Caxemira resiste à ocupação indiana após perder sua autonomia

Caxemira resiste à ocupação indiana após perder sua autonomia

Soldado indiano da ocupação fecha a entrada de uma rua, em Jammu, na Caxemira indiana. Foto: Rakesh Bashki/AFP

Após sete décadas, a autonomia da região da Caxemira foi suprimida em uma canetada assinada pelo fascista Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, no dia 5 de agosto. A autonomia da Caxemira, que luta por sua autodeterminação, era garantida desde 1949 pela Constituição, em seu artigo 370, sendo ela a única parte do país de maioria muçulmana, e não hindu. Após a destituição da autonomia de Jammu e da Caxemira, o governo indiano aumentou ainda mais a intervenção militar na região por meio do envio de tropas, impôs um toque de recolher em partes dela, prendeu centenas de pessoas e cortou as redes de telecomunicação. 

Ante o aprofundamento da condição colonial do país, o povo da Caxemira tem resistido com protestos e uma Greve Geral combativa contra as forças da ocupação, com vários conflitos relatados entre os jovens manifestantes e os soldados indianos. Os confrontos foram registrados principalmente na área de fronteira com a Índia, e nas duas capitais da Caxemira indiana: Jammu e Srinagar. A ONU e os vizinhos Paquistão e China já se posicionaram oficialmente, contrários à medida. 

Os dois artigos que foram removidos da Constituição pelo Parlamento indiano foram os de número 370 e 35A. O primeiro garantia a autonomia da região, que a permitia ter leis próprias, enquanto o segundo tratava mais especificamente dos direitos civis da população da Caxemira. Ele permitia que seus cidadãos tivessem direito a cargos públicos, bem como vagas nas universidades indianas, por exemplo.

Nos dias seguintes ao anúncio de Modi, centenas de manifestantes marcharam pelas ruas de Nova Déli, capital da Índia, contra a decisão. Também foram relatados diversos protestos no vizinho Paquistão. Eles denunciavam, em suas palavras de ordem, o genocídio contra a população da Caxemira e o expansionismo do governo fascista indiano, que vão contra a autodeterminação dos caxemires.

Manifestação em Nova Déli, capital da Índia, contra a revogação da autonomia da Caxemira. Foto: Altaf Qadri/AP 

Protesto em Nova Déli. Foto: Manish Swarup/AP

Manifestantes queimam imagens de Modi durante um protesto em Quetta, um dia depois da revogação da autonomia da Caxemira. Foto: Banaras Khan/AFP

O governo do Paquistão, que disputa a Caxemira desde 1947 e possui uma fração do território da Caxemira, anunciou, no dia 7 de agosto, a expulsão do embaixador indiano de seu país, bem como a suspensão dos acordos de comércio bilaterais com a Índia. Logo após a revogação do direito à autonomia da região, fez advertências sobre começar uma guerra. O conflito pelo território já causou pelo menos duas guerras entre o Paquistão e a Índia: uma durante sua independência do Reino Unido, em 1947, e depois, em 1965; porém, em 1999, os exércitos dos dois países já haviam iniciado uma batalha ao longo da fronteira. 

Além disso, a população da Caxemira demonstra uma proximidade com o Paquistão, devido a sua maioria muçulmana. Em 1989, inclusive, se iniciou um grande movimento armado de grupos que buscam a autodeterminação, dividindo-se, uma parte, àqueles que reivindicam se integrar ao Paquistão e, noutra parte, àqueles defendem a independência total da região. À época, a Índia também pôs a Caxemira sob estado de sítio e acusou o Paquistão de financiar e treinar o que chamam pejorativamente de “grupos separatistas”.

Mulheres da Aliança Nacional da Caxemira protestam em Lahore, no Paquistão, contra a decisão do governo indiano. A faixa diz: “Pare o genocídio na Caxemira”. Foto: KM Chaudary/AP

Manifestantes do “Fórum da Juventude pela Caxemira” queimam uma foto de Narendra Modi e a bandeira da Índia, no Paquistão. Foto: Arif Ali/AFP

A Associação Revolucionária de Escritores Virasam, grande apoiadora da luta dos maoistas indianos, escreveu uma nota em solidariedade à situação, condenando a repressão genocida da Índia contra o povo da Caxemira e de Jammu. Nela, pontuam que a revogação do Artigo 370 acabou com qualquer resquício de “democracia” que poderia haver na Índia. 

De acordo com a Associação, “esta é a prova da ditadura na forma de democracia parlamentar”, e denunciaram a prisão de lideranças políticas, incluindo ex-ministros-chefes de partidos na Caxemira que foram levados sob prisão domiciliar pelas forças da ocupação. Segundo o monopólio de imprensa BBC, entre os detidos estão Mehbooba Mufti e Omar Abdullah, dois ex-ministros-chefe da região.

Os 220 mil quilômetros quadrados da Caxemira, próximos à área do estado do Piauí, ficam espremidos entre a Índia, o Paquistão e a China, países com armas nucleares. Além disso, a região é de grande importância para o abastecimento de água, pois nela nascem os rios Ganges e Indo, que são, respectivamente, os principais rios da Índia e do Paquistão, e também é onde está o vale da Caxemira, onde percorre o rio Jhelum. A região foi dividida politicamente pelo Reino Unido, após a independência da Índia e do Paquistão.

Foto: Getty Images 

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