Ciência da Amazônia repudia Ratanabá e outros inventos

Semanas atrás o Projeto Amazônia Revelada e a SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira), ambos compostos por professores acadêmicos/estudiosos de universidades divulgaram Nota de Repúdio contra o Dakila por prejudicar os conhecimentos autênticos da Arqueologia e dos povos da região.
Urandir Fernandes, pseuocientista dono da Dakila Arqueologia. Foto: Reprodução

Ciência da Amazônia repudia Ratanabá e outros inventos

Semanas atrás o Projeto Amazônia Revelada e a SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira), ambos compostos por professores acadêmicos/estudiosos de universidades divulgaram Nota de Repúdio contra o Dakila por prejudicar os conhecimentos autênticos da Arqueologia e dos povos da região.

O grupo Dakila, dirigido por Urandir Fernandes, criador do ET Bilu (engodo desmascarado na TV anos atrás) e que agora inventou a existência de ruínas de uma suposta cidade amazônica antiga, chamada Ratanabá, tornando-a famosa por propaganda intensiva na internet, acaba de ser novamente desmentido por cientistas. Desta vez dentro da própria área amazônica.

Semanas atrás o Projeto Amazônia Revelada e a SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira), ambos compostos por professores acadêmicos/estudiosos de universidades divulgaram Nota de Repúdio contra o Dakila por prejudicar os conhecimentos autênticos da Arqueologia e dos povos da região.

Dimensões impossíveis

A Nota, que esclarece as anomalias cometidas por Urandir (OBS de AND: Sob definição de ilegalidade, sua prisão inclusive já foi recomendada pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) diz o seguinte:           

“A coordenação do Amazônia Revelada, projeto de pesquisa que visa registrar e ajudar a proteger o patrimônio biocultural pertencente aos Povos da Floresta da região, e a Sociedade de Arqueologia Brasileira, sociedade científica membro da SBPC que há mais de 40 anos atua pela proteção e divulgação do patrimônio arqueológico, vêm a público denunciar a atuação danosa à ciência do grupo empresarial Dakila Pesquisas, liderado pelo Sr. Urandir Fernandes de Oliveira.  

Este grupo vem há anos atuando nas redes sociais divulgando resultados de pseudo-pesquisas, referindo-se a civilizações e cidades perdidas na Amazônia, alegando datações de milhões de anos com cidades de dimensões impossíveis, sem qualquer comprovação científica e fazendo uso de imagens de locais e estruturas que nada tem a ver com os supostos novos achados arqueológicos.”

Antes dos humanos? Charlatanismo?

“A suposta antiga capital desta fictícia civilização perdida, por eles denominada de ‘Ratanabá’, de acordo com suas declarações na mídia, teria existido há 350, 450 ou até 600 milhões de anos, enquanto sabemos que os primeiros humanos (Homo Sapiens) surgiram na África apenas entre 300 e 250 mil anos atrás.  

Para além do charlatanismo científico, o discurso da existência de civilizações antigas desaparecidas há milhões de anos visam claramente invisibilizar e minar os dados consistentes que vêm sendo divulgados pela comunidade científica nos últimos anos que demonstram que os povos indígenas da Amazônia nos deixaram um legado de ao menos 12 mil anos de história contínua de manejo e preservação da floresta.”

Domesticação de plantas

“Hoje sabemos que a Amazônia foi um dos importantes centros independentes de domesticação de plantas no planeta e um dos primeiros centros produtores de cerâmica no Novo Mundo.

A arqueologia mostra que os territórios e conhecimentos tradicionais dos Povos da Floresta devem ser respeitados e reconhecidos enquanto tecnologias bioculturais que podem orientar maneiras ancestrais e novas de se ocupar a floresta e se pensar sistemas integrados de uso da terra que mantenham a floresta em pé, necessidade premente para o planeta diante das crises climáticas atuais.”

Desvia a atenção da realidade

“O discurso do grupo Dakila Pesquisas desvia a atenção do público do legado real deixado pelos Povos da Floresta para um passado fictício que nada tem a ver com o presente.  

Apesar das narrativas bastante fantasiosas e racistas – por buscarem desvincular o patrimônio arqueológico dos povos indígenas e tradicionais –, este grupo, inserido no que denominam de Ecossistema Dakila, vem atraindo um grande público de seguidores e replicadores desta pseudociência nas mídias sociais atingindo proporções alarmantes.”

Minério e turismo a favor do Marco Temporal

“Este ‘ecossistema’ conta com ramos empresariais ligados à mineração e ao turismo, inclusive, e o grupo Dakila Pesquisas chegou a comemorar em suas redes a promulgação da Lei 14.701/2023, a chamada ‘Lei do Marco Temporal’ (OBS de AND: Lei do Genocídio Indígena, conforme dizem as tribos).”

“(Tal Lei), dentre outras inconstitucionalidades, permite a exploração econômica de terras indígenas. 

Nos preocupa a atuação deste grupo também em suas tentativas de obterem reconhecimento junto aos órgãos de licenciamento ambiental, visto que já foram encaminhadas 3 solicitações de autorização ao IPHAN para realizar pesquisas na região onde acreditam estar a fantasiosa Ratanabá.” 

Alerta para métodos ardilosos   

“Repudiamos também tentativas recentes do grupo Dakila de associação indevida a centros científico-acadêmicos buscando legitimação junto a autoridades institucionais e usando de métodos ardilosos para associarem sua imagem à de instituições científicas renomadas.  

Assim sendo, no âmbito da 76ª Reunião Anual da SBPC (Belém, julho de 2024), sociedade que

representa a ciência praticada no Brasil com ética e responsabilidade, achamos importante alertar a comunidade científica como um todo e buscar seu apoio para melhor combatermos as ameaças que representa a alarmante e crescente atuação do grupo Dakila Pesquisas no país.” 

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