeiro, levando à quebradeira geral os pequenos e médios burgueses (burguesia nacional), que por sua vez são os que empregam maior contingente de trabalhadores e, portanto, cuja desgraça mais impacta a nação como um todo”.
Foi nesse contexto caótico que a enfermeira brasileira Lenilda dos Santos, de 49 anos, viajou para o USA em busca de melhores condições de vida. Contudo, a mulher foi encontrada morta, no dia 17 de setembro de 2021, abandonada com fome e sede. Ela morreu quando tentava fazer a travessia no deserto localizado na fronteira entre USA e México.
Imperialismo saqueia nações oprimidas e impõem miséria ao povo
Esses trabalhadores imigrantes são em sua maioria oriundos de países da América Latina, subcontinente historicamente vilipendiado e saqueado pela superpotência imperialista USA.
Com isso, os povos das nações coloniais e semicoloniais do continente, são obrigadas a conviver com a exploração da força de trabalho, longas jornadas, salários baixos e ausência de direitos trabalhistas, tudo isso para maximizar os lucros das empresas imperialistas estrangeiras.
Os imperialistas também podem impor medidas autoritárias e de repressão, contando com burgueses e reacionários locais, como no caso da América Latina, por exemplo, ou mesmo utilizando suas tropas em terreno, como acontece atualmente em países do Oriente Médio e da África. Dessa forma, promovem invasões, genocídios, massacres, guerras de rapina, saques e pilhagens dos recursos minerais dos países oprimidos, impondo a miséria a tais povos.
Para fugirem da pobreza e das guerras, muitas dessas massas oprimidas migram para os países imperialistas. Porém quando chegam a tais destinos, são exploradas de forma desapiedada e tratados como cidadãos de segunda classe. Acabam submetidos a superexploração e colocados nos piores postos de trabalho e sem qualquer direito. Também viram alvo de racismo, xenofobia e chauvinismo.