CE: O obscurantismo bolsonarista na UFC

CE: O obscurantismo bolsonarista na UFC

Abraham Weintraub e Cândido Albuquerque. Foto: Banco de Dados AND

No atual cenário de truculentos ataques aos direitos do povo, as universidades brasileiras não ficaram e não ficarão de fora. Presenciamos inúmeras empreitadas orquestradas contra várias instituições de ensino superior públicas em âmbito nacional, nas esferas estadual e federal. Esses ataques ao ensino público fazem parte dos planos do governo de Bolsonaro e generais do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA).

Um caso específico e que nos salta aos olhos são as investidas do obscurantismo bolsonarista na Universidade Federal do Ceará (UFC), a mais importante Instituição de Ensino Superior (IES) pública do povo cearense, justamente em um cenário de pandemia de Covid-19 onde as universidades públicas e suas pesquisas científicas ganham uma importância ainda maior.

O reitor e o vice-reitor da UFC, Cândido Albuquerque e Glauco Lobo, respectivamente, ambos interventores à serviço do Ministério da Educação (MEC) do reacionário Weintraub, seguindo os métodos dos seus amos bolsonaristas, realizam discursos e práticas antidemocráticas e reacionárias na “gerência” da universidade.

Não foram eleitos pela comunidade acadêmica para os cargos em que se encontram, pois a chapa na qual concorreram à eleição para a Reitoria da UFC foi a que teve menos votos. Ficaram em 3º lugar. Por meio de acordos sigilosos e servindo a interesses opostos aos dos setores progressistas e democráticos da universidade, apertaram a mão de Weintraub e conseguiram suas nomeações para os cargos mais altos de uma universidade.

Precisamos, porém, expor claramente o conteúdo e a forma das nossas análises e das nossas práticas, sabendo nos diferenciar dos setores oportunistas de “esquerda” do movimento estudantil (ME), técnico, docente e sindical das universidades. Os atuais “modelos” de autonomia e de democracia universitárias não atendem aos amplos interesses da comunidade acadêmica, bem como contribuíram para a ascensão de setores bolsonaristas a cargos de gerência e direção nas IES.

Os problemas da lista tríplice e dos processos de votação para reitoria encontram-se no fato de que são ferramentas indicativas, sendo opcional o presidente da república nomear a chapa mais votada. Um outro modelo defendido pelo oportunismo nas universidades é o da paridade eleitoral, onde técnicos-administrativos em educação (TAE’s), estudantes e docentes compartilham de uma igual porcentagem de peso e representação nos votos computados em um processo eleitoral para uma reitoria.

As lutas de classes percorrem as universidades em nosso país, demonstrando suas contradições internas e externas, bem como reforçando que o único caminho para conquistarmos autonomia e democracia nas instituições de ensino é avançarmos as lutas pelo co-governo estudantil. Um debate mais aprofundado sobre esse tema pode ser encontrado no site da Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe), através do documento intitulado “Co-governo Estudantil: Caminho da Conquista da Autonomia e Democracia Universitárias“.

Recentemente, Cândido Albuquerque e Glauco Lobo se envolveram em polêmicas em duas redes sociais. Na primeira situação, Cândido divulgou dados privados de um estudante da UFC em uma discussão com alunos em um grupo de Facebook com mais de 25 mil pessoas. Rapidamente, vários estudantes interviram e denunciaram a prática e o discurso fascista do reitor, que se aproveita de ter acesso a dados sigilosos da comunidade estudantil. Os estudantes tiraram prints (fotos da tela), pois o reitor poderia se “arrepender” e excluir os comentários.

Na segunda polêmica, o bolsonarista Glauco Lobo – vice-reitor, ligado à Faculdade de Medicina (Famed) da UFC, polemizou sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 e declarou ser um “conservador, liberal na economia” e apoiador do fascista Bolsonaro. Com tal postura, o vice-reitor reacionário se manifesta de forma contrária à própria Famed/UFC, na qual é professor. A Famed já manifestou sua posição acerca da polêmica da hidroxicloroquina no tratamento do Coronavírus (Covid-19), nesta nota de esclarecimento.

As posturas antidemocráticas de Cândido Albuquerque na reitoria ficaram mais claras no período em que se discutia a questão do isolamento social e da interrupção das atividades escolares e acadêmicas no Ceará, no início da pandemia, onde só tomou uma postura concreta após participar de uma reunião com o governador do estado.

Os oportunistas introduziram práticas carreiristas e eleitoreiras no seio do movimento estudantil, transformando a luta dos estudantes em palanque eleitoral. Após anos e anos no movimento estudantil, transformam a militância em carreira profissional e política, atuando em favor dos seus partidos eleitoreiros. É importante ressaltar ainda que o oportunismo também age como polícia política no movimento estudantil, buscando atacar os setores mais combativos.

As batalhas em que os estudantes saíram vitoriosos foram aquelas em que souberam se organizar com classismo, independência e combatividade, rompendo com todo o tipo de imobilismo e pautando questões que interessam todo o povo brasileiro, não apenas a comunidade acadêmica.

Algumas entidades e organizações estudantis e juvenis já demonstram historicamente a força que possui a juventude, principalmente aquela parcela que ousa se jogar na luta em defesa dos direitos do povo, usando seus conhecimentos em prol das lutas do povo. Neste sentido, é importante destacar e saudar o papel que cumpre a Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia – ExNEPe.

Não é apenas com notas de repúdio ou entrando com ações judiciais no Ministério Público Federal (MPF) que defenderemos as universidades públicas de nosso país. É preciso lembrar que o próprio judiciário corrupto já chancelou as nomeações dos interventores, inclusive de nomes que não chegaram nem mesmo a compor a famigerada lista tríplice.

Precisamos demarcar uma linha clara: apenas com uma organização classista e combativa dos estudantes secundaristas e universitários, contando com o apoio dos milhares de professores democráticos, dos servidores técnicos e dos funcionários terceirizados é que poderemos defender uma educação pública, científica, nacional e a serviço do povo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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