‘Capitão Adriano’ morreu com tiro à queima roupa quando já estava deitado

‘Capitão Adriano’ morreu com tiro à queima roupa quando já estava deitado

Adriano da Nóbrega, do Escritório do Crime, foi morto em circunstâncias caracterizada por queima de arquivo. Foto: Reprodução

O paramilitar e ex-policial militar do Batalhão de Operações Especiais (Bope), morto em 9 de fevereiro de 2020, chamado Adriano da Nóbrega, foi atingido por uma bala quando estava deitado. A informação, revelada em novo laudo divulgado no final do mês de março, contradiz a versão dos três policiais envolvidos de que teria ocorrido troca de tiros. A suspeita principal, que é propalada desde os monopólios de imprensa, é de que houve “queima de arquivo” devido ao envolvimento desse elemento com grupos suspeitos de envolvimento com a extrema-direita. O fato foi denunciado por AND como tal há mais de um ano, em sua edição 231. Com isso, voltou-se à tona o nome do “Capitão Adriano”, chefe do Escritório do Crime. 

Fruto de uma verdadeira caçada que durou mais de um ano, a operação que resultou no assassinato de Adriano contou com a participação de integrantes do Bope do Rio de Janeiro e de integrantes da Polícia Militar (PM) da Bahia. Tendo início no dia 08/02, com cerca de 70 homens, a operação conjunta com as forças dos dois estados foi finalizada no dia seguinte com a participação de somente 3 homens, destacados para enfrentar o ex-capitão, conhecido atirador de elite. 

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Responsável pelo assassinato de Marielle Franco, o grupo paramilitar chefiado por Adriano da Nóbrega atuava, também, no ramo da agiotagem, exercia função de mercenários e tinha ligação com bicheiros. A ligação com o presidente fascista Jair Bolsonaro é apontada, segundo investigações, pela participação de Fabrício Queiroz no grupo. Preso por desvio de verba pública, Queiroz participava e dirigia o esquema que ficou conhecido como “rachadinhas”, que funcionava desde dentro do gabinete de Flávio Bolsonaro. Segundo novas denúncias, impulsionadas a partir da decisão do Superior Tribunal de Justiça, que rejeitou um pedido de Flávio Bolsonaro que visava estancar as investigações, o desvio de verbas englobava a todos da família Bolsonaro, incluindo aí os paramilitares como Adriano da Nóbrega (cuja mãe e esposa trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro).

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Cavalos de raça, coberturas de luxo, extorsão e homicídios

O paramilitar, além de comandar o grupo em ações cumprindo a política da extrema-direita (como o assassinato da deputada), estava envolvido em negócios escusos. Entre eles, a criação de cavalos de raça, que era usada para lavagem do dinheiro que vinha da atuação de extorsão. 

Em um áudio de uma ligação divulgado em investigação iniciada em 2018, é possível ouvir um integrante do grupo falando que não era para citar o nome do Adriano em ligações, pois ele estava foragido: “cê fica falando o nome do cara não! ‘Adriano corta braço, corta perna’ falando o nome do cara! (…) o papo dos cara [sic] é só papo de milhão, parceiro!”.

nova queima de arquivo

Em uma operação realizada no final de março, nove pessoas foram investigadas por suspeita envolvimento no Escritório do Crime. O paramilitar Luiz Carlos Martins foi assassinado na porta de sua casa no dia 20/03 em Realengo na justa ocasião que havia sido expedido um mandado de prisão contra si, por suas atividades ilegais. Luiz Carlos era homem de confiança do “capitão Adriano”. 

O sargento Luiz Carlos Felipe Martins morreu na rua Curumbé, no bairro de Realengo, zona Oeste do Rio de Janeiro. Luiz Martins era envolvido no Escritório do Crime. Foto: Reprodução

Bruno Gangoni, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), vinculado ao Ministério Público, confirmou a nova queima de arquivo: “Não tem como afirmar, mas às vésperas de uma operação como essa acontece uma coisa assim, é desconfiável. Tudo leva a crer que pode, sim, ter sido uma queima de arquivo” afirmou.

Martins e Nóbrega faziam parte do Grupamento de Ações Táticas (GAT) no início dos anos 2000. Adriano como líder e Luiz como policial integrante. O grupo tornou-se conhecido publicamente por promover verdadeiro terrorismo contra as comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro.

Em 2003, foram acusados de homicídio de um guardador de carros que denunciou o grupo na Corregedoria da PM. Ainda assim (ou por isso mesmo), Nóbrega e Martins receberam, juntos, a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), dada por Flávio Bolsonaro, por orientação direta de Jair, seu pai. Na visão dos fascistas, a honraria se deveu a que o paramilitar era um “brilhante oficial”. Adriano já trabalhou também como segurança de bicheiros cariocas, sendo preso por tentativa de assassinato em 2011. 

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