O Cebraspo emitiu nota denunciando o descumprimento do direito ao sepultamento de Abimael Guzmán Reynoso, o Presidente Gonzalo. Foto: Banco de Dados AND
O Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) emitiu nota na manhã desta terça-feira, 14 de setembro, denunciando o velho Estado peruano por descumprir o direito ao sepultamento digno de Abimael Guzmán Reynoso, o Presidente Gonzalo.
Sobre a morte do Presidente Gonzalo, o Cebraspo afirma que “tudo leva a culpabilizar o Estado peruano por ter deixado o professor sem tratamento adequado, o que é assassinato por negligência”. E tratando da negação do direito ao sepultamento, aponta que a atitude parte do velho Estado burocrático-latifundiário peruano (que conta agora com um governo oportunista de rondeiros), “na figura do Ministro da Justiça de um autodeclarado governo progressista”.
Toda essa violência de Estado que se acomete contra o Presidente Gonzalo é feita no objetivo de promover o “apagamento do professor Abimael Guzman, em sua ânsia por fazer desaparecer não apenas o corpo, mas também eliminar a memória do que ele representa”, segundo a nota dos democratas.
Relacionando com outras práticas que no nosso país os revolucionários e lutadores populares foram alvos pela reação, o Cebraspo lança a pergunta: “Estará o atual governante Castillo que ganhou recentemente eleições no Peru com bandeiras ‘democráticas’ contra a filha do genocida e fascista Fujimori se igualando ao regime militar fascista brasileiro no ocultamento de cadáveres e na negação do justo direito ao sepultamento?”.
A nota também aponta a contradição existente na afirmação do velho Estado peruano de que se consumou uma “suposta pacificação de um conflito armado onde faz-se cômodo colocar na responsabilidade de uma das partes – a guerrilha [Guerra Popular desatada pelo PCP a partir de 1980 – nota de AND] – todas as mortes”. E sublinham que é “fato comprovado que o governo do fascista Fujimori passou por cima de qualquer direito democrático da população, implementado uma guerra suja”.
Apontando todas as privações de direitos que vivem as massas populares peruanas, o Cebraspo ainda lança a pergunta: “Teme [o velho Estado peruano] pelos fatores econômicos e sociais estarem ainda presentes e não ter soluções para enfrentá-los?”.
A nota do Cebraspo afirma que a reação não conseguiu “imputar nenhuma morte ao professor Guzman. Mesmo assim, esteve preso incomunicável e se está questionando seu direito a um sepultamento digno”. A entidade conclui afirmando que “a tentativa inadmissível de anular, de ocultar e fazer desaparecer os nomes e corpos, matando uma segunda vez para tentar apagar determinados sujeitos da memória coletiva, somente pode ter um caminho: o irrevogável retorno daqueles que o Estado tentou empalidecer”.
A nota completa pode ser lida abaixo ou clicando aqui.
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo)
Pelo direito ao sepultamento digno do Professor Abimael Guzman Reynoso
O professor Abimael Guzman Reynoso (o presidente Gonzalo), prisioneiro de guerra do Estado peruano e presidente do Partido Comunista do Peru , que estava há 29 anos preso e incomunicável numa cela abaixo do nível do mar na base naval de Callao, faleceu na manhã de 11 de setembro.
Como denunciamos em nota recente, tudo leva a culpabilizar o Estado peruano por ter deixado o professor sem tratamento adequado, o que é assassinato por negligência. Abimael Guzman não teve direito a passar suas últimas horas em companhia de nenhum familiar ou amigo. E para agravar ainda mais o leque de direitos violados desde a prisão do professor, o estado peruano, na figura do Ministro da Justiça de um autodeclarado governo progressista, quer negar o direito ao sepultamento de seu corpo.
O direito ao sepultamento digno é direito humano fundamental, compondo as convenções de Genebra que tratam de situações de guerra e conflitos armados. Faz parte das diretrizes básicas de todas as religiões monoteístas atuais e do cristianismo dominante no mundo ocidental. Este direito está profundamente arraigado na matriz cultural ocidental e não por acaso encontra-se no âmago da muito debatida tragédia de Sófocles, quando Antígona desafia o Estado tebano para realizar os ritos fúnebres ao irmão Polinices.
A violência do Estado que submete a tratamento desumano e degradante e também se dedica de maneira insidiosa ao apagamento do professor Abimael Guzman, em sua ânsia por fazer desaparecer não apenas o corpo, mas também eliminar a memória do que ele representa, faz com que esse Estado subsista aniquilando sua própria substância moral, engendrando a própria ruína, tal como disse Sófocles.
O Estado brasileiro já foi penalizado pela corte interamericana de direitos humanos pelo desaparecimento dos corpos de combatentes da guerrilha do Araguaia. Estará o atual governante Castillo que ganhou recentemente eleições no Peru com bandeiras “democráticas” contra a filha do genocida e fascista Fujimori se igualando ao regime militar fascista brasileiro no ocultamento de cadáveres, e na negação do justo direito ao sepultamento?
Que temor terá o governo peruano, já que declara ter havido a suposta pacificação de um conflito armado onde faz-se cômodo colocar na responsabilidade de uma das partes – a guerrilha – todas as mortes, sendo fato comprovado que o governo do fascista Fujimori passou por cima de qualquer direito democrático da população, implementando uma guerra suja? Teme pelos fatores econômicos e sociais subjacentes a realidade peruana estarem ainda presentes e não ter soluções para enfrentá-los? Quantos mortos de COVID ocorreram decorrentes da falta de política pública de saúde? 190.000 mortes, a maior taxa de mortes do mundo por COVID relativa à sua população.
Não se pode imputar nenhuma morte ao professor Guzman, nem por assassinato e nem por disseminação de doença infecciosa. Mesmo assim, esteve preso incomunicável e está questionado seu direito a um sepultamento digno. Tratar-se-á os genocidas oficiais do povo por covid da mesma forma?
A mesma história que aponta a existência de uma repetição aterradora de genocídios nos lembra que os mortos da violência de Estado sistemática não podem ser silenciados. A tentativa inadmissível de anular, de ocultar e fazer desaparecer os nomes e corpos, matando uma segunda vez para tentar apagar determinados sujeitos da memória coletiva, somente pode ter um caminho: o irrevogável retorno daqueles que o Estado tentou empalidecer.