Reproduzimos a seguir, de forma integral, matéria publicada pelo portal Gente de Opinião sobre apoio de pequenos comerciantes a retomada realizada pelos camponeses em Corumbiara, escrita por Montezuma Cruz.
Já no primeiro dia, pequenos comerciantes da região doaram mais de 20 litros de leite para auxiliar mães com filhos pequenos. A cada dia chegam mais famílias para acampar e lutar por um pedaço de chão no que restou da Fazenda Santa Elina.
Lideradas pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LCP), ao amanhecer de domingo (16) diversas famílias tomaram a Fazenda Nossa Senhora, no município de Chupinguaia, na região sul do estado, a 675 quilômetros de Porto Velho.
Nesse local ocorreu, 25 anos atrás, o Massacre de Corumbiara, que teve 11 mortos, entre os quais, dois policiais militares.
Reconhecida pelo próprio Incra como latifúndio, a fazenda situada na linha MC-01 mede a terça parte da antiga fazenda que resultou no conflito de 1995. São aproximadamente 6 mil hectares de terras griladas para a formação de pasto e criação de gado bovino.
A chegada de famílias às terras vem ocorrendo em clima pacífico e de entusiasmo, diante da possibilidade de produzir. Com a retomada das terras antes exploradas para o benefício de alguns poucos, famílias camponesas se comprometem agora a colher suas safras para vendê-las e criar emprego no campo, beneficiando diretamente os municípios de Corumbiara, Chupinguaia e Cerejeiras.
A LCP constatou o título de propriedade e o Contrato de Alienação de Terras Públicas foram falsificados, o que causou ainda mais problemas judiciais para seus donos.
“Enquanto latifundiários falsificam documentos, enriquecem os países imperialistas, destroem nossas florestas, exploram os peões, assassinam camponeses e indígenas, milhares de camponeses pequenos e médios são responsáveis por mais de 70% da produção de alimentos que abastece a mesa dos brasileiros, segundo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, mencionou hoje (19) a Liga.
O corte dos lotes obedece ao mesmo modelo adotado dez anos atrás. Pouco antes do final de 2013, o governo federal anunciava 92 decretos de desapropriação de 193,5 mil hectares de terras para a reforma agrária no País. O Ministério do Desenvolvimento Agrário revogava naquela ocasião portaria interna que tratava da “nova sistemática de obtenção de terras destinada a esse fim”. O governo acenava pouco depois com a ‘qualificação dos novos assentamentos’, que sofreu críticas de parlamentares “porque permitiriam o favelamento rural”.
Segundo avaliou a LCP, a mobilização das famílias em seus lotes levou ânimo a outros acampados vizinhos. “Ao mesmo tempo,animou pequenos e médios comerciantes da região,os quais doam alimentos para as famílias”.
Uma semana antes, na manhã de 9 de agosto passado, a LCP mobilizou camponeses na praça de Corumbiara, lembrando a chacina da madrugada daquele dia, em 1995, e exigindo justiça ”para os crimes do latifúndio”.
SAÍDA PARA A CRISE
“A profunda crise geral do capitalismo burocrático agravada pela pandemia e a consequente piora das condições de vida do povo com a diminuição dos já parcos empregos nas cidades rondonienses têm lançado milhares de trabalhadores ao desemprego”, acusa a nota da LCP.
A situação, conforme, o movimento, possibilita que mais famílias “vejam a tomada das terras do latifúndio como saída para a crise”.
A nova tomada de terras tem atraído camponeses de várias regiões vizinhas. Famílias que conseguiram seus lotes estão chamando outras, e até parentes, “para conquistarem seu pedaço de terra e o direito de trabalhar”.
25 anos após a Batalha de Santa Elina, camponeses retomam a área que restava do latifúndio. Foto: Folha de Vilhena