No dia 4 de setembro, dezenas de moradores indígenas Tapebas da cidade de Caucaia, dos bairros de Capuã e da Vila dos Cacos, no Ceará, se mobilizaram para manifestar sua revolta com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) a respeito do projeto de duplicação da rodovia federal BR-222, que passou por cima das necessidades e interesses das comunidades afetadas por ele. Além disso, também denunciaram o descaso da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que permitiu o avanço das obras dentro do território indígena.
O protesto, que contou também com a participação de um pequeno grupo de estudantes simpatizantes da luta pela terra, foi organizado e dirigido pela Associação Indígena Atãbaré, uma organização democrática formada por lideranças locais que romperam com antigas lideranças ligadas ao oportunismo eleitoreiro, especialmente ao atual governo de turno do PT.
A reunião dos moradores se iniciou por volta de 10h00, que recolheram pedras para bloquear a nova duplicação da BR-222, que ainda não está sendo utilizada. Já ás 10h55, a população Tapeba decidiu começar o bloqueio à velha BR-222, e conseguiu bloquear completamente o tráfego de carros, caminhões, caçambas e carretas que transportavam hélices de energia eólica, permitindo apenas motos passarem. Minutos após o início do bloqueio, representantes do DNIT e agentes da PRF chegaram ao local para tentar dispersar os manifestantes numa fracassada tentativa de convencê-los a desistir do ato, que mesmo assim prosseguiu por cerca de 1 hora. A Funai, por sua vez, sequer enviou um representante para atender às demandas da população local.
Historicamente, o povo Tapeba foi uma das primeiras etnias reconhecidas pelo governo do Ceará, estado em que houve uma tentativa de extermínio de todas a populações indígenas. Mesmo sua luta sendo antiga, o povo Tapeba ainda não possui todas as suas terras demarcadas. O “marco temporal” também foi denunciado na manifestação, e os indígenas prometeram manter a luta independente da aprovação ou não da medida: “Com ou sem Marco Temporal vai ter luta, pois nada do que temos hoje foi dado pelo governo, e sim pelas retomadas.”
Portanto, esse povo de luta não se renderá às bravatas pró-latifúndio e imobilistas do governo de que não é preciso ter luta. As massas vão defender-se contra as investidas reacionárias e anti-povo realizadas ora por agentes do velho Estado, ora por organizações privadas, e já avisaram que o novo trecho da BR-222 não será liberado até a população local ter suas demandas atendidas. O povo se levantará em defesa da retomada de suas terras e da demarcação, queiram os latifundiários e demais classes dominantes ou não.