Caminhoneiros e camponeses da Argentina e Peru realizam greve por tempo indeterminado

Caminhoneiros e camponeses da Argentina e Peru realizam greve por tempo indeterminado

Caminhoneiros e camponeses da Argentina estão em greve por tempo indeterminado desde o dia 22/06, realizando bloqueios em diversas vias do país, protestando contra a escassez do diesel e seu altíssimo preço, assim como contra o preço dos fertilizantes. Já no Peru, a greve se iniciou com diversos bloqueios por motoristas e camponeses e manifestações no dia 27/06.

Caminhoneiros em greve há 5 dias na Argentina

Caminhoneiros bloqueiam a Autopista/Buenos Aires. Foto: Juan José García

Caminhoneiros argentinos estão mobilizados em mais de dez províncias, e a principal via de chegada a Buenos Aires, a Buenos Aires – La Plata, permanece bloqueada desde o início da greve. Os motoristas protestam contra a escassez de diesel nos postos de gasolina por todo o país. Eles denunciam a enorme diferença de preço entre a gasolina na capital e no interior, sendo que a da capital pode chegar a ser até 78% mais barata que a do interior. Isto prejudica ainda mais os camponeses e o povo das áreas rurais.

Algumas associações camponesas que se juntaram à greve também denunciam que o preço do diesel mais utilizado na produção agrícola teve um aumento de 20%, além da impossibilidade diante da crise de realizar a manutenção de veículos, tratores, colheitadeiras e maquinaria agrícola em geral.

O governo argentino anunciou na última semana um aumento de 12% no preço do diesel, elevando o preço por litro para 126 pesos (cerca de R$ 5,31) para o diesel comum, e 145 pesos (R$ 6,11) para o diesel premium.

Durante a greve, aconteceram protestos em Río Negro, Neuquén, Santiago del Estero, Corrientes, Misiones, Entre Ríos, Córdoba, Santa Fé, Catamarca e Buenos Aires. Atualmente são cerca de 60 bloqueios em todo o país. 

Em Córdoba, camponeses se juntaram aos caminhoneiros no bloqueio da Rota 9 e denunciaram que não há como realizar o escoamento da colheita com a atual escassez de diesel nos postos.

Em um bloqueio na cidade de Dock Sud, no dia 23/06,  parte da área metropolitana de Buenos Aires, a mobilização dos caminhoneiros foi tão grande que o Ministro de Segurança da Província de Buenos Aires, Sergio Berni, foi ao local para esbravejar ameaças contra o povo: “Vocês tem cinco minutos para tomar uma decisão, se não o fizer, vou detê-los a todos e tomar os caminhões. Terminarei de retirá-los amanhã às 5 da manhã, não me importo”, disse o reacionário. O ministro dos Transportes de Buenos Aires também ameaçou denunciar os caminhoneiros que cortaram a rodovia La Plata-Buenos Aires.

Em Tucumán, no dia 22/06, os caminhoneiros resistiram a uma brutal repressão policial após um grupo de reacionários tentarem os atacar para furar o bloqueio. Os caminhoneiros foram atacados duas vezes seguidas, uma delas pela polícia. Os agentes do velho Estado detiveram 10 caminhoneiros e seus veículos também foram apreendidos.

Os caminhoneiros ainda afirmaram que continuarão na greve e que pretendem expandir os cortes de vias de forma surpresa, além de terem se decidido por uma mobilização até a capital do país.

Motoristas do transporte e camponeses iniciam greve no Peru

Policía Nacional do Peru reprime caminhoneiros durante greve. Foto: Julio Reaño/@Photo.gec

No dia 27/06, motoristas e camponeses iniciaram uma greve. Os caminhoneiros estão dispostos a realizá-la por tempo indeterminado e os camponeses anunciaram uma paralisação de dois dias. Os camponeses exigem que sejam entregues os fertilizantes prometidos pelo governo oportunista de Pedro Castillo, e os caminhoneiros reivindicam que se abaixe o preço dos combustíveis e que seja estabelecida uma taxa operacional mínima para os fretes, uma vez que os caminhoneiros não estão conseguindo manter seus caminhões, ou mesmo ter o mínimo para sobreviver.

Diante da greve, o governo do ultrarreacionário Pedro Castillo já declarou imediatamente estado de emergência por 30 dias na rede rodoviária nacional e mobilizou mais de 177 mil policiais para reprimir os trabalhadores.

Mesmo diante da presença de enormes contingentes policiais pelas estradas, os trabalhadores do transporte bloquearam a rodovia rumo à província de Huaral, resistindo à repressão policial que tentou os dispersar do bloqueio. A ponte de Picanaqui, em Junín, também se encontra bloqueada e em Arequipa, são mais de 6 mil caminhoneiros em greve que estão realizando bloqueios, além de diversas outras províncias mobilizadas. Em San Martín, camponeses realizam bloqueios de via em dois pontos diferentes.

Os sindicatos corporativistas de transportistas e camponeses estavam em negociação com o governo de Pedro Castillo meses antes da greve, para ver se conseguiam atingir um acordo antes que as massas se mobilizassem. Entretanto, devido à insatisfação e revolta geral das massas de trabalhadores, os sindicatos pelegos não tiveram opção senão iniciar a greve.

O velho estado Peruano e o governo do ultrarreacionário Pedro Castillo, desde o início do ano, já cumpriram o triste papel de reprimir operários, camponeses, trabalhadores autônomos, caminhoneiros, professores em uma grande greve geral em 28 de março que durou por dias. A greve geral de então se iniciou com uma greve de caminhoneiros.

Crise na América Latina

A inflação que afeta o mundo inteiro na atual crise de superprodução imperialista tem afetado especialmente a América Latina, devido ao atrelamento umbilical do subcontinente à superpotência hegemônica única, o Estados Unidos (imperialismo ianque). Isso faz com que a inflação gerada pela alta no preço dos combustíveis e a alta nos juros naquele país afete especialmente os países latino-americanos, assim como a crise que só poderia rebentar naquela superpotência de forma mais devastadora, trará também suas maiores consequências sobre essa região.

A primeira edição do Fórum Econômico Mundial, organizada em Davos, na Suíça, em 26 de abril, deu a previsão de que a América Latina é a região que mais sofrerá com a “inflação muito alta” em 2022. O Estudo mostra que, para 86% do colegiado, há alto risco de inflação na América Latina neste ano, sendo que os que projetam risco “muito alto” são 47%.

Além disso, a América Latina passa por um período recente de grave crise política e social, podendo-se destacar principalmente as grandes rebeliões contra a crise no Chile (2019), Equador (2019) e Colômbia (2021). Inclusive, o subcontinente é o que apresenta os menores níveis de confiança nos velhos Estados e nas instituições de todas as regiões do mundo. O país que mais confia no velho Estado nessa região é a Costa Rica, com 48% (menos da metade da população), e o que menos confia é o Brasil, com 17%.

Tudo isso configura uma grave crise do capitalismo burocrático na América Latina, que já provoca grandes ebulições de massas e mesmo fogo nas pradarias, com a atual grande rebelião camponesa no Equador agitando todas as massas latino-americanas para a luta e convidando-as a cercar as cidades pelos campos em protestos combativos.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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