No dia 20 de dezembro, camponeses da área Ponte Aliança Operário Camponesa (Para Terra I) em Varzelândia, Norte de Minas, conquistaram o título da terra. Durante vinte anos as famílias estiveram endividadas, só concretizando a compra das terras no ano de 2019. Os camponeses adquiriram uma dívida coletiva que foi se tornando praticamente impagável. Mesmo sem conseguirem quitar a dívida, as famílias não se deixaram abater pela pressão do banco e do velho Estado e das dificuldades para realizarem investimentos em suas propriedades, se organizaram para produzir, vivendo do fruto do seu trabalho e suor, produzindo inclusive para abastecer parte do mercado local de Varzelândia e região. Nesse período, muitos foram os desafios enfrentados para permanecer nas terras da antiga Fazenda Espírito Santo, exercer a sua posse, produzir e hoje conquistar o título de propriedade.
Quando pensaram que a dívida com o banco estava quitada e que teriam seu tão sonhado título da terra, uma pilha de burocracias e exigências ambientais que envolvia altas cifras se apresentou, como por exemplo, o georreferenciamento o que levou a atrasarem mais uma vez seus planos. Diante disso, os camponeses contrataram uma empresa privada que realizou todo o serviço, parcelando o pagamento, emitindo os laudos necessários para que a Associação Camponesa pudesse então realizar as entregas dos títulos, tudo por conta das próprias famílias.
Camponeses celebram conquista de título na Área Ponte Aliança Operário Camponesa (Para Terra I). Foto: Comitê Velho Chico
Camponeses celebram conquista de título na Área Ponte Aliança Operário Camponesa (Para Terra I). Foto: Comitê Velho Chico
Faixas com dizeres “Titulação das terras já para todos os camponeses e quilombolas!” são estendidas em celebração da conquista dos camponeses. Foto: Comitê Velho Chico
As famílias da Área da ponte Aliança Operário Camponesa, desde a constituição da comunidade em 1998, já possuíam certa “tradição” em realizar trabalhos coletivos e uma forte solidariedade no enfrentamento dos problemas cotidianos. Mas com certeza foi a organização da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) que marcou definitivamente a comunidade com a edificação da ponte da Aliança Operário-Camponesa sobre o Rio Arapuim em 2006, onde as famílias, juntamente com as várias comunidades quilombolas, do Sindicato Marreta e da Liga Operária, construíram de forma coletiva e independente de qualquer órgão do Estado, tudo com trabalho coletivo e voluntário a estrutura em apenas cinco meses. Desde então, outras iniciativas surgiram como resultado do entusiasmo da comunidade que passou a perceber a força de sua organização. Diversas formas de trabalho coletivo foram desenvolvidas, baseadas no companheirismo e solidariedade, como as produções coletivas de milho, feijão, abóbora, alface e pimenta.
O recebimento do título é mais um marco na história da comunidade, é uma vitória econômica e política. Para celebrar, as famílias da área realizaram um ato para entrega dos títulos e confraternização que contou com a presença de 300 pessoas. Estiveram presentes representantes de diversas comunidades da região, a Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia, Marreta/Liga Operária, Movimento Feminino Popular (MFP), Comitê de apoio a luta pela terra e alguns órgãos, como Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater–MG), Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (CMDRS), Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Varzelândia e a prefeita da cidade, que sempre apoiou as famílias.
O início da celebração foi marcado por homenagens a todos os companheiros tombados na luta pela terra, especialmente ao companheiro Cleomar Rodrigues de Almeida, assassinado em 2014 a mando do latifúndio, ao companheiro José Fonseca, o querido Pelé e vários outros companheiros da área que lutaram pela conquista de um pedaço de terra. Ao relembrar destes camponeses, muitos não seguraram as emoções, e isto pôde ser visto nos olhos das dezenas de pessoas presentes.
Nas intervenções, um representante da LCP falou da situação política do país e que em meio às diversas propagandas sobre a entrega de títulos, muitas áreas já foram legalizadas, mas não receberam o título da terra e que este tem sido entregue aos latifundiários grileiros de terra. O militante também destacou que o governo do fascista Bolsonaro e também o governador Romeu Zema, prometeram a Titulação das Terras que iria beneficiar pequenos e médios proprietários, inclusive no Norte de Minas, mas até agora só há propagandas e burocracia.
O representante ressaltou a luta contra a corporativização das massas na região, a luta contra o oportunismo que fomentam as disputas entre os pobres e remediados do campo, derivando em divisões entre o povo que só servem aos seus verdadeiros inimigos de classe, que são os latifundiários.
Um representante Liga Operária denunciou operação de guerra promovida pela Polícia Militar de Rondônia, do governador Marcos Rocha e seu secretário de segurança pública, José Hélio Cysneiros Pachá, e da Força Nacional de Jair Bolsonaro, com a tentativa de despejo ilegal dos camponeses das Áreas Tiago Campin dos Santos e Ademar Ferreira. As diversas intervenções, lembraram das conquistas da área e que foi através da união, luta e organização, que hoje os camponeses conquistaram os títulos das terras.
Faixas com a consigna “Titulação das terras já para todos os camponeses e quilombolas!”, “Viva Revolução Agrária! Morte ao latifúndio!” e “Viva a Aliança Operário Camponesa!” enfeitavam a celebração. Os camponeses encerraram a celebração com fotos e vídeos históricos da comunidade e um grande jantar para todos os presentes.
Faixas com dizeres “Viva a Revolução Agrária! Morte ao latifúndio!” são estendidas em celebração da conquista dos camponeses. Foto: Comitê Velho Chico
Cerca de 300 pessoas estiveram presentes na celebração da conquista dos títulos da terra no Norte de Minas. Foto: Comitê Velho Chico
Cerca de 300 pessoas estiveram presentes na celebração da conquista dos títulos da terra no Norte de Minas. Foto: Comitê Velho Chico
Cerca de 300 pessoas participaram da janta que ocorreu no encerramento da celebração da conquista dos títulos da terra no Norte de Minas. Foto: Comitê Velho Chico