A Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), mobilizando um helicóptero e cerca de 100 agentes junto a pistoleiros a serviço do latifúndio, promoveram uma covarde chacina contra jovens Guarani Kaiowá na madrugada de 24 de junho no território de retomada Tekoha Gwapo’y Mi Tujury em Amambai, no Mato Grosso do Sul. De acordo com denúncias do povo Guarani Kaiowá recebidas pela redação de AND, cinco pessoas foram assassinadas e outras dez foram hospitalizadas, algumas em estado grave.
O ataque teve início às 4h da manhã com a chegada dos pistoleiros na retomada. Os relatos dos indígenas revelam que a PM também invadiu e cercou o território com seis viaturas e corroborou com o ataque sob pretexto de uma reintegração de posse sem qualquer validação jurídica, sem mandado judicial e, portanto, em uma ação ilegal. Desde um helicóptero, os militares reacionários disparavam contra os indígenas em solo, lançando bombas de gás contra as massas que resistiam.
Ao menos seis jovens alvejados pelos militares reacionários foram encaminhados ao Hospital Regional de Amambai. Apesar da tentativa da PM de tolher o atendimento aos feridos, conforme nota da Aty Guasu declara, ainda estão sob cuidados médicos e sob escolta policial os indígenas Nayara Souza, 15 anos, Wilke Vasques, 17 anos e Natieli Rodrigues, 23 anos; os outros três jovens, por não apresentarem lesões graves foram levados à delegacia.
Jovem é alvejada durante ataque que reuniu policiais e pistoleiros contra povo Guarani Kaiowá em Amambai, MS. Foto: Reprodução
Jovem assassinado em chacina promovida por PM e pistoleiros em Amambai, MS. Foto: Reprodução
Os jovens indígenas presentes no território filmavam os ataques enquanto resistiam.
Urgente: Tropa de Choque chacina jovens Guarani Kaiowá em Amambai, MS
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— A Nova Democracia (@jornaland) June 25, 2022
A retomada
Na noite anterior, em 23/06, aproximadamente 30 indígenas do povo Guarani Kaiowá promoveram uma retomada de parte do território Kurupi/São Lucas. A ação aconteceu em resposta ao assassinato do jovem indígena Alex Ricarte Vasques Lopes, de 18 anos, ocorrido em 21 de maio na fazenda Taquaperi, no município de Coronel Sapucaia (MS).
Esta foi mais uma das retomadas promovidas pelo povo Guarani Kaiowá após o assassinato do jovem Alex. Em 22/05 outra ocupação aconteceu em na fazenda Taquaperi, local do crime promovido pelo latifúndio.
Leia também: MS: Povo Guarani Kaiowá retoma território após assassinato de jovem guerreiro
Pseudohumanistas encobrem ação criminosa
Em contraste com a cobertura pseudohumanista sobre os odiosos crimes contra indigenistas cometidos na Amazônia, diante de mais uma barbárie em forma de chacina promovida novamente pela PM, reacionários que dizem se preocupar com a “questão dos indígenas” agem com permissividade abrindo espaço para continuidade do massacre, em especial quando as massas indígenas tomam o caminho democrático da autodemarcação e rechaçam a linha oportunista de aguardar eternamente pela ação “piedosa” das instituições do velho Estado, instituições todas estritamente vinculadas aos interesses do latifúndio e dos monopólios burocráticos no campo (agronegócio).
O monopólio de imprensa, sob o manto da “imparcialidade”, acoberta o latifúndio e endossa a posição de representantes do velho Estado como o genocida Antônio Carlos Videira, Secretário de Segurança Pública. O reacionário afirma que os indígenas são infiltrados que plantavam maconha no Paraguai e visam disputar liderança; discurso nada novo, mentiroso e miserável, para tentar demonizar as massas indígenas que lutam pelo seu sagrado direito ao território expropriado pelo latifúndio. Afirma também que o helicóptero da PM tem “marca de balas” para justificar a chacina macabra.
Ao noticiar a chacina, o monopólio de imprensa rede Globo, por exemplo, que se esmera para enganar a opinião pública passando-se por “defensora dos indígenas”, apontou feridos com destaque para os policiais, criando todo o caldo de cultura para o prosseguimento da ação genocida, mais uma de uma guerra contra os povos originários que já dura 522 anos.
Um indígena em áudio denuncia: “Esses jornalistas são mentirosos. Falaram que os indígenas estavam com fuzil no noticiário. Onde os indígenas vão conseguir comprar um fuzil?”, e segue dizendo: “Se estivessem armados teriam derrubado a aeronave que sobrevoava baixinho, ali. O secretário está mentindo e a mídia cobrindo”.
A equipe de AND seguirá tratando dos desdobramentos da chacina nos próximos dias.