Chile: Massas combatem polícia contra a miséria durante o maior festival de música da América Latina

Chile: Massas combatem polícia contra a miséria durante o maior festival de música da América Latina

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Protesto contra o sistema de exploração e opressão ocorre durante o festival de música de Viña del Mar. Foto: Leandro Torchio

No dia 23 de fevereiro, data em que começaria o Festival Internacional de Viña del Mar, um dos maiores eventos musicais da América Latina, foi marcado por grandes revoltas protagonizadas por moradores de favelas e manifestantes enfurecidos com a crise geral que assola o país.

A revolta foi tamanha que oito carros foram queimados e 30 lojas foram atacadas, 23 policiais foram feridos e a abertura do festival teve de ser atrasada.

Os primeiros confrontos começaram depois das 17h, quando cerca de 800 manifestantes se reuniram nas proximidades da Quinta Vergara (parque onde ocorreriam os shows), violando o perímetro de segurança que tinha sido ordenado pelas “autoridades”. Os carabineros (polícia militar do Chile) chegaram ao local e tentaram dispersar os manifestantes que estavam na plaza Sucre, perto do local do festival. Os manifestantes atacaram uma agência de venda de automóveis, localizada no centro de Viña del Mar, e atiraram um veículo do segundo andar do local. 

Os confrontos entre os rebelados e as forças da repressão deixaram 23 carabineros feridos, três com fraturas graves.

Policiais reprimem brutalmente protesto em Viña del Mar, no Chile, em 23 de fevereiro de 2020 — Foto: Martin Bernetti / AFP

No mesmo dia, à tarde, moradores de ocupações e favelas da cidade também desceram os morros da cidade exigindo melhorias em seus bairros. Na cidade turística de Viña del Mar, conhecida como “cidade jardim”, há o maior número de ocupações do país, entre elas a favela Manuel Bustos, com uma área estimada de 57 hectares e onde residem mais de mil famílias. 

Entre os revoltosos, via-se cartazes como Em Viña acontece um festival, mas no Chile não há dinheiro para o pão e, diante da pobreza e fome das massas, diversos saques foram realizados na cidade. Os carabineros dizem que, em cada saque, cerca de 12 pessoas foram detidas.

Manifestante revoltado ataca carro durante protesto em Viña del Mar. Foto: Reuters

Além disso, os manifestantes, revoltados com a miséria do povo, invadiram e atacaram o Hotel de luxo O’Higgins, que abriga a maioria das estrelas e jornalistas do monopólio de imprensa que participam do festival.

E, mesmo dentro do evento, palavras de ordem contra o presidente Sebastián Piñera eram cantadas. Ele, naquele momento, se encontrava de férias. 

Manifestantes entram em conflito com a polícia durante um protesto contra o sistema de exploração e opressão, em Viña del Mar, em 23 de fevereiro de 2020, durante o Festival de Música de Vina del Mar. (Foto: Martin BERNETTI / AFP)

A história se repete

A edição 2020 do Festival de Viña del Mar foi comparada a de 1988, quando o evento coincidiu com a prévia do plebiscito que levou ao fim da ditadura de Augusto Pinochet e a posterior convocação para a farsa eleitoral. Naquela e desta vez, hoje com um novo plebiscito se aproximando (em 26 de abril o eleitorado decidirá se quer ou não uma nova Constituição para substituir a Carta herdada da ditadura), a rebelião popular se fez presente durante o festival.

Nesse ano, o festival ocorreu sob medidas de segurança inéditas: detectores de metais, cordões policiais e iluminação especial nos lugares próximos à Quinta Vergara, além da proibição de cartazes no festival.

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