Governo oportunista de Boric falha em apaziguar a crescente e inevitável rebelião popular no Chile. Foto: Banco de Dados AND
Cinco meses após o presidente oportunista do Chile, Gabriel Boric, tomar posse, diversos protestos estremeceram o país contra as medidas reacionárias e anti-povo promovidas pela jovem cria do oportunismo e revisionismo chilenos. Nas cidades, camelôs se levantaram contra a repressão dos agentes policiais que cumpriam uma operação de erradicação do comércio ambulante na capital Santiago. Protestos de estudantes e trabalhadores da educação denunciaram o sucateamento das universidades, as péssimas condições de trabalho, os baixos salários e as mensalidades nas universidades públicas, exigindo a libertação dos presos políticos das manifestações de 2019-2020. No campo, mapuches se mobilizaram contra a dominação do latifúndio e a intervenção militar na região centro-sul do país, decretada em 2021 e prorrogada por Boric.
Camelôs denunciam operação de erradicação do comércio ambulante
Vendedores ambulantes denunciam operações de Boric e Hassler. Foto: El Mercurio
Nos dias 8, 9 e 10 de agosto, os vendedores ambulantes de Meiggs e Maipú, comunas de Santiago protestaram contra a destruição de seus locais de trabalho e exigiram direito a trabalhar. Barricadas foram erguidas e ruas foram bloqueadas pelos trabalhadores em rebelião. A operação policial ocorreu como parte de um projeto promovido pelo velho Estado chileno que busca demagogicamente “combater o crime”. As operações feitas contra os vendedores ambulantes impedem-os de exercer seu único meio de sustento se dão especialmente na capital do país, sob ordem da prefeita reacionária e oportunista Iraci Hassler, filiada ao revisionista Partido Comunista do Chile. Ao todo, 13 manifestantes foram presos pelas forças de repressão.
As manifestações iniciaram no dia 08/08, quando os camelôs, ao chegarem para trabalhar, se depararam com um efetivo de mais de cem de policiais bloqueando os locais onde os vendedores ambulantes normalmente erguem seus “toldos azuis” (como são conhecidas as barraquinhas de camelôs no Chile). Em fúria pela proibição ao direito de trabalhar, os trabalhadores bloquearam a avenida Libertador Bernardo O’Higgins, em Meiggs. O protesto seguiu até San Alfonso, onde outra barricada foi erguida. Os camelôs exigiam que a prefeita reacionária e oportunista de Santiago, Irací Hassler, retirasse as tropas da rua e desse aos ambulantes permissão para erguerem suas barracas. Ao todo, três pessoas foram detidas pelas forças de repressão do velho Estado chileno.
Em Maipú, manifestações ocorreram por três dias consecutivos, nos mesmos dias 8, 9 e 10 de agosto. Os protestos se concentraram na Praça de Maipú e barricadas foram erguidas na intersecção das ruas Pajaritos e 5 de abril. A polícia deteve ao menos 10 trabalhadores que exigiam o direito de comercializar suas mercadorias. Faixas com os dizeres Esta é minha forma de trabalhar e Somos comerciantes, não delinquentes foram erguidas pelos trabalhadores.
O projeto de erradicação dos ambulantes de Irací Hassler e Gabriel Boric
As operações contra os vendedores ambulantes fazem parte de um projeto de do comércio (visto como “ilegal” pelos governos reacionários) que está sendo promovido pela prefeitura de Santiago. O projeto conta também com a participação de Manuel Monsalve, Subsecretário do Interior do governo oportunista de Boric.
A operação tomou lugar em Maipú, Meiggs e em estações de metrô como Central, União Latinoamericana e Universidade de Santiago, todas em Santiago. Segundo o reacionário Manuel Monsalve, intervenções ocorrerão ainda em em torno de cinco mil outros lugares. Um acampamento policial foi montado em Maipú, onde 170 policiais ficarão estacionados durante 30 dias, impedindo as massas de trabalharem na região durante todo esse período.
