Caos na saúde piora e povo revoltado exige tratamentos

Caos na saúde piora e povo revoltado exige tratamentos

Enterros são realizados durante à noite em Manaus, para atender a demanda. Foto: Chico Batata

O Brasil começa a chegar ao pico da pandemia do novo coronavírus. No dia 28 de abril, foram confirmadas 474 mortes marcando um recorde triste no país, o de mais morte em um só dia.  São 5.017 mortes e 71.886 mil casos confirmados no país. O Brasil agora é o 9° país em número de mortes e o 11° em número de casos de Covid-19.

Diante da situação catastrófica em que foi abandonado, o povo lança sua revolta. Em Belém (PA) usuários do Hospital Abelardo Santos derrubaram o portão da unidade em busca de atendimento. Os pacientes ficaram desesperados ao serem informados que não seriam atendidos e que o pronto-socorro do Hospital só atenderia casos de Covid-19.

As unidades de saúde do estado do Pará estão superlotadas e o sistema de saúde e funerário estão colapsados. Um caminhão frigorífico foi estacionado no Instituto médico Legal (IML) de Belém para armazenar os corpos de casos suspeitos de Covid-19 e com o alto número de mortos a remoção de corpos está levando cerca de 20 horas.

Outra situação que demonstra a gravidade da crise que assola o país é a situação no estado do Amazonas, que tem 4,8 mil casos de Covid-19 e 380 mortos confirmados. Na capital Manaus, os cemitérios estão superlotados, com enterros sendo feitos coletivamente em valas comuns. Em breve a cidade pode ficar sem caixões. Manaus foi ainda a primeira cidade brasileira a ficar sem leitos de Unidade de Terapias Intensivas (UTIs) disponíveis.

A situação é tão grave que os corpos estão se acumulando em um contêiner refrigerado improvisado de necrotério. Apenas dois parentes podem comparecer aos enterros e a prefeitura está recomendando que as pessoas cremem seus parentes mortos.

Uma situação que ilustra bem a situação do maior estado brasileiros em extensão territorial é o caso da idosa Maria Portelo de Lima, de 61 anos, que faleceu no dia 26 de abril e só teve seu corpo retirado de casa 30 horas após o falecimento. A mulher apresentava sintomas do novo coronavírus há uma semana, mas o serviço de saúde nunca tinha uma ambulância para ir à casa da idosa, apesar da insistência de familiares.

Por volta do 12h do dia 26 a idosa teve um mal-estar e faleceu; o serviço funerário foi acionado, mas não apareceu. Por volta de 3h da manhã do dia 27 o corpo da idosa começou a cheirar mal e os parentes tiveram que sair de casa.

Os familiares chegaram a cogitar enterrá-la na beira de uma estrada dentro de uma velha geladeira. Os parentes colocaram algodões em suas narinas e cobriram a mulher com lençóis brancos. Somente após o caso aparecer no monopólio de imprensa é que um carro da SOS Funeral Manaus apareceu para retirar a idosa.

Na região Sudeste, onde o número de casos é o maior do país, a situação dos hospitais também é devastadora. No Rio de Janeiro uma enfermeira do Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, fez um Boletim de Ocorrência (BO) no dia 27 de abril para denunciar a falta de médicos na unidade. A denúncia ocorreu após uma mulher que estava internada com Covid-19 morrer sem que tivesse nenhum médico para atendê-la. 

A enfermeira Priscila Vilela autora do BO disse em entrevista que também vai acionar o Ministério Público e o Conselho Regional de Enfermagem. “Se os médicos estão pedindo demissão, a prefeitura tem que repor. Não tem como ter uma emergência de paciente de Covid sem médico lá dentro, pra poder prestar assistência. Tem passado plantões 24 horas sem médico lá dentro pra poder dar suporte”, disse Priscila ao monopólio Rede Globo.

O hospital está com o quadro de funcionário reduzidos após muitos profissionais de saúde terem adoecido e sete médicos terem pedido demissão por conta das péssimas condições de trabalho. Nos corredores do hospital foram registradas macas com corpos de pessoas mortas esperando vagas no necrotério que, segundo funcionários, está lotado.

Corpos em macas nos corredores do Hospital Lourenço Jorge, no Rio. Foto: Redes Sociais.

As trevas da subnotificação

Outro fato sombrio sobre o coronavírus no Brasil é a subnotificação. Há a suspeita que muitas mortes por Covid-19 não estão sendo notificadas pelo governo. O próprio Ministério da Saúde admitiu que não há como saber o número exato de casos de Covid-19 no país, devido principalmente à falta de testes em massa. Somente os casos graves são testados (em tese). Porém até mesmo o número de mortes e casos graves de Coronavírus é muito maior do que o divulgado pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais.

Alguns dos fatos que comprovam essa suspeita são o número total de mortes em São Paulo, em março de 2020, ficou 168% acima do registro oficial. Além disso, as internações por síndromes respiratórias aumentaram quase 10 vezes em 2020 no Brasil. Cartórios registraram aumento de 1.035% nas mortes por síndrome respiratória no Brasil em março e abril de 2020. Sem mencionar o fato de que o número diário de enterros em cemitérios públicos de Manaus aumentou 161% entre 9 e 25 de abril.

Caos na saúde reflete falta de investimento e descaso

A crise na saúde pública tem como principal culpado os sucessivos governos de turno da chamada Nova República. Uma das medidas que provoca todo esse caos é a Emenda Constitucional 95, aprovada em 2017 pelo Congresso Nacional, durante o governo Temer e mantida durante o governo Bolsonaro. Essa emenda congela durante 20 anos, o investimento em áreas socias como a saúde, por exemplo.

O governo Bolsonaro desde que assumiu, vem por meio do Ministro da Economia, Paulo Guedes, atacando a saúde pública com ameaças de privatizações e sucateamento.

Segundo o Conselho Federal de Medicina a estimativa é que exista um médico para cada 470 pessoas no país, em 2018 o governo de Cuba se retirou do programa mais médicos, após Bolsonaro declarar que ao assumir a presidência expulsaria os médicos cubanos do país.

Muito antes da crise do novo coronavírus, já era comum no país diversos casos que a espera para atendimento com especialistas, ou a realização de exames, levava meses. Em muitos hospitais pacientes eram atendidos em corredores, longas filas de esperara para receber atendimento, estrutura e higiene de hospitais completamente precárias, com falta de leitos, falta de EPIs  para profissionais de saúde e diversos outros problemas.

Aliado a isso, muitos hospitais e centros de pesquisas estão ameaçados de encerrar suas atividades por conta da falta de investimentos e mão de obra.

Para a secretária de Saúde do Trabalhador do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos Federais do RS (Sindiserf/RS), Rosemary Manozzo “para além do SUS, o que ocorre no governo em vigência são políticas voltadas à precarização das condições de vida e saúde da população, ou seja, verdadeiras políticas para a morte”.

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