Eram cerca de 2h30 da madrugada do dia 26 de agosto quando, escondidos, cerca de 50 pistoleiros invadiram a Ocupação Gregório Bezerra II, em Jaguaruana, Ceará, para expulsar com agressões e atos de terrorismo as famílias que haviam retomado o latifúndio fazenda Baquit no dia anterior.
“No clima de terror instaurado, trabalhadores e crianças tiveram os punhos de suas redes cortados, sofreram ameaças, agressões, e por muito pouco não houve derramamento de sangue. Um menininho de 7 anos passou mal e foi levado com pressa em busca de socorros médicos”, afirma uma nota divulgada pela ocupação.
Os pistoleiros continuam na área. “Invadiram de madrugada e alguns continuam aqui até agora. É possível ver ali ao fundo”, disse Thalles, da coordenação da Organização Popular (OPA), em vídeo enviado ao AND na manhã do dia 26 de agosto.
Mesmo com o clima de terror instaurado, as famílias se recusam a sair. “Não vamos sair, essa terra é nossa, a ocupação é total”, disse ele à reportagem. Pela nota pública, as famílias prometem que “enfrentaremos tudo o que for necessário” e destacam que “medo, só o de voltar à escravidão de antes”.
Vingança latifundiária
Horas antes da invasão dos pistoleiros, as famílias da Comunidade Gregório Bezerra II, ameaças desde o dia 14 de julho pela presença dos pistoleiros na região, deram um importante passo na sua luta ao retomar o controle “total e definitivo do território” do latifúndio Baquit, conforme exposto em uma nota.
Em vídeo repercutido nas redes sociais, os camponeses entram na área retomada com motos, camionetes e a pé, em clima de celebração pelo avanço da ocupação mesmo no clima tenso de enfrentamento à pistolagem. “Lutar, correndo o risco de morrer, ou continuar vivendo na escravidao? Nós decidimos lutar”, disse o camponês Gregório em uma nota da OPA. “Nós, agricultores, sem a terra não somos livres”.
A investida pistoleira, portanto, ocorre como uma retaliação dos latifundiários contra a luta camponesa.
O latifúndio Baquit pertence à família do político Osmar Diógenes Baquit (PDT). Os latifundiários da região têm pavor da ocupação daquele território porque temem que a vitória da ocupação, como ocorreu ontem, possa inspirar a luta de outros camponeses da área.
Apoio popular
A região conta com a atuação de latifundiários e bandos pistoleiros da extrema-direita. Apesar desses crimes graves, o governo, ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) tanto na gestão do Estado quanto na Prefeitura, nada faz. De acordo com denúncias recentes da OPA ao AND, “por vezes, tem até aliança [do governo e prefeitura] com esses grandes fazendeiros”.
Por isso, as famílias exortam por apoio ao acampamento. “Nesse momento, precisamos de solidariedade, como já temos conseguido”, diz Thalles. Foi divulgado um pix para apoiar os camponeses da região, de número 88996450959.