A operação de erradicação do comércio ambulante promovida por Hassler conta com todo o aval do oportunista Boric, que desencadeou uma verdadeira guerra aos vendedores ambulantes desde que assumiu a gerência do velho Estado chileno. No final do mês de maio deste ano, Boric conduziu uma operação de desalojamento de ambulantes em Santiago. A operação deixou diversos feridos devido aos confrontos que ocorreram entre os camelôs que retornavam diariamente ao seu local de trabalho e as forças de repressão. Ao todo, em torno de 255 trabalhadores já foram detidos pelas forças de repressão de Irací Hassler e Gabriel Boric.
As operações do governo Boric representam um aumento da repressão aos camelôs em relação ao seu antecessor, o reacionário Sebastián Piñera. Entre os meses de janeiro e maio deste ano, foram realizadas 18.226 intervenções contra os vendedores ambulantes, em torno de 7 mil a mais que no mesmo período do ano anterior.
A repressão desencadeada contra os comerciantes ambulantes conta também com grande apoio dos setores da grande burguesia do Chile. Em maio, o latifundiário agroindustrial Juan Sutil, presidente da Confederação de Produção e Comércio (CPC) do Chile afirmou que as operações de Boric são “o início de um trabalho que se tem que fazer em todo o Chile”. Em concordância, o presidente oportunista afirmou que a operação iria “seguir adiante” e que “é algo que fazemos justamente com essa perspectiva, de recuperar espaços públicos […] de fazer valer o Estado de direito e a lei”
O projeto de erradicação tem servido para levar a guerra reacionária contra o povo. Militarizando a sociedade chilena, com milhares de tropas em milhares de pontos das grandes cidades, o governo Boric busca aterrorizar os trabalhadores e evitar a sua justa rebelião contra as precárias situações de vida. Tudo isso sob o falso pretexto de “combate ao comércio ilegal” e de combate aos vendedores ambulantes “irregulares”.
Estudantes e trabalhadores da educação estremecem governo oportunista
Estudantes estremecem oportunista Boric. Foto: EFE/Alberto Valdés
Desde o primeiro mês do governo oportunista natimorto de Gabriel Boric, estudantes e trabalhadores da educação têm denunciado a situação das universidades do país. No dia 11/03, estudantes de diversas instituições exigiram a anulação das dívidas estudantis do Crédito com Aval do Estado (CAE; programa similar ao Fies, no Brasil), fim das mensalidades nas instituições públicas de ensino e aumento nas bolsas da Junta Nacional de Auxílio Escolar e Becas (Junaeb), algumas das quais não passam por reajuste há 10 anos. Somou-se a essas pautas a exigência da imediata libertação dos presos políticos das manifestações de 2019 e 2020 no Chile.
A manifestação foi reprimida pela polícia e os manifestantes resistiram bravamente à repressão. Uma estudante foi alvejada por um projétil de arma de fogo disparado por um carabinero (como são chamados os policiais no Chile) e precisou ser hospitalizada.
Nos meses de abril e maio, como noticiado pelo AND, estudantes secundaristas e universitários ocuparam diversas instituições de ensino se mobilizaram, denunciando as condições de sucateamento e exigiram maiores investimentos nos prédios. No dia 27/05, uma massiva marcha estudantil foi reprimida pela polícia, no que as massas responderam com pedras e coquetéis molotovs. Na Universidade do Chile, estudantes e trabalhadores decretaram greve contra a terceirização e aumento salarial. Já na Universidade de Santiago do Chile, em julho, os trabalhadores da limpeza e jardinagem realizaram uma greve e manifestação junto aos estudantes para exigir melhores condições de trabalho e pagamento das horas extras. E no mês de agosto, na Universidade de Austral, em torno de mil trabalhadores somaram-se à greve dos professores, que estão mobilizados há três semanas. Os trabalhadores da educação exigem um reajuste salarial que equivalha ao aumento do Índice de Preço do Consumidor (IPC) e a volta dos benefícios empregatícios.
Povo Mapuche intensifica ações em meio à repressão de governo oportunista
Indígenas do povo Mapuche não se intimidam com intervenção militar de Boric. Foto: Reprodução
Enquanto nas cidades o velho Estado chileno precariza a vida dos ambulantes e trabalhadores da educação, no campo o terrorismo estatal é perpetrado contra as massas camponesas e povos indígenas, sobretudo o povo Mapuche. Os indígenas mapuches travam há anos uma dura luta pela retomada de suas terras, especialmente na região de Araucanía, que era ocupada por indígenas Mapuche antes da colonização espanhola nas Américas.
