Em fevereiro de 2020, os presos políticos mapuche, detidos na prisão de Angol, divulgaram uma carta aberta, assinada por dez lutadores, manifestando sua posição política e dirigindo-a às organizações nacionais e internacionais. A carta fora veiculada pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), e pode ser lido em sua forma original no portal democrático El Pueblo.
“Há muitos anos”, começam os presos políticos, “vêm-se falando sobre a constante luta mapuche. Mas a luta de qualquer povo que se levante contra o Estado que os oprime tem como conseqüências prisões e mortes. Por isso, não queremos perder esta oportunidade para prestar uma sincera homenagem a todos os mapuche mortos pelo Estado do Chile e pelo poder econômico. Esses mapuche têm nomes e sobrenomes, é por eles que estamos tremendamente orgulhosos desta luta travada por homens e mulheres valentes”, inicia o grupo.
“Por outro lado”, continuam, “tampouco esquecemos os weichafe, que dia a dia percorrem o caminho da luta por libertação, bem como o caminho dos leftraru, maguil, pelantaru, kilapan e todos os mapuche que dedicaram suas vidas nos últimos tempos; os weichafe conferem dignidade e valor ao povo da nação Mapuche”.
Eles, presos políticos mapuche da prisão de Angol, deixam claro que sua luta é para recuperar seu território, como objetivo principal, para consequentemente gerar autonomia em todos os sentidos: “Portanto, nossa luta é contra o Estado e o grande empresariado que agride e corrompe as comunidades mapuche. É por isso que, diante das novas ideias que resultaram das mobilizações sociais que pressionaram o Estado e os partidos políticos tradicionais, queremos deixar claro que não partilhamos de propostas como: assembléia constituinte, assentos reservados aos povos indígenas e nem Estado Plurinacional; todas essas idéias visam suprimir nosso povo Mapuche”.
Os presos políticos colocam que, hoje, o velho Estado com todas as suas instituições tenta aplastar a luta popular, para eles, o Ministério do Interior “manipula politicamente as instituições para perseguir o povo Mapuche e os movimentos sociais em geral.”
Já, os Tribunais, aplicam sentenças abusivas quando se trata da luta Mapuche, sob ordens do governo e dos interesses econômicos da grande burguesia e do latifúndio, pois, “como povos Mapuche, sofremos condenações antecipadas antes do julgamento, em conluio com os meios de comunicação, encarregados de deslegitimar a justa demanda pela recuperação do território.”
O Ministério Público, juntamente com a Polícia, com o PDI (polícia investigativa) e com os organismos de inteligência, para os Mapuche, assediam, perseguem, torturam, fabricam evidências e manipulam provas.
As Organizações nacionais e regionais de Direitos Humanos, afirmam eles, limitam-se a cumprir funções porque dependem do Estado, ao passo que são informantes, o que é totalmente contraditório à declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas.
Já, a Polícia de custódia/prisional (Gendarmería), responsável pela prisão dos Mapuche em questão, abusam e torturam, negam acesso à cultura espiritual Mapuche, violando suas próprias leis e tratados internacionais, que respaldam nosso povo (Convenção 169 da OIT).
Sobre a Defensoria Penal Mapuche, eles dizem que a agência foi criada pelo Estado, para demonstrar que o Mapuche teria acesso à defesa e à justiça. “No entanto, é uma agência à disposição do Estado para condenar e aprisionar o Mapuche.”
Eles advertem que essas mesmas instituições são as que hoje matam, torturam, aprisionam e reprimem o movimento social.
“Como combatentes Mapuche dignos, é contraditório, para dizer o mínimo. Não queremos integrar um Estado que há anos nos condena à pobreza e ao extermínio. Seria trair aqueles que deram a vida pela liberdade do nosso povo. Nós, as comunidades em resistência e os presos políticos Mapuche não estamos dispostos a negociar o sangue de nossos irmãos mortos pelo Estado Chileno”, concluem os revolucionários Mapuche.
Protesto Mapuche. Foto: Banco de Dados AND