Bolsonaro encontra-se com Secretário de Estado Mike Pompeo, janeiro de 2019. Foto: Marcos Correa/PR
Nota: Esta carta enviada à Redação de AND reflete a opinião pessoal do autor e não necessariamente a opinião do jornal.
Daqui um mês, mais especificamente no dia 10 de Abril, a “lua de mel” dos 100 dias de governo Bolsonaro encerra-se. A cega efervescência das redes sociais na campanha presidencial finalmente começou a se curvar perante a solidez dos fatos. O que fora feito até agora?
O suposto paladino que empunhou o escudo da moral e dos bons costumes e a espada do combate à corrupção provou-se ser em verdade um ladino de punhais envenenados de mentira, desvirtuação e aliciação. Antes mesmo de assumir a presidência, permanecem excepcionalmente mal explicados os 200 mil reais do caso JBS/PSL – caso esse que virou uma suja formiga próximos aos imundos elefantes do “motorista laranja”, dos escândalos de corrupção de Flavio e dos mais-que-evidentes envolvimentos nítidos do capitão com a milícia e, consequentemente com o assassinato de Marielle Franco. Isso apenas para fazer desvanecer completamente a ilusão de um honesto combatente do crime que edificou a campanha do sombrio “messias” e mostrar a verdadeira fase do criminoso que tal hecatiano “mito” é, pois esse também falha arduamente em improbidade comportamental – vede o escândalo do “golden shower” pós-carnaval.
Mas não focar-me-ei nessas questões, afinal o tema “corrupção”, após o impeachment de Dilma em 2016, se tornou a pauta central das discussões políticas e não tardará para que seja totalmente exposta a verdadeira face desse “novo” governo – que nunca teve nada de excepcionalmente novo. Até mesmo os maiores defensores de Bolsonaro em sua campanha estão a suspeitar de seus envolvimentos ilícitos, e por mais que não deem o braço a torcer e teimem a assumir o erro, a defesa do capitão está cada vez mais indefensável. Quero, todavia, chamar atenção para outro tema, mais voltado à incapacidade e incompetência administrativa desse governo em relação à sua postura internacional.
Em suma: as relações internacionais e de comércio internacional jogam-se ao previsto colapso. Não haveria como ser mais conciso e preciso em uma só afirmação.
A par do “desentendimento” com a Noruega, do qual nem precisa ser lembrado pela distinção e polidez da educação diplomática de nosso presidente (ou melhor, pela falta dessas), e também do quase incidente diplomático com os médicos de Cuba, que ocorreu antes mesmo de Bolsonaro assumir a cadeira presidencial, gostaria de chamar a atenção para decisões que ultrapassam a barreira da aceitação lógica do comportamento plausível de um chefe de Estado e de governo.
Recorro à história: em 1947, ao término da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo Brasileiro, o recém-eleito Presidente Eurico Gaspar Dutra toma uma medida minimamente inusitada às relações internacionais: rompe as relações do Brasil com a URSS. As razões pelas quais tal medida fora tomada estavam galgadas em rochas ideológicas – com o início da Guerra Fria, o Brasil queria expressar seu alinhamento com o mundo capitalista através da aproximação dos EUA e afastamento dos países socialistas. Já as razões pelas quais tal medida fora considerada inusitada baseiam-se no fato que nem mesmo os EUA, baluarte do capitalismo mundial, haviam rompido suas relações comerciais e diplomáticas com a URSS. Tal estapafúrdia posição do Brasil fora conhecida pelo jocoso dizer “tentar ser mais católico que o Papa” e na prática não fora se quer frutuosa para nosso país. Pelo contrário, o Brasil havia à troco de pura idealista esperança, perdido um parceiro comercial.
Esse fato histórico enterrou o realismo político das relações internacionais brasileiras e cremou o pragmatismo comercial internacional – fora um regresso ideológico ao piegas idealismo, do qual o Brasil aprendeu à duras custas sobre a necessidade de assumir uma posição mais pragmática e menos ideológica.
Ao menos foi o que se pensava. O presidente Jair Bolsonaro, devido a sua retórica antichina na tentativa de ser o suprassumo do anticomunismo, maldizendo tudo que se apresente como tal, provocou a indesejada queda na importação de produtos agrários brasileiros pela China no mês de fevereiro, com ênfase na soja. Além de seu palavreado antichinês, outro condicionante para isto foi a provável trégua da “guerra comercial” entre as duas potências. Mas, de qualquer modo, o resultado da queda da importação da soja brasileira pela China foi benéfico e muito aos EUA de Trump, que aumentou em grande escala suas exportações à bilenar nação asiática.
