Termina-se finalmente mais um espetáculo de fantasia democrática brasileira, mais um show de horrores no coliseu das falsas lutas que é o coração do pão-e-circo do Brasil, encerra-se finalmente a farsa eleitoral de 2018 na escolha dos fantoches que irão assumir as cadeiras desse carcomido Estado, pútrido e fétido em seu âmago mais profundo, decomposto e sujo em sua mais intrínseca essência.
À par do tom poético dado à mais essa gigantesca farsa, não pude deixar de notar o grande entusiasmo de grande parte dos brasileiros com a vitória de Jair Messias Bolsonaro para a cadeira de Presidente do Brasil. Parece que o grito vitorioso que o médio brasileiro engoliu na Copa da Fifa com a derrota para a Bélgica fora agora solto, como se fosse uma gigantesca vitória do país e da nação. Devemos nos perguntar: de onde vem esse gritar de alegria e essa nobre euforia desse povo? Por qual razão essa se faz tão forte e intensa? Analisemos um pouco dessa sexta república brasileira:
A história já fez o povo brasileiro sentir na pele o gerenciamento do partido único da grande burguesia – PT/PSDB/MDB – que governou esse país desde 1985 até 2018 em 33 anos de exploração, pobreza, violência, descaso, abandono e opressão às populações menos abastadas, num regime antidemocrático, antipopular e, em triste suma, antipovo. A educação jogada às traças com os professores extremamente desvalorizados, médicos escassos e uma saúde precária à níveis semifeudais, uma verdadeira chacina genocida ao trabalhador do campo sem-terra, uma grotesca exploração do trabalhador urbano, uma cultura machista e misógina propagada e reproduzida diariamente e uma enorme opressão aos povos negros e indígenas regados ao mais cru preconceito oriundo de séculos passados – essa é a imagem desse país durante todo governo desse partido único da grande burguesia, o legado que nós hoje enfrentamos nessa gigantesca nação. Não é de se espantar que a revolta do povo não esteja cada vez mais intensa, mais crescente e mais pujante à cada dia, nem mesmo é de se espantar o crescimento da luta pela terra no campo e dos protestos e greves que tomam a cidades sejam cada vez mais ríspidas, mais firmes e felizmente mais coalizadas e organizadas – eis a roda da história à girar para frente.
Pois que ao observar esse avanço popular, a grande burguesia imperialista que domina esse país desde 1500 reagiu: criou um gigantesco espantalho e fincou-o no PT de Dilma Rousseff em 2016. Era o grande alvo, o bode-expiatório de todos os problemas do Brasil condensados em um único símbolo, um único partido, um único nome. A grande burguesia, gerente do Brasil, executou uma gigantesca campanha midiática em cima de escândalos de corrupção (dos quais ela à décadas já estava ciente, pois nesses participava ativamente) e jogou todos esses ao PT de Lula e Dilma; assim toda fúria do povo trabalhador e toda revolta teve finalmente um lugar para ser depositada, um receptáculo para ser redirecionada: “a culpa de todos os problemas do Brasil está no PT!” bradavam com férrea convicção.
Isso dividiu de forma incisiva os movimentos populares. Muitos acataram a lógica da grande burguesia e fizeram do PT a imagem do pior dos males, ao passo que outros começaram a defender o PT por alegar que esse representava o povo contra essa grande burguesia – Ambos estavam errados. O PT nunca foi a origem de todos os problemas brasileiros, tampouco é um partido que representa o povo legitimamente; trata-se apenas de uma das faces do partido único, uma das facetas da grande burguesia imperialista no Brasil, junto com praticamente todos, se não esmagadora maioria dos partidos que hoje concorrem às eleições. O PT sempre foi um lacaio da grande burguesia e nesse contexto o lacaio fora usado para dividir os anseios populares, confundir as massas e redirecionar a revolta do povo trabalhador.
Eis que surge então o paladino que iria finalmente combater tão famigerado e odiado PT – quase que inexpressível (além de desprezível) Jair Bolsonaro inicia então uma campanha de ódio ao PT e à “tudo que está ai” (no caso, PSDB, MDB e outros partidos menores que à esses eram ligados). Toda campanha antipetista culminou na adoração cega à um indivíduo reles e insignificante de caráter duvidoso e discurso odioso, pois esse entre todos é o que parecia odiar mais arduamente o PT, Lula e Dilma, tidos como a origem de todos os males do Brasil. A identificação do povo com esse antipetismo exacerbado se deu de forma
automática e com pouco dinheiro de campanha e muitos compartilhamentos em redes sociais Jair Bolsonaro nesse dia de hoje conseguiu atingir a cadeira presidencial do Brasil.
Ora, não estaria o povo contente com essas novidades e não celebraria com grande animosidade tal “vitória”? É evidente que sim, pois o povo, em verdade, está cansado de fato da continuidade da exploração, pobreza e violência de seu cotidiano e viram na figura de Bolsonaro aquele que finalmente iria resolver os problemas do país. Esse entusiasmo é a alegria e a fé do brasileiro no que é novo em contrapartida à velha exploração, no gosto pela novidade contra a já deteriorada e antiga ordem, no ânimo mais puro e patriótico pela renovação. Se algo ficou realmente claro, evidente e exposto nessa tão comemorativa noite é que O POVO QUER MUDANÇAS!
