O advogado de Mauro Cid, Cezar Bittencourt, disse que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro vai confirmar a participação de Braga Netto na trama golpista da extrema-direita em 2022, em depoimento hoje no Supremo Tribunal Federal (STF). As informações são da jornalista Camila Bomfim, do jornal monopolista G1.
Ainda não se sabe exatamente qual contribuição na trama golpista será revelada. Braga Netto é suspeito de uma série de atividades, como articular reuniões de Jair Bolsonaro com os ex-comandantes das Forças Armadas para apresentação da minuta do golpe e de estar por trás do plano para assassinar Luiz Inácio, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, revelado essa semana. As investigações apontam que o plano foi discutido na residência do general da reserva.
Ainda de acordo com as investigações, Braga Netto participou do encontro junto com Mauro Cid e os majores Hélio Ferreira Lima e Rafael de Oliveira, que foram presos nesta terça-feira (19/11). O esquema buscava implementar um Gabinete de Crise após o assassinato, chefiado por Braga Netto e Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
Além de Braga Netto, a PF indiciará dezenas de pessoas, segundo informações reveladas à colunista do jornal monopolista O Globo, Miriam Leitão. Até agora, os nomes revelados são o de Jair Bolsonaro, os generais Heleno e Braga Netto, o delegado Alexandre Ramagem e o presidente do PL Valdemar Costa Neto.
Os envolvidos estão tentando se desvincular dos episódios. Braga Netto tem falado com amigos que “não organizou reunião nenhuma”. Outros, ainda não indiciados, mas próximos de Bolsonaro na época da trama golpista, como o general Luiz Eduardo Ramos (ex-secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência e kid preto), também tem tentado se desvencilhar de possíveis acusações.
Já os generais da ativa do Exército reacionário dizem que veem o episódio com “surpresa”, “decepção” e “tristeza”. Para eles, o ocorrido é um “estrago terrível” à imagem das Forças Armadas, principalmente o Exército”. A declaração foi dada à colunista Bela Megale, também d’O Globo.
Acontece que o Exército sabia da trama golpista e mesmo o nome de vários dos envolvidos. O próprio Braga Netto organizou uma reunião do Alto Comando do Exército para discutir uma possível implementação de Estado de Defesa, em que a posição contrária à ruptura foi vencida por maioria simples, graças à preocupação dos generais de gerar uma indisposição severa com os ianques. O Estados Unidos se posicionou, por meio de agentes enviados, contra um golpe no Brasil naquele momento.
As informações trazida à tona essa semana revelam também que a maioria do Alto Comando não era contra o golpe, e sim estava na “zona de conforto”, sendo, assim, mais suscetíveis a vetar a ruptura por conta da situação internacional. De acordo com mensagens trocadas entre o general Mário Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, “cinco (generais) não querem (a ruptura), três querem muito e os outros, zona de conforto”. O Alto Comando do Exército reacionário é formato por dezesseis generais, dentre eles o comandante da força.
Também ficou evidente que a trama golpista não foi articulada somente por generais da reserva, como o ACE buscou insinuar em algumas declarações. Por trás dos galinhas verdes, havia um forte núcleo militarizado de oficiais da ativa e da reserva, muitos das Forças Especiais, ligados a alguns grandes burgueses e latifundiários.