Quatro presos políticos mapuche estão em greve de fome desde o dia 7 de junho de 2017. Eles protestam contra a “prisão preventiva” que já dura mais de um ano e três meses. Eles são acusados de empreender um “incêndio terrorista” em um processo repleto de incoerências lógicas e jurídicas.
Os grevistas são lonko Alfredo Tralcal Coche, 45 anos; e os irmãos Ariel Alexis Trangol Galindo, 29 anos; Benito Rubén Trangol Galindo, 33 anos; e Pablo Iván Trangol Galindo, de 22 anos.
A greve de fome, segundo os mapuche, é por tempo indeterminado e tem como exigência o fim da “prisão preventiva”, do enquadramento do caso na “lei antiterrorismo” e contra a utilização das “testemunhas sem rosto”. Segundo a advogada Pamela Nahuelcheo, os grevistas, presos na cadeia de Temuco, estão em grave situação de saúde. Lonko Alfredo Tralcal em especial foi hospitalizado com hemorragia interna no dia 27/09, enquanto outros três (que são irmãos) encontram-se em grave estado de saúde.
Abusos e incoerências
Os mapuche são acusados de um incêndio contra uma igreja em Padre Las Casas, no setor Niágara, no dia 9 de junho de 2016. O incêndio foi produzido por um grupo de encapuzados.
No entanto, os mapuche, em comunicado público emitido em julho, denunciam uma série de incoerências na acusação. “Nossa detenção ocorreu a mais de 10 quilômetros do local [onde ocorreu o incêndio], sob o pretexto de um controle de identidade, e os únicos elementos que encontraram conosco foram nossas ferramentas próprias do trabalho da terra”.
Eles afirmam ainda que o processo se trata de uma perseguição: “Declaramos que este processo obedece a uma investida judicial dos promotores anti-mapuche que operam a favor dos poderes com interesses em nosso wallmapu: florestais, hidreléticas, colonos e igreja, e que nosso encarceramento se dá no desespero por incriminar-nos pela violência que o Estado chileno implantou desde o momento que decidiu ocupar militarmente nossa Nação-Mapuche”.
Os mapuche, provenientes de Araucanía, estão detidos sem provas e em condições assinaladas como irregulares, abusivas e desproporcionais, denunciou a defesa.
O velho Estado chileno chegou a enquadrar o caso na absurda “lei antiterrorismo”. As acusações sustentam-se ainda em “testemunhas sem rosto”, recurso absolutamente inconsistente herdado do regime de Pinochet.
Vitórias e lutas
Após intensa mobilização popular e pela vitoriosa luta dos presos políticos na greve de fome como último recurso, a gerência reacionária de Michelle Bachelet retirou do caso o enquadramento da “lei antiterrorismo”. Os mapuche, no entanto, seguem presos.
A luta dos mapuche nas masmorras do velho Estado mobilizou em solidariedade setores democráticos e movimentos populares e combativos.
Estudantes da Universidade da Fronteira (Ufro), em Temuco, tomou um dos edifícios da instituição em apoio aos presos políticos mapuche. Os estudantes lançam também protestos contra a Operação “Huracán”. Em nota publicada no dia 26/09, eles denunciam as prisões como políticas e declaram apoio.
A Frente de Estudantes Revolucionária e Popular (FERP – Chile) também se pronunciou, destacando que a repressão e a Operação “Huracán” são respostas desesperadas do velho Estado ante o avanço das retomadas do povo mapuche.
“Convocamos urgentemente ações em solidariedade à luta mapuche, faz-se necessário que respondamos com ainda mais força aos embates do velho Estado, unindo a luta dos pobres chilenos e mapuche pela derrocada deste Estado latifundiário-burocrático e pela revolução de nova democracia.”, disparou em nota, no dia 24/09.
O próprio povo mapuche avançou nas ações combativas, inclusive ações de sabotagem contra empresas monopolistas que atuam na região.
Em Araucanía, os mapuche desatam uma feroz luta por expulsar essas empresas de seus territórios que, no início do ano, foram ocupados pelas Forças Armadas do velho Estado chileno.
Em agosto e setembro, ao menos 18 caminhões pertencentes à empresa de transportes Calafquén foram destruídos e incendiados. A empresa Sotraser, prestadora de empresas florestais, também teve 29 caminhões destruídos por sua atuação nas terras mapuche.
Operação ‘Huracán’
Para intimidar o avanço do povo mapuche, a Direção de Inteligência de Carabineros desatou a Operação “Huracán”, no dia 23/09. O objetivo declarado foi deter dirigentes da luta mapuche na região de Araucanía incrementando a injusta repressão.
O porta-voz da Coordenadoria Arauco Malleco, Héctor Llaitul, foi detido por efetivos policiais em sua casa, no setor de Collao, em Concepción. Segundo relatou sua filha, Javiera Llaitul, a detenção foi ilegal.
“Sofremos uma invasão, estávamos em nossa casa e os carabineros entraram aqui violentamente, sem ordem, nada. Nos empurraram, me pegaram, a minha mãe também e levaram o meu pai em direção a Temuco.”, denunciou.
Ativistas e mapuche cortam rodovia em Lonquimay, no fim de setembro, contra a repressão