Esse entusiasmo é não só benéfico como necessário, mas o real problema está simplesmente em quem esse fora depositado. Bolsonaro está longe de representar mudanças, alterações ou renovações – ao contrário: o capitão agora presidente preza pela restauração da ordem da quinta república, do fascismo militar de 1964 à 1985 e não em algo verdadeiramente novo para nossa nação. A política econômica de Paulo Guedes, futuro ministro da fazenda do governo Bolsonaro, em pouco se difere de suas antecessoras – neoliberalismo em uma só palavra e nada além disso, recheado de privatizações e cassações aos direitos trabalhistas, tal como vem sendo feito desde 1985 (ou 1964).
Em pouco tempo (e quanto menos tempo, melhor) o povo irá sentir na pele que Bolsonaro não mudará a estrutura do país, não fará (e nem pode) terminar os problemas latentes que enfrentamos hoje e apenas irá dar continuidade ao status quo, à chacina do povo trabalhador sem-terra no campo e sem-teto nas cidades, a opressão e à exploração de nosso país preso à condição de semicolônia ianque.
A farsa eleitoral está concluída por mais uma vez; mais um ano de enganações, promessas jogadas ao vento, oportunismo exacerbado e muito, mas muito dinheiro do povo sendo rasgado nas sujas mãos dos verdadeiros criminosos desse país.
Todavia devo dizer: todos os verdadeiros democratas e verdadeiros patriotas devem comemorar os resultados dessas eleições. Sim, devem comemorar!
Comemorar a “vitória” de Bolsonaro? Obviamente que não. Mas sim comemorar o maior recorde de abstenções e votos nulos da história do Brasil! Mais de 42 milhões de eleitores brasileiros absterem-se de votar, além dos que já se abstiveram anteriormente e não foram contados. A ilusão das eleições está se deteriorando em progressão geométrica, pois está cada vez mais nítido que elas não podem trazer de fato as mudanças que o povo realmente precisa.
A revolta do povo está anestesiada… Muitos comemoram e muitos estão de luto, mas em pouquíssimo tempo essa reacenderá, ainda mais convicta, firme e determinada que anteriormente!
Àqueles que votaram em Bolsonaro (39%) e estão essa noite a comemorar – esses em poucos anos irão perceber que foram iludidos e enganados por mais uma mentira, e quando sentirem isso em sua própria pele sua revolta será intensa.
Àqueles que votaram em Haddad (32%) não o fizeram, em sua grande maioria, por apreço ao candidato, mas sim por repúdio lógico às ideias facínoras e odiosas advindas de Bolsonaro, que lhes causaram medo e repulsa aos seus valores democráticos. Sua maioria não se aproxima do PT, mas apenas vê em Bolsonaro a antidemocracia (e não sem razão). Nesses a revolta está guardada e ansiosa por mostrar-se.
Àqueles que não votaram convictamente ou convictamente anularam seu voto/deixaram-no em branco (29%) representam em maioria os que já perderam a confiança nas eleições, que já enxergaram o quão essas não passam de um grande engodo mentiroso para a população e já estão revestidos à tempos com a revolta.
É uma certeza histórica – a revolta do povo irá voltar, com a ainda mais fúria e com ainda mais vigor! À cada eleição mais é provado, de forma materialista, que as eleições são uma grande farsa! Cada vez mais o brasileiro perde sua confiança no processo eleitoral assim como na velha política e isso é necessário que aconteça de vez para que o povo realmente desperte e lute pelos seus direitos! A grande questão se passa, ao fim das contas, em redirecionar essa revolta popular para o verdadeiro inimigo – essa é chave para que realmente o Brasil possa mudar, deixar de ser uma semicolônia e se tornar um país verdadeiramente próspero, verdadeiramente independente e verdadeiramente democrático.
Novamente: o entusiasmo dos eleitores de Jair Bolsonaro prova o fato de que O POVO QUER MUDANÇAS! O povo vibra em emoção com as mudanças para o seu país! O povo anseia muito pelas verdadeiras mudanças! Infelizmente terá o povo de sentir na pele que Bolsonaro com toda certeza não trará essas mudanças e serão necessários alguns anos para tal – o que ao final apenas concentrará e potencializará sua revolta!
Compatriotas, não nos deixemos sermos iludidos pela eleição burguesa, pois essa nunca fora democrática e nunca se quer representou a democracia! Não nos deixemos sermos iludidos por promessas falsas nem da velha e nem da nova politicalha! Tão somente a revolução popular pode mudar esse país! Tão somente o braço do povo trabalhador pode destruir esse Estado podre e construir a verdadeira nação brasileira, popular e democrática em sua essência, próspera em seu âmago, forte em sua pura natureza!
ABAIXO A POLITICALHA!
ABAIXO O VELHO ESTADO!
ABAIXO A FARSA ELEITORAL!
VIVA A LUTA DO POVO BRASILEIRO!
VIVA A REVOLUÇÃO POPULAR!