Em Fortaleza, como era de se esperar, os dois candidatos que lideravam as pesquisas – o ex-prefeito José Sarto/PDT (o primeiro prefeito não reeleito na capital Alencarina) e Capitão Wagner/UB (que liderou um motim de policiais anos atrás); foram respectivamente para terceiro e quarto lugar, mesmo após realizarem campanhas publicitárias caríssimas.
Quem assumiu a liderança foi o candidato do PL André Fernandes (Deputado Federal e ex-youtuber) com 40,20% dos votos válidos, e Evandro Leitão/PT (Presidente da Assembleia Legislativa e até esse ano do PDT).
É evidente que o apadrinhamento político marcou o contorno deste cenário: José Sarto – apadrinhado pelo oligarca Ciro Gomes (que perdeu também em Sobral – seu reduto – selando sua morte política); Fernandes por Bolsonaro e Leitão por Camilo Santana.
Dizemos que Leitão é apadrinhado de Camilo, pois foi ele e Guimarães (aquele dos dólares na Cueca) que trouxeram ele do PDT, no qual ele foi deputado por dois mandatos completos. A base Petista defendia o nome da ex-prefeita Luizianne Lins que, em um passado que nunca existiu, tinha como lema a “Fortaleza Bela” o que as massas estudantis gritavam “só se for na casa dela”. Ainda assim era o nome da base Petista, mas do alto escalão do PT nacional, sob a batuta de Camilo Santana, ministro da Educação, escolheram o nome do presidente da Assembleia Legislativa, um total desconhecido na cidade.
Enquanto o PT apostou em um ilustre desconhecido, a pedido da Camarilha de Camilo/Guimarães, o PL apostou em um ex-youtuber humorista. Nesse cenário, a crítica moral do PT sobre os vídeos esdrúxulos e misóginos de André Fernandes não encontram eco na cidade. Além disso, vários humoristas têm sido eleitos na direita internacional para cargos públicos, como é o caso de Zelesnky da Ucrânia e de Grillo na Itália, demonstrando ser uma tendência.
Contudo, uma das questões fulcrais destas eleições, além do problema epidêmica da Violência, é a questão da Educação. Impressiona a falta de propostas de ambos os candidatos. A única proposta de Leitão é claro que é bolsa, no caso um “pé de meia para o 9º ano” o que não se justifica já que essa série não tem histórico de evasão, é, literalmente oferecer apenas bolsa, numa tentativa de “comprar” o apoio e a simpatia dos estudantes secundaristas. O discurso de Leitão é de que “vai cuidar dos Fortalezenses”, plagiando o palavreado de Lula. A estratégia para a Vitória é a mesma da eleição de 2022 para Governador do Ceará, no qual Elmano de Freitas figurava em terceiro lugar e, após a visita de Luís Inácio, ganhou no primeiro turno, com o tema da campanha sendo “O Ceará três vezes mais forte”, com Camilo, Elmano e Lula. Tudo isso é reeditado e Leitão só aparece em público se apoiado nestes outros três.
Cabe aqui salientar que a campanha de André ataca Leitão por dizer que “a mamata acabou”, mas o fascista empregou a mãe, a irmã e o cunhado em gabinetes de aliados, e ajudou o pai a ser eleito deputado. Todavia, de modo semelhante a vice de Leitão, Gabriela Aguiar, se apresenta, como legitima representante do fisiologismo cearense, seu irmão, Domingos Neto é deputado federal. Seu pai, Domingos Filhos, é deputado estadual desde 1994. A família dirige a região de Tauá, onde sua mãe já foi prefeita. Como Domingos Filho foi um dos últimos presidentes da Assembleia antes de Leitão e foi mais um que fazia parte do bloco de Ciro, mas rompeu, tudo nos leva a crer que a escolha de sua filha para vice se resume a pura troca de interesses entre o caciquismo cearense.
Vale a pena mencionar o péssimo garoto propaganda de Leitão que é Elmano de Freitas. Como dissemos, Elmano é um azarão que estava em terceiro lugar, venceu com apoio popular e faz um mandato antipovo. Logo no início do seu governo, Elmano privatizou a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), se negou a negociar e difamou na imprensa os professores do Ensino Médio e da profundamente precarizada Universidade Pública; e mais, fez vista grossa aos bandos armados que atacaram encapuzados os camponeses em Jaguaruana num terreno da família de um político de sua base (Osmar Baquit/PDT), sem falar no assassinato sem apuração de uma moradora do bairro Carlito Pamplona que foi morta por bandos armados da empresa Fiotex. Elmano, portanto, não goza de apoio algum.
Entendemos o desespero de muitos companheiros, que veem neste legitimo burocrata – Evandro Leitão – o caminho para deter o avanço do Fascismo em nossa capital. Porque sabemos bem que André Fernandes é um negacionista antivacina. Mas como os últimos editoriais do AND tem demonstrado, não há polarização porque o PT não polariza, ao contrário, mimetiza o comportamento fisiológico da direita tradicional. É interessante ver o alarmismo que a campanha do PT usa sobre as propostas privatistas de André Fernandes, enquanto é incapaz de constatar que a privatização ocorre em sua própria gestão sem causar muita histeria.
Em Fortaleza, a abstenção eleitoral alcançou os 21%, sem contar os que nem título tem mesmo com idade eleitoral. A descrença nesse arremedo de democracia é galopante, considerando ainda que os que votam, votam muitas vezes não por acreditar em um projeto, mas por ser contra o projeto de um adversário. A História demonstrou que só exista uma única forma de combater o fascismo que é mobilização popular; as hordas fascistas, em especial no campo, conclamam as massas para o combate, ao passo em que a proposta de apaziguamento conciliador do PT não pode nunca conter o Fascismo.