Guardadas as devidas proporções, o tabuleiro geopolítico assemelha-se ao de 1947, pois Bolsonaro – aparentemente por pura motivação ideológica e nenhum pragmatismo – provocou um afastamento (temporário, provavelmente) da China para aproximar-se dos EUA; um distanciamento das potências do leste para esboçar uma tentativa de aproximação com a potência do oeste, que no final rendeu um fracasso econômico e um grotesco exemplo de incoerência diplomática distante do realismo que exigem as relações internacionais.
Tanto na experiência de 1947 como na de 2019, a nação “vermelha” se manteve neutra e o Brasil apenas perdeu, com a diferença que na segunda experiência os EUA ainda lucraram com a decisão brasileira. Eis que a história se repete como farsa e posteriormente como tragédia, não?
O que de sobremaneira estranha-me sobre esse fato é que a campanha eleitoral de Bolsonaro esteve tão embasada no discurso que pretendia ser anti-ideológico e pró-nacional: além das tediosas ideológicas políticas e a puramente favor dos interesses nacionais. Tal medida política apenas prova concretamente uma promessa falha ou uma falsa propaganda, pois totalmente ideológica fora tal decisão de Bolsonaro, além de uma falha completa que muito prejudicará nossa economia.
E para que fique ainda mais profundo o abismo de estupidez diplomática de Bolsonaro: Dutra rompeu com a URSS de Josef Stalin enquanto essa ainda respirava e transpirava o verdadeiro socialismo. Lembremo-nos: em 1947 a URSS já havia abandonado a NEP, concluído dois planos quinquenais e quase um terceiro, além de ter acabado de vencer heroicamente a besta nazifascista de Hitler – a pátria vermelha de Stalin era, nesse momento, o grande expoente mundial do socialismo, hors concours em melhor educação e saúde públicas do mundo, além de segunda maior potência industrial e bélica que já houvera na humanidade. E a China que Bolsonaro fez tanta questão de romper por questões ideológicas? Essa abandonou o socialismo desde a morte do Presidente Mao Tsetung e o fim da Grande Revolução Cultural Proletária, sendo que a pouco mais de 40 anos está completamente imersa no capitalismo. O que significa isso? Pode-se resumir que Dutra cometeu um erro idealista devido a questões ideológicas entre o mundo capitalista e socialista, e ambos EUA e URSS, respectivos expoentes de cada mundo, apenas ignoraram a postura brasileira na época por ser tratar de um anão diplomático. Já Bolsonaro conseguiu cometer um erro ainda mais estulto em essência, afogado em ainda maior perspectiva de subserviência, pois entre uma potência imperialista (EUA) e uma social-imperialista (China), ao invés de manter o diálogo e o comércio com ambas e resguardar os interesses do Brasil e da nação brasileira, esse rompe gratuitamente com a segunda em benefício da primeira, denegrindo o Brasil do status de anão diplomático para mero servo dependente.
Não se faz necessário o aprofundamento dos estudar sobre a teoria das relações internacionais para se desenvolver uma compreensão pragmática do comércio exterior e da diplomacia. É algo já banal para os diplomatas e de conhecimento antigo para aqueles que operam tais relações tentar manter relações globais pragmáticas e não ideológicas, visando o bem-estar de sua própria nação. Não só os realistas das teorias da política internacional como até mesmo os neoliberais reconhecem isso facilmente.
Esse absurdo diplomático/comercial de Bolsonaro dispensa ser criticado exclusivamente pela esquerda. Trata-se de uma postura lesa-pátria de mais alto grau, um buscar inconsequente por agradar os verdadeiros imperadores do Brasil – o grande empresariado norte-americano – e ignorar completamente os produtores nacionais, e como sempre os que serão mais prejudicados serão os pequenos e médios produtores, principalmente os camponeses pobres.
Então que alguns estudiosos colocam o Brasil como um “anão diplomático” no xadrez global? Não, eles estão enganados, pois até mesmo um anão ainda pode ser independente! O Brasil é um servo do senhor EUA, uma semicolônia diplomática que responde aos EUA enquanto metrópole, sendo que suas relações internacionais não são nada além ditames ordenados aos berros pelo grande empresariado ianque.
É urgente a necessidade que o povo brasileiro reverta esse quadro e possa fazer de seu país um país independente, um gigante que é, uma nação forte e pujante que essa merece ser!
ABAIXO O SEMICOLONIALISMO DOS EUA!
VIVA A INDEPENDÊNCIA DA NAÇÃO BRASILEIRA!
VIVA A REVOLUÇÃO POPULAR DE NOVA DEMOCRACIA!