Carta do leitor: Facebook, ‘fake news’ e os monopólios

Carta do leitor: Facebook, ‘fake news’ e os monopólios

Carta de um leitor e apoiador do Jornal A Nova Democracia, de Campinas/SP

A matéria publicada no site de AND intitulada “Rede social aplica censura para contrapesar boicote eleitoral” assinada por Vini Oliveira, aborda a questão do problema dos ‘fake news’, porém de forma insuficiente, na minha opinião.

É claro que um monopólio ianque como é o Facebook tem interesses diretos na farsa eleitoral. Podemos observar isso no próprio envolvimento desta plataforma no escândalo recente da ‘Cambridge Analytica’, que em última análise, trata-se de manipulação de resultados, mas cujo negócio em si era venda de dados pessoais relacionada à veiculação de publicidade e propaganda eleitoral, muitas vezes de conteúdo falso ou duvidoso.

Mas o centro da questão, o ‘xis’ da questão, não é, como afirma a matéria de Vini Oliveira, a validação da farsa eleitoral pura e simplesmente. A grande questão é a disputa dos monopólios de comunicação sobre o mercado de publicidade e propaganda, sobretudo eleitorais. A matéria, a meu ver, erra então em apontar um alinhamento completo entre Rede Globo e Facebook como parte de um bloco único e hegemônico por sustentar os interesses do imperialismo, o que é uma análise unilateral.

Para entender: Ao Facebook tem sido destinado uma fatia cada vez maior da verba publicitária em geral. Monopólios de rádio e TV tem sido confrontados com uma concorrência de mídia que não existia há quase século no país, isso por si só já demonstra as condições para uma guerra entre eles. Por exemplo, o valor da publicidade no Brasil tem sido definido pela Rede Globo praticamente sozinha em todos canais que atua, além de que suas métricas de audiência e segmentação de público sempre foram alvo de críticas por serem uma caixa-preta para o anunciante.

Assim, o que temos visto ultimamente, é que o carro-chefe dos ataques dos monopólios de comunicação, Rede Globo à cabeça, às ditas “redes sociais”, divide-se em duas frentes: 1) Descredibilizar as redes sociais, Facebook principalmente, dizendo que são propagadoras em massa das chamadas ‘fake news’ (notícias falsas, em inglês); e 2) clamar à sua irrelevância para os resultados finais da eleição, alegando que os meios ditos tradicionais ainda têm mais inserção na população. Tudo com vistas a convencer o anunciante, as siglas do Partido Único, de que pode ser um prejuízo eleitoral grande em se ver envolvido num escândalo posterior, vide a crise que se abriu no gerenciamento Trump e que prossegue, em função do escândalo com o Facebook. Ou seja, em resumo, se trata de uma pugna comercial entre monopólios. Nesse sentido, podemos afirmar inclusive que o próprio escândalo do Facebook/Cambridge Analytica é parte e expressão dessa luta dos monopólios de comunicação, em esfera global.

Contudo, o Facebook move sapientemente suas peças e, ao contrário de defender as “novas formas de comunicação” contra as tradicionais, como vinha sendo seu discurso oficial até pouco tempo, aparentemente, adere à cruzada contra as ‘fake news’, utilizando-se de um controle mais rígido na aparência e eventualmente eliminando desafetos políticos de seus principais anunciantes (e aí pode entrar qualquer espectro ideológico). O Facebook tenta com isso salvar sua imagem para proteger seus negócios se cacifando com seus anunciantes como plataforma segura de anúncio, para o qual o boicote é evidentemente um empecilho. O que parece então um alinhamento com a Rede Globo é, na verdade, expressão de sua contenda com a mesma.

Claro que tudo isso tem efeitos colaterais, em geral, prejudiciais ao povo. Um deles é de jogar tudo que não venha das grandes agências de notícia do imperialismo no balaio das ‘fake news’, garantindo inclusive maior controle ideológico e até criando opinião pública para uma legislação que terminaria com uma repressão maior à imprensa popular e democrática, que seria ‘fake news’ nessa visão reacionária de jornalismo. Ou mesmo, o engajamento da gente do povo, em utilizar tais ferramentas digitais para denunciar, cobrar e protestar sobre sua condição de miséria, se torna alvo potencial dessa campanha repressiva.

Nesse sentido, o asseverado pela matéria de Vini como sendo o fim/‘xis’  da questão, é mesmo o efeito ou aparência necessária para os interesses econômicos por detrás. É necessário dizer que esse tipo de restrição, antidemocrática e reacionária, é para dar aparência de lisura para o processo da farsa eleitoral, mas com objetivo de que esta continue existindo enquanto negócio extremamente lucrativo para os monopólios de imprensa.

E, por fim, na minha opinião há um problema quando dizemos que a exclusão de algumas poucas páginas de “esquerda” contrapese o boicote eleitoral. Isso seria ter ilusões de que as páginas das redes sociais tenham tamanho peso para a propaganda revolucionária. Seria mais correto afirmar que “tentam” contrapesar.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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