Policiais encapuzados tomaram as viaturas de dentro dos batalhões. Foto: José Leomar/SVM
Agentes da Polícia Militar (PM) do estado do Ceará estão em greve desde o dia 18 de fevereiro. Os agentes cobram reajuste salarial por parte do governo do estado. Uma parte dos militares grevistas, demonstrando uma significativa organização paralela à estrutura da instituição, provavelmente está vinculada a grupos paramilitares (“milícias”) para espalhar instabilidade ao governo do estado.
No dia 18, três policiais foram presos por cercar uma viatura e furar os pneus da mesma. Porém no mesmo dia ocorreram em toda capital e região metropolitana, diversas ações semelhantes. No interior do estado, nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Iguatu e Sobral, batalhões amanheceram fechados do dia 18 para o dia 19.
Os militares rebelados contra o velho Estado furaram pneus de viaturas, levaram veículos policiais e ocuparam pelo menos quatro batalhões. Em Sobral, no dia 19, homens encapuzados e dirigindo viaturas, sem fardamento ou identificação, mandaram os comerciantes fecharem as portas do comércio no centro da cidade.
Senador baleado
No dia 19, o senador Cid Gomes/PDT disse na internet que iria até a cidade de Sobral, seu feudo político, para “levar a paz” e acabar com a greve. Porém, o senador ao tentar furar o bloqueio do 3º Batalhão da PM de Sobral com uma retroescavadeira levou dois tiros.
Levado para Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital do Coração de Sobral, o parlamentar não corre risco de vida e já foi transferido de helicóptero para um Hospital particular de Fortaleza.
O batalhão de Sobral funciona de forma parcial e policiais do Comando de Polícia de Choque (CPChoque) foram deslocados para atuarem no local, na repressão aos próprios policiais. Mais de 300 policiais estão respondendo a Inquérito Policial Militar (IPMs) e processos disciplinares por envolvimento nas paralisações, segundo o secretário da Segurança Pública do Ceará, André Costa.
Em João Pessoa, na Paraíba, veículos da PM também foram atacados e tiveram seus pneus esvaziados na noite do dia 19. Segundo testemunhas, os homens também estavam encapuzados e disseram ser policiais militares. Além disso policiais militares, policiais civis e bombeiros anunciaram uma paralisação das 12h até às 0h do dia 19 de fevereiro.
Cid Gomes foi socorrido logo após ser baleado quando tentava entrar no 3° Batalhão de Polícia Militar de Sobral. Foto: TV Globo
Crise nas instituições
A greve da PM do Ceará faz parte de um processo que vem se arrastando desde o ano de 2019, com protestos, assembleia e reuniões sendo constantemente realizadas, embora seja considerado motim e crime militar, com vistas a discutir o reajuste salarial dos soldados, que atualmente é de R$ 3,2 mil e passará para R$ 4,5 mil em um aumento progressivo até 2022.
Embora generosa, a proposta não foi aceita por parte dos policiais, que passaram a ser insuflados por um setor extremista, que é acusado de desenvolver atividades paramilitares no interior da instituição.
Tal processo de esfacelamento e divisão no seio das instituições, agora também nas de tipo militar, é parte da crise geral do velho Estado. Frente à crise econômica, política-institucional e social, de desmoralização da velha ordem diante das massas populares (situação que cria o perigo de Revolução e de levantes populares) os setores mais extremos da reação, como fascistas e paramilitares, passam à ofensiva e quebram a unidade mesmo nos aparatos militares.
Em 2017 o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou ilegais as greves de agentes de “segurança”, considerando que estes por fazerem parte do braço armado do Estado não podem fazer paralisação. Com base na decisão, vários ministros do STF como Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski repudiaram a greve dos militares. Segundo Lewandowski a greve dos policiais “é um perigo para as instituições”.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, mandou para o Ceará, no dia 20/02, 300 militares da Força Nacional e 212 policiais rodoviários federais para atuarem de forma ostensiva e repressiva no estado. Os agentes ficaram no estado por cerca de 30 dias.
O presidente fascista Jair Bolsonaro, também no dia 20, assinou o decreto da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), e autorizou o emprego das Forças Armadas na região. As tropas ficarão no estado até o dia 28 de fevereiro.
Tropas da Força Nacional desembarcaram em Fortaleza, no dia 20 de fevereiro. Foto: Thiago Gadelha/SVM