Camponeses e indígenas tomam terra da Usina São Fernando no MS, PM monta cerco

A Polícia Militar mobilizou soldados e a tropa de choque para o local. Os militares montaram um cerco contra o acampamento, que pode sofrer tentativa de despejo a qualquer momento. As denúncias estão sendo repercutidas em tempo real na página do Instagram comite.da.terra.prometida.

Camponeses e indígenas tomam terra da Usina São Fernando no MS, PM monta cerco

A Polícia Militar mobilizou soldados e a tropa de choque para o local. Os militares montaram um cerco contra o acampamento, que pode sofrer tentativa de despejo a qualquer momento. As denúncias estão sendo repercutidas em tempo real na página do Instagram comite.da.terra.prometida.

Camponeses organizados na Frente Camponesa de Luta (FCL) unidos com indígenas Guarani-Kaiowá tomaram no dia 18 de janeiro “as terras roubadas as terras roubadas pelos latifundiários Guilherme e Maurício Bumlai, filhos do contumaz criminoso José Carlos Bumlai – preso na Operação Lava Jato por corrupção passiva e gestão fraudulenta de instituição financeira” em Dourados, Mato Grosso do Sul, segundo um manifesto da própria organização.

As terras da Usina São Fernando são do povo!, diz a organização, no manifesto. De acordo com os camponeses, as terras eram da Usina São Fernando, que faliu anos depois da inauguração em 2009, em meio a “escândalos de relações nada republicanas entre seus proprietários e os governos”.

Frente Camponesa de Luta toma terras da Usina São Fernando. Foto: Reprodução

A Polícia Militar mobilizou soldados e a tropa de choque para o local. Os militares montaram um cerco contra o acampamento, que pode sofrer tentativa de despejo a qualquer momento. As denúncias estão sendo repercutidas em tempo real na página do Instagram comite.da.terra.prometida.

“Conquistar a terra, destruir o latifúndio”. Foto: Reprodução

Esquemas bilionários ocorreram nas disputas da posse da terra. A Usina São Fernando deu um calote milionário aos trabalhadores após a falência. As terras da Usina somam uma dívida de R$ 2 bilhões.

Outros “favorecimentos ilícitos” foram dados a “empresas bilionárias que têm interesse em abocanhar uma gorda fatia das terras da falida Usina”, informa o manifesto, antes de acrescentar que “os criminosos de colarinho branco deixaram de pagar R$ 600 milhões a bancos públicos, R$ 229 milhões em impostos, R$ 53 milhões para os trabalhadores da Usina, ainda devendo outras centenas de milhões a credores.

Parte das terras da Usina São Fernando está sobreposta a um território Guarani-Kaiowá, segundo o manifesto. Os camponeses também informam que a Usina contratou pistoleiros que ameaçaram queimar os barracos de indígenas após a retomada realizada na área do Takoha Apyka’i.

Crianças camponesas e Guarani-Kaiowá no Acampamento Terra Prometida. Foto: Reprodução

O manifesto pode ser lido na íntegra abaixo:

As terras da Usina São Fernando são do povo!

Na madrugada do dia 18 de janeiro de 2025, as terras roubadas pelos latifundiários Guilherme e Maurício Bumlai, filhos do contumaz criminoso José Carlos Bumlai – preso na Operação Lava Jato por corrupção passiva e gestão fraudulenta de instituição financeira – retornaram as mãos de quem são seus legítimos donos.  As terras da Usina São Fernando em Dourados são novamente do povo! Essa é a palavra de ordem defendida pela Frente Camponesa de Luta (FCL), que firmou uma aliança histórica entre os camponeses sem terra e os guerreiros Guarani-Kaiowá na justa luta pela terra em Mato Grosso do Sul.

A FCL tomando as terras da Usina São Fernando!. Foto: Reprodução

Após um acordo secreto e com um calote milionário aos trabalhadores que lá estiveram em processo que tramita em sigilo de justiça, as terras somam uma dívida de R$ 2 bilhões. Com tentativas de mais acordos envolvendo empresas bilionárias que tem interesse em abocanhar uma gorda fatia das terras da falida Usina São Fernando, pedidos de afastamento de juízes interessados nos negócios e sob alegações de favorecimento ilícitos, os criminosos de colarinho branco deixaram de pagar R$600 milhões a bancos públicos, 229 milhões em impostos, 53 milhões para os trabalhadores da Usina, ainda devendo outras centenas de milhões a credores.

Bandeira da Frente Camponesa de Luta (FCL). Foto: Reprodução

As polêmicas da Usina São Fernando datam de anos atrás. Criada em 2009 com a falsa promessa de que daria empregos a milhares de trabalhadores e aproveitando o boom da cana, a Usina São Fernando foi produto típico da aliança entre o governo federal petista e os grandes latifundiários que abocanhavam investimentos milionários antes da decretação formal da falência de suas empresas. Não por acaso, poucos anos depois, foi decretada a falência da São Fernando em meio a denúncias e escândalos de relações nada republicanas entre seus proprietários e o governo.

Em 2013, outra polêmica envolvendo a Usina São Fernando. As denúncias de que parte das terras arrendadas pela Usina encontravam-se em território Guarani-Kaiowá avolumaram-se após a invasão de pistoleiros contratados pela Usina ameaçarem queimar os barracos indígenas após retomada realizada na área do Tekoha Apyka’i. A guerreira Damiana Cavanha, nhandesy e liderança histórica dos Guarani-Kaiowá, travou dura batalha para retomar parte de seu território roubado pela família Bumlai, em momento em que a aliança entre o latifúndio e o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) era tão sólida a ponto de José Carlos Bumlai emprestar seu jatinho particular para o então presidente da República Luiz Inácio. Tão profunda era esta aliança que quase a metade do valor da Usina São Fernando surgiu de empréstimos de dinheiro público, liberados pelos apaniguados do governo de ocasião. Somente no governo de Luiz Inácio, a Usina São Fernando conseguiu empréstimos nos valores de R$ 540 milhões do BNDES e R$ 240 milhões do Banco do Brasil. As acusações de irregularidades na concessão de empréstimos públicos foram amplamente noticiadas. Também, a imprensa local noticiou algumas das vezes que o presidente da República apareceu para visitar a área.

Por mais que tentem enganar com falsas negociatas, onde os ladrões de terra apenas trocam o nome de suas empresas para seguir explorando terras que pertencem à União; e através de acordos com governos a nível federal e estadual, não vão nos enganar. Estas terras pertencem aos camponeses, que plantam e colhem com seu suor o que a cidade almoça e janta. Há quanto tempo esta e tantas outras terras endividadas, griladas e devolutas não estão empoeiradas nas gavetas do INCRA? Por isso afirmamos: de agora em diante estas terras pertencem ao povo!

Indígenas e camponeses se uniram na tomada de terra. Foto: Reprodução

Enquanto as classes dominantes pugnam entre si para ver quem tenta colocar suas mãos na massa falida da Usina São Fernando, aqueles que da terra vivem e nela trabalham, tomaram-a com suas próprias mãos em uma justa luta contra todos aqueles exploradores e ladrões de terra. A Frente Camponesa de Luta (FCL) conclama todos os apoiadores a defender a justa luta pela tomada das terras da Usina São Fernando! Que todos os camponeses, operários, povos indígenas, trabalhadores e estudantes saiam em defesa do agora acampamento Terra Prometida!

Agora já, agora já: toda São Fernando nós vamos conquistar!
Terra de corrupto e caloteiro agora pertencem ao povo!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Viva o acampamento Terra Prometida!

Dourados, 18 de janeiro de 2025

Frente Camponesa de Luta – MS

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