China: Milhares de operários se rebelam por melhores condições de trabalho e pagamento de salários

China: Milhares de operários se rebelam por melhores condições de trabalho e pagamento de salários

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Operários em Zhengzhou se revoltaram contra superexploração. Foto: Capturas de vídeo

Uma rebelião operária sacudiu a província de Zhengzhou, na China, nos dias 22 e 23 de novembro. Milhares de operários de uma fábrica de iPhones protestaram exigindo o pagamento integral do salário por parte da empresa taiwanesa Foxconn e também pelo fim das terríveis condições de vida e de trabalho impostas pelo Estado social-fascista chinês, reforçadas através das medidas de “Covid Zero”. Os operários entoaram palavras de ordem como Abaixo a Foxconn! e Nos pague!, entraram em confronto com a polícia e se negaram a encerrar a rebelião até que suas demandas fossem atendidas. Mais de 200 mil operários são explorados atualmente pela Foxconn.

A rebelião foi iniciada na noite de 22/11, quando milhares de operários, revoltados com a falta do pagamento dos bônus salariais, se reuniram do lado de fora de seus dormitórios e confrontaram os seguranças da fábrica. Já nos primeiros momentos do protesto, a polícia foi acionada e reprimiu os trabalhadores com bastões e sprays de pimenta. Os operários, por sua vez, se armaram de pedras e barras de ferro para defenderem-se da agressão arbitrária das tropas da repressão do Estado imperialista chinês. Vídeos mostram as tropas da reação encurraladas e recuando de uma multidão de operários armados de barras de ferro, madeiras e outros objetos. Durante a justa rebelião, carros da polícia foram virados de cabeça para baixo e as barreiras utilizadas para isolar trabalhadores suspeitos de estarem com Covid-19 foram derrubadas e utilizadas como escudo pelos trabalhadores.

Os protestos continuaram até a quarta-feira de manhã, com mais e mais operários somando-se à rebelião. Apesar da revolta ter sido iniciada principalmente por trabalhadores recém-contratados, operários veteranos somaram-se aos jovens trabalhadores em demonstração de solidariedade. “Se hoje eu ficar calado sobre o sofrimento dos outros, quem se levantará por mim amanhã?”, declarou um operário ao monopólio de imprensa CNN

Trabalhadores usaram barreiras de isolamento como escudo e destruíram câmeras de vigilância. Foto: Capturas de tela/Twitter

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Mentiras e enganações: superexploração na China

Os trabalhadores denunciaram que a empresa alterou as condições para pagamento salariais após os operários assinarem os contratos. Um operário relatou que abandonou seu emprego em outra fábrica ao ver um anúncio da Foxconn que prometia um bônus de 25 mil yuan (R$ 18.558,68) após dois meses de trabalho. Após ser contratado, lhe foi dito que o bônus só viria depois de mais dois meses de trabalho adicional sob regime de salário reduzido. Um outro documento da empresa imperialista prometia um bônus de 3 mil yuans (R$ 2.227,03) após um mês de trabalho, com mais 3 mil a serem pagos depois de 60 dias. Contudo, os operários que foram atraídos pelo contrato mentiroso da empresa descobriram que a primeira gratificação só seria paga no dia 15 de março, enquanto a segunda só seria paga em maio.

Não é a primeira vez que a Foxconn é acusada de enganar as massas operárias na China, submetidas a um regime de superexploração. Mais da metade dos trabalhadores da fábrica em 2019 eram terceirizados que trabalhavam sob regime de contratos temporários. Os trabalhadores da fábrica cumpriam mais de 100 horas de hora extra e o salário, à época, era de 2.100 yuan (R$ 1.558), insuficiente para sobreviver na província de Zhengzhou.

No dia 23/11, desesperada pelas proporções que a rebelião operária tomou, os grandes burgueses ofereceram um pagamento de 10 mil yuan (R$ 7.423,44) para os operários que abandonassem a fábrica e deixassem a cidade de Zhengzhou. Segundo os burgueses, um pagamento de 8 mil yuan (R$ 5.938,75) seria dado para aqueles que deixassem a Foxconn, enquanto mais 2 mil yuan (R$ 1.484,69) seria pago para os que concordam em embarcar imediatamente em um ônibus para fora do local.

Foxconn: os lucros frutos da superexploração

A Foxconn é a maior empresa do setor privado na China. Atualmente, a empresa monopolista possui ao menos 30 fábricas e institutos de pesquisa, nos quais explora mais de um milhão de operários. No terceiro trimestre de 2022, a Foxconn aumentou seu lucro em 5%. Como resultado, o rendimento foi de 38,8 bilhões de dólares taiwaneses (R$ 6,5 trilhões de reais).

A Foxconn é conhecida principalmente como montadora de iPhones para a Apple Inc. Mas esta última responde apenas por cerca de metade de sua receita. Quase não existe uma marca importante de hardware no mundo que não envolva a Foxconn – Sony, Dell, Xiaomi, HP, Nintendo e Cisco estão todas na sua variada lista de subcontratantes.

Em 2012, operários da Foxconn mobilizaram grandes greves contra as extenuantes jornadas de trabalho, que adentram as madrugadas, e a humilhação a que eram submetidos pelos patrões. Na época, os operários denunciavam que a cada duas horas extras eles só recebiam o equivalente a oito reais. A polícia do Estado social-fascista chinês também foi utilizada nesta época para reprimir brutalmente o movimento operário.

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Estado social-fascista tenta impedir os operários de lutar impondo medidas de isolamento social

A rebelião operária na Foxconn ocorreu após quase dois meses de aumento da superexploração dos operários sob um regime de “ciclo fechado”. Imposto sobre a base do programa “Covid Zero” de Xi Jinping, a fábrica forçou operários a viver dentro das instalações da fábrica, aumentando a carga de trabalho e diminuindo os custos para a manutenção da vida dos trabalhadores. No novo regime, que entrou em vigor no final de outubro, os operários vivem confinados na fábrica, impedidos até mesmo de visitarem o centro da cidade de Zhengzhou, e podem ser chamados a qualquer momento para voltar ao trabalho a fim de baterem metas de produção. 

Diversos trabalhadores relataram que têm vivido sob péssimas condições de higiene e saúde, não sabendo nem mesmo quando a comida será servida, se é que será. Outros relatam que, quando a comida é finalmente servida, eles são forçados a comerem no dormitório, não podendo usar os espaços mais coletivos da fábrica para a refeição. A medida começou a vigorar no mesmo momento em que aumentaram os índices de casos positivos entre os trabalhadores da fábrica.

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Além da superexploração imposta aos trabalhadores, o regime de “ciclo fechado” manteve as massas operárias da Foxconn sob ostensiva vigilância, numa clara tentativa de evitar reuniões, assembleias ou quaisquer outros tipos de atividades de mobilização do movimento operário, que pudessem levar à uma sublevação por melhores condições de trabalho e direitos de organização e luta. Mesmo assim, os operários de Zhengzhou contornaram o aparato de repressão fascista e insurgiram em rebelião na defesa de seus direitos mais básicos. 

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