Estudantes rua estrada com faixa: “Greve dos professores. O governo não escuta!”. Fotos: Reprodução
No dia 23 do último mês de julho encerrou-se uma greve nacional que durou 50 dias e paralisou as atividades dos professores, apoiada pelos estudantes, no Chile. A greve foi marcada por manifestações, intenso apoio popular e adesão de quase 100% das escolas públicas.
Os professores colocaram como exigência o fim do abandono das escolas públicas por parte do velho Estado. Entre suas denúncias mais básicas estavam a infestação de ratos nas escolas, pouco material de limpeza e material didático quase inexistente, pois em junho ainda não havia chegado às escolas. De acordo com eles, o descaso do velho Estado chileno com a educação pública faz parte do projeto de privatização do ensino.
Entre outras reivindicações mais profundas, está o pagamento da “dívida histórica” do Estado para com os professores, um reajuste salarial que os professores deveriam ter recebido desde 1981, que estabelece um reajuste de 90% do saldo base para todos os funcionários públicos. A negligência dessa medida afeta inclusive a aposentadoria dos professores, pois, no Chile, a previdência é privada.
Eles também pedem o fim do processo de avaliação “duplo” dos professores, em que seus salários, e até mesmo sua permanência no trabalho, são ditados pelo seu desempenho em uma prova que poucos conseguem atingir os níveis requeridos, assim como o fim da obrigatoriedade das matérias de artes, história e educação física, tornando-as optativas.
Projeto ‘sala de aula segura’
O projeto de lei “sala de aula segura” foi aprovado em 2018 e usaram como pretexto um episódio ocorrido durante um protesto estudantil no instituto de Santiago.
A lei facilitaria a expulsão e cancelamento da matrícula de alunos “subversivos”. O que é colocado pelos estudantes e pelos professores é que tal medida é fascista e que serve para perseguir movimentos estudantis, assim como criminalizar e punir qualquer ação dos alunos, desde organizar um protesto, até falsificar uma assinatura ou colar em uma prova.
A revogação da lei foi posta por elementos mais combativos tanto dos professores, quanto dos alunos que apoiaram a greve. Os estudantes, durante as manifestações, gritavam: Os estudantes se mobilizam para romper as jaulas que nos criminalizam!
A necessidade de resistir com combatividade
De acordo com o jornal independente chileno El Pueblo, durante a mobilização, os trabalhadores da educação realizaram marchas, cantos e paródias maciças, coreografias, todas com o propósito positivo de unir e gerar simpatia entre os diversos setores da população.
No entanto, os próprios trabalhadores reconheceram que essas formas de luta são insuficientes. Um professor da Estação Central Comunal disse ao portal que “se o movimento tivesse ações mais determinadas e mais combativas desde o começo, poderia ter durado o mesmo tempo, mas os resultados teriam sido melhores. Esta é uma lição para a próxima mobilização. As bases devem se impulsionar superando as lideranças sindicais em todos os níveis e definir as pautas, […] pois a liderança sindical poderia sabotar e deturpar qualquer tentativa de mobilização mais radical aqui… Também falta seriedade em certo sentido: estamos levantando demandas históricas e aparecendo dançando”.
O portal frisa o quão importante foi o rompimento das bases com a liderança oportunista, que tentava o tempo inteiro pedir por manifestações “pacíficas” e recriminalizar ações dos professores como os fechamentos de rodovias, por exemplo.