Em 2021, temeroso do avanço da luta indígena, o ex-presidente reacionário do Chile, Sebastián Piñera, decretou um Estado de Emergência na região centro-sul do país. O decreto classificou as regiões que seriam “áreas de conflito” e mobilizou centenas de militares, helicópteros e carros blindados para quatro zonas nas regiões sulistas de BioBio e Araucanía. As forças do exército chileno passaram então a atuar junto com os carabineros e pistoleiros contratados pelo latifúndio para reprimir as massas camponesas e indígenas, em situação muito semelhante aos decretos de “Garantia da Lei e da Ordem” aplicados no Brasil contra os camponeses em luta pela terra ou manifestações muito massivas nos centros urbanos.
Desde que assumiu o posto de presidente do Chile, Boric, que em seus anos de deputado visitou zonas Mapuche e, na campanha presidencial, ressaltou a importância do “diálogo”, deu prosseguimento à militarização da zona e ampliou a repressão contra os indígenas. No dia 16/05, Gabriel Boric autorizou a mobilização das tropas militares para auxiliar a polícia na repressão. Já no dia 30 do mesmo mês, quando a intervenção militar chegava no prazo para seu fim, Boric optou por prorrogá-la por 15 dias. Desde então, o oportunista tem recorrido ao Congresso sucessivas vezes para manter a militarização das zonas ao sul do país.
Militares chilenos levam terror ao campo sob ordem de Gabriel Boric. Foto: EFE
Os Mapuche, por sua vez, não se deixaram levar pelas ilusões do oportunismo e intensificaram suas ações contra o latifúndio e o velho Estado ao longo de 2022. Somente nas últimas semanas, a Coordenação Arauco-Malleco (CAM) reivindicou diversos ataques à maquinários do agronegócio, como o incêndio de uma escavadeira da empresa Covilli, na comuna de Lumaco, e o incêndio de máquinas e caminhões da empresa florestal Antumapu, na comuna de Arauco. Até o dia 09/08, 54 ataques realizados pelos Mapuche foram identificados, enquanto 55 ataques foram realizados no ano de 2021 e 28 em 2020.
Oportunista Gabriel Boric: de falso defensor à inimigo declarado do povo
Cai a máscara de “defensor do povo” que Boric usava (quando atuava no movimento popular enquanto um oportunista eleitoreiro) para iludir cada setor que hoje está se mobilizando no Chile. Em 2016, em dois casos diferentes de repressão a camelôs, Boric deu declarações vazias de censura à postura repressiva do velho Estado chileno em relação aos trabalhadores, prática que agora ele perpetua. Em relação aos estudantes, Boric utilizou, durante a campanha, seu passado de “ativista” estudantil e presidente da Federação de Estudantes do Chile para colocar-se como próximo ao setor da educação.
No seu período de “ativista” amarelo, contudo, Boric prestou um papel fundamental no apaziguamento dos protestos e no apontamento da saída da rebelião pela “via institucional” e “nova constituição”. Caminho burocrático que, longe de solucionar essas mazelas, somente fortalece a estrutura caduca do velho Estado chileno, aparelho de repressão das massas populares à serviço das classes dominantes chilenas, mesmo que sob nova aparência.
Por fim, quanto aos Mapuche, Boric visitou unidades territoriais desse povo em 2016 e se pintou sucessivas vezes como contrário à militarização dessas zonas e aberto ao diálogo, inclusive com a CAM.
Agora, Boric despeja e aprisiona vendedores ambulantes que trabalham sem estarem “devidamente regularizados” pelo velho Estado; mantém a exploração dos trabalhadores da educação e o sucateamento e privatização das universidades; e aprofunda a intervenção militar nas zonas Mapuche, no centro-sul do país. Sob sua gestão, está reservada, para cada um desses setores, a brutal repressão em caso de rebelião popular, seja com o uso de carabineros ou forças armadas chilenas. As massas, por sua vez, no campo e na cidade, seguem lutando por seus direitos mais básicos.