Caminho do Peabiru: O desafio do mistério do “Santo Fantasma”

Foi lançado no dia 9 de novembro mais um livro da jornalista Rosana Bond, de Florianópolis/SC, sobre o Peabiru, um caminho milenar indígena que unia o oceano Atlântico ao Pacífico.

Caminho do Peabiru: O desafio do mistério do “Santo Fantasma”

Foi lançado no dia 9 de novembro mais um livro da jornalista Rosana Bond, de Florianópolis/SC, sobre o Peabiru, um caminho milenar indígena que unia o oceano Atlântico ao Pacífico.
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Foi lançado no dia 9 de novembro mais um livro da jornalista Rosana Bond, de Florianópolis/SC, sobre o Peabiru, um caminho milenar indígena que unia o oceano Atlântico ao Pacífico.

Desta vez Rosana, que já escreveu 5 obras sobre o assunto (publicadas digitalmente pela Editora Aimberê/A Nova Democracia) e foi apontada pela TV-BrasilBBC News, Revista Fórum e outras mídias nacionais e estrangeiras como uma das maiores especialistas brasileira no tema, tratou de uma figura sobrenatural conhecida por povos indígenas como Sumé.

Tal ente é que teria aberto a trilha de 4 mil km “através de ações mágicas e divinas”, conforme foi revelado à autora.

O livro O Caminho do Peabiru e a Desafiante Lenda de Sumé, contendo 150 páginas, foi lançado em versão impressa limitada (*) em evento no Restaurante do Gugu, na praia florianopolitana de Sambaqui, pelas Edições Rumo à Vitóriade Curitiba/PR, que prepara uma versão digital, mais completa, para o primeito trimestre de 2024.

Informes inéditos dos guaranis

Embora a personagem seja apresentada algumas vezes como São Tomé, apóstolo de Cristo, isso é negado por indígenas guaranis do Morro dos Cavalos (aldeias continentais ao lado da ilha de Florianópolis), aos quais Rosana conseguiu entrevistar.

“Apesar da sacralidade e silêncio protetor com que os guaranis cercam o Sumé, tive a honra de obter sua confiança através de conteúdos inéditos sobre o ‘fantasma santificado’ transmitidos a mim, resultado de quase 30 anos de amizade e troca de conhecimentos peabiruanos”, comentou a pesquisadora.

Novidades documentadas 

A nova obra de Rosana traz importantes novidades aos leitores e estudiosos de História, Antropologia, Arqueologia, Geografia, dentre outras. “Embora seja um tema já tratado por diversos autores, consegui incluir elementos diferenciados, todos com perfil científico, excluindo suposições sem sustento confiável.”  

Além da entrevista exclusiva com os guaranis, outra parte arrojada do livro é a confirmação da existência de escritos, ainda preservados, provavelmente do ano de 1514, dando o primeiro informe ao mundo sobre a passagem de Sumé (ou um hipotético similar S.Tomé) pelo hoje Estado de S.Catarina.

Outro elemento importante no livro é a pesquisa erudita do jurista, ex-desembargador e professor José Alberto Barbosa, de Jaraguá do Sul/SC, membro do Instituto Histórico e Geográfico de SC.

Um desenho no deserto

Mais um componente novo na obra de Rosana é a revelação extraordinária da Arqueologia chilena, do litoral do Pacífico, sobre a presença de Sumé naquele ponto da América do Sul, comprovada por um gigantesco geoglifo de autoria indígena, no deserto do Atacama, estudado por um arqueólogo da Universidade de Tarapacá.

“Este professor do Chile, para minha surpresa, fez questão de ser um dos prefaciadores do livro, após destacar minhas pesquisas sobre o Caminho do Peabiru, que segundo ele é o mesmo caminho que chega ao seu país como resultado de ato mitológico e religioso de um personagem chamado por indígenas regionais como Taapac ou Tarapacá, um nome diferente do nosso.” 

Falseamentos catarinenses       

Rosana diz que a adoção de critérios rigorosos em seu trabalho (característica enaltecida por um  historiador-professor da UNILA, Universidade Federal da Integração Latino-Americana, no prefácio da obra) é um contraponto necessário a um problema sério que vem ocorrendo em SC.   

“Todos já estamos fartos das fake news históricas, geográficas, arqueológicas etc, que vêm sendo propagadas nos últimos tempos, originadas principalmente em Joinville e Garuva (SC), as quais envolvem até uma grave versão, embora risível, de que incas andinos participaram de obras peabiruanas catarinenses”, diz a escritora.

Ela tem denunciado a conduta de propaganda enganosa de um comissionado joinvilense, “que insiste em dizer que o Caminho do Peabiru passava por sua cidade e por Garuva e que, por meios políticos, induziu ao erro deputados estaduais que aprovaram uma lei da Rota Turística do Caminho de Peabiru, que agora terá que ser refeita.”      

Vídeo de nazista

Dias antes do lançamento do livro de Rosana, uma moradora de Garuva simpatizante do projeto turístico do comissionado joinvilense, publicou em rede social, ao estilo bolsonarista de insinuar polêmica, um vídeo sobre S.Tomé e o Peabiru.

“A tentativa talvez tenha sido a de mostrar, como uma provocação juvenil, que há outros trabalhos sobre o assunto, além do realizado pela Rosana”, comentou um pesquisador de Jaraguá do Sul.  

No filme, não atual, aparece a fala de um homem com cerca de 50 anos, em idioma espanhol, não identificado pela postagem da moradora garuvense, apresentando um conteúdo distorcido sobre o Peabiru e Tomé.

Embora se tenha tentado esconder o autor da fala, ele foi descoberto em seguida por busca na internet.

Tratava-se, ninguém mais ninguém menos, do nazista argentino-francês, Jacques de Mahieu. Ele, cujo nome verdadeiro era Jacques Auguste Léon Marie Girault, foi ativista da velha extrema-direita europeia; colaborador do governo hitlerista de Vichy (1940-44), na França; membro da 33ª Divisão de Voluntários da SS (polícia nazista responsável pela maioria dos crimes alemães cometidos na Segunda Guerra Mundial) e veio fugido para a Argentina após a derrota na guerra.

Para o nazismo, Peabiru foi viking

Mahieu faleceu em B.Aires em 1990, mas antes escreveu vários livros sobre esoterismo, que misturava com teorias supostamente antropológicas inspiradas num racismo dito  “científico”, de superioridade da raça branca nórdica.

O homem do vídeo postado pela moradora de Garuva, simpatizante do joinvilense, escreveu sobre a América pré-colombiana sob a ótica do nazismo esotérico, defendendo que várias obras indígenas famosas foram realizações dos vikings (ou “ensinadas” por eles), inclusive o Caminho do Peabiru.

Ele esteve no Paraguai nos anos 1970 e afirmou que tribos Guayaki eram descendentes dos vikings. Assim como defendeu uma presença destes nórdicos em diversos outros países latino-americanos, como Bolívia e Venezuela, igualmente no Brasil (Amazônia e Piaui).  

(*)O livro, que possui capa artesanal revestida em tecido de algodão cru, pode ser adquirido com o editor Téo Souto Maior pelo número (41)9936-9636, Curitiba/PR, ou pelo e-mail: [email protected]

O livro A saga de Aleixo Garcia- O descobridor do império inca e a coleção História do Caminho de Peabiru (Volumes 1,2 e Extra), edição digital da Aimberê/A Nova Democracia, pode ser encontrada no site da Amazon 

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